Aqui na Redação Integrada, sou conhecida por ser pé-frio. Também não é para menos, já que meu retrospecto em estádios de futebol não é lá muito positivo. Quer dizer, para os times de Santa Cruz, Galo e Avenida, eu até costumo dar sorte: estive na virada do Santa Cruz sobre o Pelotas, nos Plátanos, e na classificação do Periquito contra o Passo Fundo, nos Eucaliptos. Agora, quando o assunto é Inter, já não posso dizer o mesmo.
Apesar de gostar muito de assistir futebol, a primeira vez que fui ao Beira-Rio em dia de jogo foi no ano passado, aos 28 anos. Inter e Corinthians, dois a dois, com direito a gol do Colorado nos acréscimos, pra me matar do coração. Vamos concordar que um empate não é tão ruim assim, né? Foi esse espírito de esperança que me fez voltar ao Gigante em março deste ano, no primeiro Gre-Nal da semifinal do Gauchão.
Para quem não lembra o resultado desse jogo, rememoro esse dia trágico: três a zero para o Tricolor, uma redundante goleada que me traumatizou a ponto de nem ter mais vontade de voltar ao Beira-Rio. E foi daí que surgiu a minha fama de pé-frio.
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Sou colorada devido ao “incentivo” do meu pai. Explico as aspas contando uma história que já está firmada no nosso imaginário familiar. Foi um episódio engraçado, mas que me faz lembrar o quanto sempre tive liberdade para me expressar dentro de casa e fazer minhas próprias escolhas – meu pai e minha mãe só me abriam os olhos para os prós e contras de cada decisão.
Mas vamos lá. Por volta dos meus 6 anos de idade, quase na virada da década de 1990 para os anos 2000, o Grêmio ganhava tudo. Era muito chato. No contraponto do meu pai, que torcia para o Inter, estava o meu avô, que era gremista. Levando em conta todo esse contexto, eu fiquei balançada, não posso negar. Foram dias pensando na possibilidade de desapontar meu pai e ceder à pressão do vô João e, também, enfim comemorar algum título.
Afinal, decidi: queria ser gremista. Me preparei muito para ter essa conversa importante com meu pai. Sabia que não seria nada fácil. Discursei em frente ao espelho para melhorar minha performance, escolhi o melhor momento e fui. Lembro até hoje da tensão que vivi naquele momento. Sentimento semelhante talvez tenha experimentado quando precisei contar que havia dado o primeiro beijo.
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O diálogo aconteceu no local de trabalho do meu pai, na época. Bem no centro da cidade, ficava ao lado de uma sorveteria, um dos meus lugares favoritos naquele tempo, por óbvio.
– Pai, preciso te dizer uma coisa. Quero ser gremista.
– Tudo bem.
– Então tá.
– Só tem uma coisa: tu vais precisar achar outra pessoa para te pagar sorvete.
O preço era muito alto. Melhor continuar sendo colorada.
E assim sou até hoje, feliz, sofredora, com orgulho.
A uma semana do Dia dos Pais, lembrar essa história me faz pensar no quanto o futebol é um elo na nossa relação. É claro que está longe de ser o mais importante, mas não estar sempre com ele aos domingos, em frente à televisão, é uma das coisas que mais me fazem sentir saudades. Ah, também faz tempo que não ganho um sorvete, hein? Talvez tenha sido essa escolha que gelou meu pé.
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