São notórios os conflitos que estabelecemos com o tempo ao longo da nossa existência. Quando adolescentes, gostaríamos de ser adultos e usufruir de todas as prerrogativas inerentes a esse estágio da vida: liberdade para fazer escolhas, afirmação profissional, estabilidade financeira e mais algumas questões que subjetivamos por conta de circunstâncias diversas.
Quando adultos, retroalimentamos sonhos e projetos de vida com um olhar saudosista sobre o passado, para uma juventude já distante e impiedosamente irrecuperável.
Ainda jovens e plenos de energia, abdicamos de atividades físicas, esportivas e de lazer, ou por conflito com a extenuante jornada de trabalho e estudos, ou porque não dispomos de recursos financeiros e materiais. Afinal, há outras prioridades que se impõem – os filhos que vão chegando, a casa própria, um veículo mais novo (quem sabe, um zero-quilômetro?).
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Quando finalmente nos estabilizamos, a energia já não é a mesma. As articulações começam a doer, o fôlego vai diminuindo, a massa muscular e a visão também. Em contrapartida, há outras coisas que não param de aumentar: o peso, o colesterol, a pressão arterial, a ferratina, a glicose e tantas outras coisas que até há pouco sequer eram do nosso conhecimento.
Dito assim, o ciclo da nossa existência parece um roteiro desanimador. Uma constante e inexorável insatisfação, porque sempre há algo mais a ambicionar, a conquistar.
Mas há outra forma de encarar a vida: a que valoriza cada experiência vivida, cada conquista, os aprendizados, mesmo quando acontecem a partir dos erros que cometemos. Cada qual com suas escolhas e convicções, vamos deixando marcas pelo caminho.
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Muito já pensei sobre isso: e se um dia alguém resolvesse seguir minhas pegadas pelas estradas e atalhos da vida? Para onde o conduziria? Para uma contagem regressiva a um final de trilha, ou para uma avenida rumo ao amadurecimento e à plenitude da existência?
Para estas e tantas outras questões, uma boa sugestão é buscar respostas na natureza. Ela não se aprisiona ao tempo. O mínimo que se oferece ou por ela se faça, ela trata de multiplicar e retribuir generosamente. Uma semente lançada na terra, uma flor que se regue, uma planta que acondicionamos no solo, qualquer atitude ela percebe e agradece. Seja em forma de sombra para tornar mais amenos os dias de calor, pelo colorido das flores para enfeitar nosso ambiente por vezes tão pesado, ou pelos pássaros que se aninham nos galhos para alegrar nossos dias com seu canto.
Permitam-me compartilhar uma experiência pessoal. Durante os longos anos em que respondi pela edição da Gazeta do Sul, não foram raros os momentos de tensão e de conflito, porque o cargo exige que se tome decisões todos os dias. Algumas muito difíceis, nem preciso dizer.
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Em muitos desses momentos me socorri de um mecanismo de defesa que criei como forma de aliviar tensões: saía da minha sala e ia para o pátio da empresa para, por alguns instantes, me transportar mentalmente ao sítio que tivemos o privilégio de construir, palmo a palmo, planta por planta, tijolo por tijolo.
Quantas vezes, ao final de alguns minutos de sintonia mental com a energia daquele santuário de vida, me senti revigorado, encorajado para seguir em frente.
Acredite: se o fardo da vida parecer pesado demais, a mãe natureza estará sempre pronta para nos acolher e para nos ensinar.
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Posso assegurar que, dentre os aprendizados que conquistei nesta caminhada, viver o momento presente, sempre lembrar de plantar para então poder colher, e ser grato por qualquer semente que for lançada pelas pessoas que passam por nosso caminho, estão entre os mais relevantes. Os limites somos nós e as circunstâncias que estabelecemos. A qualquer tempo.
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