Luis Ferreira

Os Fabelmans e a realidade

Em inglês, fabel significa “fábula”. No filme Os Fabelmans, em cartaz, Steven Spielberg resgata memórias da infância e adolescência para contar como se tornou um cineasta. E reconstrói a trajetória por meio da família Fabelman, personagens fictícios só na denominação. Ele é Sam, o protagonista que, ainda criança, descobre-se apaixonado por filmes.

O pai de Sammy acompanha de perto as tentativas caseiras de fazer cinema, mas não sem ressalvas. Se por um lado admira a engenhosidade do filho, por outro preocupa-lhe a facilidade dele em viajar a mundos imaginários, afastar-se do chão firme da realidade. Burt, o pai, não dá grande valor para ficções.

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O problema é que a vida dos Fabelmans, harmoniosa na aparência, não passa de ilusão, de uma peça teatral conduzida por atores esforçados. E quem mostrará “a realidade” é Sam. Ao gravar e editar imagens de um passeio em família, descobre um segredo capaz de abalar tudo o que julgava estável. Por ironia, o hobby escapista (aos olhos do pai) revelará a fragilidade dos alicerces da casa.

Mas não há nada extraordinário nos Fabelmans além do fato de serem pessoas comuns, isto é: que criam a realidade, ou ao menos parte dela, com base em ficções. Assim como Burt Fabelman tinha uma visão idealizada da vida, apesar do esforço racional para separar ilusão e verdade, todos temos fantasias que levamos a sério. O que pode ser bom ou ruim. (Alguns delírios coletivos já tiveram consequências desastrosas.)

O equívoco é supor que exista uma fronteira concreta entre “vida verdadeira” e ficção. Mais provável é que uma alimente a outra, como observou a escritora canadense Nancy Huston no ensaio A espécie fabuladora, publicado em 2008.

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“Por mais que recuemos no tempo, por mais que mergulhemos profundamente na floresta ou no deserto, não encontramos nenhum resquício de um agrupamento humano tendo vivido ou vivendo unicamente na ‘realidade’, constatando-a e comentando-a, sem inventar (para si) histórias a respeito dela”, escreveu.
Em nossa língua, as palavras “pessoa” e “personagem” vêm do latim persona, que significa “máscara”. Alguém que usa máscaras: eis um ser humano.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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