Quem também andava monitorando com preocupação as idas e vindas da nuvem de gafanhotos na Argentina era a Ágatha. A caçula temia uma invasão ao nosso quintal, onde, segundo a traquinas, as bergamoteiras e as laranjeiras, além da horta que ela mesma vem cultivando, ficariam à mercê da fome insaciável dos insetos. Também se preocupava diante do desencontro de orientações que a nuvem da gafanhotos poderia ocasionar em meio à pandemia:
– Dizem que temos que manter as janelas abertas por causa do coronavírus. Mas, se os gafanhotos vierem, teremos que fechar as janelas, para que não entrem em casa – e suspirou. – Já pensou, pai? Nossas paredes, os móveis e as camas cheios desses bichinhos…
Felizmente, os ataques aéreos contra os gafanhotos realizados pelos hermanos, e a chegada do frio e da chuva, manterão os insetos longe do Estado e, para alívio da Ágatha, do nosso quintal. Ao contrário do que os mais pessimistas imaginavam, os gafanhotos não vinham para reeditar as sete pragas do Egito, tampouco serviriam de batedores aos Cavaleiros do Apocalipse. A nuvem de gafanhotos, ao que tudo indica, é um assunto superado.
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Já a pandemia, não. Ainda que a vida pareça, gradativamente, estar voltando ao normal, ainda teremos de manter os cuidados especiais com a higiene, o distanciamento social e as máscaras no rosto por um longo tempo. Paciência. Assim como nuvens de gafanhotos, pandemias são eventos cíclicos na história da humanidade, que vêm e vão. É tolice negar os números: sabe-se que os custos em vidas e econômicos são aterradores. Mas não é, contudo, o fim do mundo. Vai passar e, quanto mais cuidados tivermos, mais rápido passará.
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E é com base nessa crença que vamos encerrando por aqui as edições da coluna Isolamento em Família. Creio que ao longo de tantos textos, publicados neste espaço desde o início da pandemia, o recado foi dado: é possível entreter as crianças e mantê-las a salvo do vírus, em casa. E quem precisa sair não pode negligenciar os cuidados, seja por si mesmo, pelas crianças e por vovôs e vovós, integrantes do grupo de risco. Para quem gostou destas leituras, vale destacar que continuarei com minha coluna de fim de semana na contracapa do Magazine.
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Mas ainda quero, antes de encerrar este espaço, dar um recado à moçada que vem se adaptado às aulas EaD. Têm surgido muitas queixas de alunos que, mesmo com acesso a tecnologias, alegam dificuldades para aprender sem as explicações mastigadinhas de sala de aula. Óbvio que não é a mesma coisa; porém, é o que há para o momento.
Creio que mais produtivo do que se queixar das dificuldades de compreender o conteúdo é correr atrás e dirimir as dúvidas por esforço próprio, em sites confiáveis ou mesmo em tutoriais do YouTube. É preciso se virar – e isso também é aprendizado, inclusive para a vida adulta. Até os gafanhotos nos mostraram que é preciso proatividade – foi necessário colocar os aviões no ar, não apenas esperar que o frio e a chuva dessem uma ajudinha.
Garotada, o futuro que vem logo ali na frente, depois da pandemia, cobrará de vocês este esforço.
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