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operação hermes

Os detalhes da audiência de processo que tem Cássio Alves e outros quatro como réus

Foto: Bruno Pedry/Banco de Imagens

Policiais se surpreenderam com a quantidade de cocaína. Até então, era considerada a segunda maior apreensão dessa droga na região

Começaram nessa sexta-feira, 4, as audiências de instrução de um dos casos de tráfico de drogas que mais causaram repercussão nos últimos anos em Santa Cruz do Sul. Trata-se da abordagem da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) a um veículo em 3 de julho de 2019, às margens da RSC-287, próximo de uma propriedade rural, quase na divisa do município com Vera Cruz.

Na data, foram apreendidos 26,2 quilos de cocaína, 2,14 quilos de maconha e 13,38 gramas de crack; um revólver calibre 38 com a numeração raspada e R$ 1 mil em dinheiro. A cocaína estava no porta-malas de um Fiat Mobi alugado, dirigido por um jovem. Já o restante dos itens apreendidos foi localizado na casa à margem da rodovia, onde um homem aguardava para esconder os entorpecentes em um tonel.

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A Polícia Civil e o Ministério Público (MP) apontaram cinco pessoas como envolvidas no caso. Elas respondem por crimes como tráfico de drogas, organização criminosa e associação para o tráfico.
O processo corre na 1ª Vara Criminal e a audiência de sexta-feira, que se iniciou às 14 horas no Fórum, foi presidida pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse.

Um dos acusados é Cássio Alves dos Santos, de 36 anos, atualmente preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Ele é considerado pelas forças de segurança como o número 1 da facção Os Manos em Santa Cruz do Sul. Respondem ao processo ainda Luiz Antonio Fanfa, o Neno, de 54 anos, preso na Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva); e outros três réus em liberdade – Filipe José Henn, o Picoli, de 28 anos; Daniel João Wiebbelling Teloeken, o Playboy, de 25; e Danusa Mariangela Cardoso dos Santos, a Nusa, de 37.

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O promotor Gustavo Burgos de Oliveira atua na acusação. As defesas dos réus são realizadas pela advogada Maria Eduarda Vier Klein, representando Cássio Alves; Ricardo Barcellos Ditzel, na defesa de Picoli; e Mateus Porto, que representa Neno, Playboy e Nusa. A audiência foi marcada por depoimentos dos policiais civis que atuaram na ocorrência, como os delegados Luciano Menezes e Marcelo Chiara Teixeira, e os agentes Marson Toebe Mohr e João Henrique Flores Fontela.

A chamada Operação Hermes gerou repercussão na época. Até então, tratava-se da segunda maior apreensão de cocaína da história do Vale do Rio Pardo, ficando atrás apenas dos 451 quilos apreendidos na Operação Predadores, da Delegacia de Polícia de Venâncio Aires e Defrec, em uma propriedade rural de Linha Curitiba, interior de Candelária, em 6 de junho de 2012. Hoje, a apreensão dos 26,2 quilos de cocaína pela Draco é a sexta maior na história da região.

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“Cássio coordenava os demais”, afirma Chiara

A equipe de reportagem da Gazeta do Sul acompanhou com exclusividade a audiência. O primeiro dos policiais a falar foi o delegado Marcelo Chiara Teixeira, que chefiou o inquérito. Ele contou, com riqueza de detalhes, os bastidores da investigação e revelou a participação de cada um no caso. Segundo o chefe da Draco, Cássio comandava do presídio, via telefone, o transporte de cocaína da Região Metropolitana para Santa Cruz.

Playboy fez o transporte da droga no Fiat Mobi alugado e terminou preso em flagrante, enquanto Picoli era o batedor (que dirigia outro carro para visualizar se havia barreira policial na rodovia). Neno, outro preso em flagrante naquele dia, era o dono do imóvel usado para armazenar a cocaína. Por sua vez, Nusa era responsável pela administração dos valores usados para abastecimento dos veículos, pagamentos de pedágio e remuneração para batedores e transportadores buscarem a droga.

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Segundo Chiara, a Draco tinha uma investigação sobre a atuação do grupo e solicitou um mandado de busca. No dia da ação, o delegado Luciano e o agente João foram monitorar o local que seria alvo da diligência posterior, mas flagraram a chegada do veículo, efetuando a abordagem e prisão em flagrante de Playboy e Neno. Os outros foram identificados em análises nos aparelhos celulares apreendidos. “O Cássio coordenava os demais, com ordens diretas. Isso ficou claro nas conversas com os transportadores, que chegaram a mandar, durante o percurso, alguns pontos de localização, dizendo, por exemplo, que já tinham passado pela Polícia Rodoviária”, detalhou Chiara. “Nos celulares confirmou-se a atuação do grupo, e ficou clara a associação entre eles.”

O bando pagou R$ 200 mil pela droga na Região Metropolitana. Na venda em bocas, a cocaína apreendida, com 98,5% de grau de pureza – a chamada escama de peixe –, poderia render até R$ 1,25 milhão à facção.

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“Vou aí tomar um chimarrão”: o código desvendado pela Draco

Em seu depoimento, Menezes detalhou como funciona a facção Os Manos, que se estruturou na região após a polícia desmantelar o chamado Escritório do Crime, na sequência da apreensão dos 451 quilos de cocaína em Candelária, em 2012. A partir de 2013, segundo o delegado regional, Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, de 42 anos, assumiu como chefe, tendo Cássio como braço direito. “Em 2019 o Chapolin subiu para o presídio federal do Rio Grande do Norte, e o Cássio ficou na condição de chefe”, detalhou.

Para exemplificar a atuação de Cássio como líder da facção, ambos os delegados relembraram na audiência duas operações emblemáticas que colocaram o réu no patamar de chefia. A primeira foi em 25 de setembro de 2018, quando o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), de Porto Alegre, apreendeu o celular do acusado no apartamento em que ele morava, na Avenida do Imigrante.

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Com a utilização do software israelense de extração de dados Cellebrite, foi possível identificar todo o organograma da facção Os Manos na região. A segunda ação ocorreu em 18 de janeiro de 2019, quando a Delegacia de Polícia de Vera Cruz deflagrou a histórica Operação Cúpula, efetuando a prisão de Cássio em um tríplex de luxo avaliado em R$ 1 milhão, no Bairro Avenida.

Naquela oportunidade, 20 integrantes da facção foram capturados – nunca tantos membros do grupo foram detidos de uma só vez na região. Por essa operação, Cássio foi condenado a dez anos e seis meses em regime fechado por tráfico e associação para o tráfico.

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Agente que atuou na extração de dados nos celulares na Operação Hermes, Marson Toebe Mohr contou na audiência de sexta-feira um fato curioso. Ele detalhou como os denunciados revelavam que estavam chegando na propriedade onde os entorpecentes seriam escondidos. “Um deles disse ‘eu vou aí tomar um chimarrão’, que era um código para dizer que estavam transportando ou entregando a droga”, contou.

Último dos policiais a prestar depoimento, João Henrique Flores Fontela detalhou como foi a abordagem junto de Menezes no dia do fato. Ele respondeu aos questionamentos de advogados de defesa, que perguntaram onde foi o flagrante. João afirmou que ocorreu ainda na entrada da propriedade, logo após sair da rodovia, não dentro do terreno. Após o depoimento de duas testemunhas de defesa, a juíza Márcia encerrou a sessão. A próxima audiência contará com o depoimento de Cássio e dos outros réus, e deve ocorrer no início de 2025.

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