Se o mundo precisa de um pouco de otimismo, o novo disco da banda Os Paralamas do Sucesso, Sinais do Sim, começa nessa sintonia. Logo na primeira faixa, que dá nome ao trabalho – com letra de Herbert Vianna e música dele, Bi Ribeiro e João Barone -, Herbert canta: “Eu/Sei que teu coração é meu/Que algo em mim te convenceu/De que o melhor está por vir”. Desde o último álbum de estúdio do grupo lançado em 2009, o Brasil Afora, muita água correu por baixo da ponte – no Brasil e no planeta. Para o grupo, esse intervalo entre os dois discos foi um período também de revisitar antigos sucessos no show de 30 anos de carreira e ainda num projeto em formato power trio.
Abrir o disco dessa forma não foi algo tão consciente assim, admite o trio, em entrevista à reportagem, no estúdio do baterista João Barone, no Rio, mesmo porque o modus operandi deles durante a seleção de músicas para um álbum segue um caminho mais solto, orgânico. “Quando a gente viu, essa música (a Sinais do Sim) estava mais representativa do que a gente estava fazendo. É também o trio ali na sua essência, e ela meio que explica um pouco o resto do trabalho, um pouco do conceito de a gente estar ainda querendo assunto para gravar o 13º disco depois de 34 anos de estrada”, explica Barone. “Essa ideia meio otimista é um contraponto do momento em que a gente vive atualmente tanto no Brasil quanto no mundo. A gente está vendo um monte de retrocesso. E até no Brasil mesmo essa situação toda seja talvez uma depuração pela qual a gente esteja passando para poder se sair melhor do outro lado.”
Sinais do Sim chega às lojas nesta sexta, 4. E essa atmosfera na abertura do disco não aponta necessariamente a toada temática que o álbum segue. Pelo contrário. Na música Itaquaquecetuba, por exemplo, Herbert ativa suas memórias de criança. “Na minha infância, eu morava em Brasília e, quando eu tinha 7 anos, meu pai, que era da Força Aérea, foi transferido. Aí a gente tinha apostas da nossa turminha, de quem conseguia falar o nome da cidade para a qual a gente foi: Guaratinguetá. Na escola, a professora falou do nome de uma cidade mais longo que a nossa: Itaquaquecetuba. Isso soava como um sino na minha lembrança”, conta Herbert, vocalista e guitarrista da banda, que assina a faixa com o baixista Bi Ribeiro e Barone.
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Há também as canções românticas – um traço forte do letrista Herbert em toda a obra da banda – como Teu Olhar e Sempre Assim, numa levada reggae, que fala do amor, mas também soa como um lamento, fechando o disco. Aliás, das 11 faixas de Sinais do Sim, três delas não são assinadas pelos Paralamas. Prova de que Herbert continua a compor intensamente. E que o trio ainda acolhe os compositores de fora. “Essas músicas que não são nossas, mas, quando a gente grava, são verdadeiras para nós. A gente incorpora”, diz Bi. Como a ótima Medo do Medo, da rapper portuguesa Capicua em parceria com João Ruas. Apresentada a eles por Hermano Vianna, irmão de Herbert, a canção, originalmente um rap, ganhou novo arranjo. “Ouve o que te digo/Vou te contar um segredo/É muito lucrativo/Que o mundo tenha medo”, diz um trecho
“Fala do oportunismo em cima do medo. Na hora em que a sociedade não tiver medo das coisas, as coisas vão mudar, porque você vai contestar tudo. A gente não quer esse oportunismo, não quer a corrupção, a mentira como arma política”, comenta Barone. A música se mantém contundente na versão dos Paralamas, e a sonoridade ganha reforço dos efeitos de Kassin, com um desfecho que remete ao Radiohead.
De Nando Reis, eles receberam Não Posso Mais, em voz e violão, após o ex-Titã saber que a banda estava se dedicando ao novo trabalho. “Ele a entregou num formato bastante embrionário”, afirma Barone. E foi adaptada também ao formato ‘paralâmico’. “O Nando é muito amigo da gente, e ele é uma referência como uma inspiração e um talento que causam admiração. E ele, por conta própria, trazer uma canção foi uma alegria grande”, diz Herbert
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É sabido que Herbert também gosta de cantar em outros idiomas. No novo trabalho, em inglês, ele interpreta a bela música Blow The Wind, de sua autoria, “um pedido de socorro, uma tentativa de oração”, explica o próprio vocalista. E, em castelhano, em Cuando Pase el Temblor, de Gustavo Cerati, um dos grandes sucessos da banda argentina Soda Stereo, com uma releitura diferente da original. É a segunda música da trupe argentina que os Paralamas gravam.
Sinais do Sim tem produção de Mario Caldato Jr., com quem eles nunca tinham trabalhado. O brasileiro Caldato já trabalhou com grandes nomes da música, de Nação Zumbi a Beastie Boys. A sonoridade dos Paralamas foi preservada no disco – no rock, nas baladas, na formação em trio, na presença dos metais -, mas eles queriam esse olhar de fora. “A gente gravou o disco no Brasil no início do ano, no Rio. Nessa época, Caldato estava se mudando pra Los Angeles. Ele mixou o disco no estúdio dele lá, o Bi acompanhou o começo da mixagem lá, e a gente meio que deu uma carta branca para ele experimentar, e potencializar tudo o que ele achasse de bom para as músicas depois desse processo de gravar”, conta Barone. “Ele aprontou umas surpresas ótimas para a gente, fez umas percussões, alguns vocais. E outra coisa que foi uma surpresa incrível foi que ele chamou o Rodrigo Amarante, que fez uns vocais, botou umas vozes meio misteriosas. Ele pediu para não ser creditado, mas a gente agradeceu, porque a gente adorou.”
Sinais do Sim será mote de uma nova turnê, que tem início em 30 de setembro, em Curitiba, e passará por São Paulo no dia 7 de outubro. “Se a gente quisesse fazer só shows com músicas conhecidas, a gente faria”, comenta Barone. “Mas a gente tem uma certa ambição artística de tentar vir com alguma coisa nova que seja significativa ao menos para a gente. Como é o caso de agora “
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