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COMPORTAMENTO

Os conselhos de Jamil Albuquerque para as mudanças que vêm por aí

Foto: Alencar da Rosa

Esteve em Santa Cruz do Sul, na manhã do último sábado, 22, o administrador de empresas, escritor e professor Jamil Albuquerque. Com seis livros publicados nas áreas de liderança empresarial e desenvolvimento de pessoas, ele é um dos principais nomes brasileiros nesses segmentos. É também presidente do grupo MasterMind Brasil, uma das mais tradicionais escolas de executivos e negócios do País, especializada na formação de líderes.

Antes do início do evento, realizado na Casa Green Leaf, Jamil concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Sul. Na ocasião, falou a respeito das metodologias e abordagens e também sobre a importância do desenvolvimento pessoal, especialmente no que toca a habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal. Em um momento tão conturbado nos âmbitos político e social, ele também deu dicas para encarar as mudanças que já estão ocorrendo e as que ainda vêm pela frente.

ENTREVISTA

  • Gazeta do Sul – Qual é a sua metodologia de trabalho e como a aplica?
  • Jamil Albuquerque – A mudança de mentalidade é um conceito que, como ciência comportamental, vem sendo estudado há, aproximadamente, um século e meio, mas ganha força a partir da literatura que começou com Benjamin Franklin. Ele foi um grande estadista e cientista, que já pregava uma educação do adulto. Ele bebia muito de Ralph Emerson, um filósofo transcendentalista que cunhou a frase que é chave de todo esse conceito que nós vemos: “A maior revolução que o ser humano pode fazer é entender que ele pode mudar a sua própria vida mudando o seu jeito de pensar”.
    Embora encontremos coisas semelhantes nas literaturas sagradas da humanidade, a gente pode falar que, como conceito, isso começou do século 19 para frente. Mais adiante, ganhou força por meio da pesquisa de Napoleon Hill, que era um estudante de Ralph Emerson. Ao conhecer um bilionário norte-americano, ele iniciou uma pesquisa para descobrir os motivos que fazem algumas pessoas terem uma vida acima da média enquanto outras pessoas não tinham uma vida tão elevada assim.
    Baseado nesse conceito, ele descobriu que existem 17 comportamentos, que atualmente ganharam uma nova roupagem e são chamadas de soft skills; ou seja, comportamentos mais leves, intangíveis e que estão diretamente ligados ao modo de pensar. O modo de pensar vai acabar influenciando o modo de se comportar, e o comportamento é a tinta que escreve o destino do ser humano na Terra.
  • A realidade da humanidade mudou radicalmente com a pandemia. Pessoas perderam entes queridos, perderam empregos e tiveram de mudar suas rotinas. Como se adaptar a isso?
  • A pandemia da Covid-19 não tem paralelo na história. Nós tivemos pandemias mais trágicas, e que mataram milhões de pessoas a mais, mas elas acabavam ficando sempre localizadas na Europa e pegavam um rescaldo nos outros continentes. O próprio Brasil sofreu com os efeitos, mas em menor escala. No caso da Covid-19, entre a identificação do vírus e o planeta parar foram apenas três meses. E parou tudo, todos os 205 países pararam. Diante disso, nós não temos como comparar com outro acontecimento na história.
    Sempre depois de grandes hecatombes vêm grandes reflexões e transformações. Isso aconteceu depois de guerras, pandemias e grandes tragédias, tanto naturais quanto acidentais. Na sequência disso, há uma reflexão existencial sobre o valor da vida, da alma, da matéria, da arquitetura, da beleza e da durabilidade, se vem a tragédia e nos leva tudo. Em relação a essas reflexões, cabe o conceito de mudança de mentalidade: como eu posso olhar o futuro daqui para a frente? Só tem como ver o futuro com esperança e positividade mudando a nossa maneira de pensar.
    Então, quem foi afetado precisa ver o que sobrou, ver o que tem e chorar as nossas mortes, porque a tristeza tem que ser vivida. Ela faz parte da nossa existência e não pode ser ignorada, mas ela também não pode ser permanente. Não podemos entrar em luto infinito, mas também não podemos ignorar a dor. Depois disso, é fazer da cicatriz um charme e da ferida uma medalha da nossa existência.
  • Uma das principais mudanças trazidas pela pandemia foi o distanciamento social. Como as pessoas podem adaptar suas relações sociais e de trabalho para a distância?
  • Nós quase desaprendemos a conviver. Nós estamos reaprendendo a fazer isso, a trabalhar em conjunto, tivemos que aprender a trabalhar sozinhos. No caso do home office, além da mudança de mentalidade foi necessário também muita autodisciplina. Uma coisa é você levantar, tomar banho e sair para outro lugar, outra coisa é você acordar, dar três passos e já estar no trabalho. Tem gente que trabalha na cama, outros preferem a cozinha, alguns têm os filhos para tomar conta, os animais domésticos.
    Foi preciso um aprendizado para se adaptar a esse formato e agora será necessário um novo aprendizado para sair dele. E haverá um efeito colateral disso tudo. A sociedade deve experimentar uma rearrumação social nos próximos dez anos. Muitas pessoas vão trazer suas rotinas profissionais para dentro das próprias casas. Não será nenhuma tragédia, mas como toda rearrumação, ela precisa de um certo nível de adaptabilidade. Tem um período ruim, desconfortável, mas também tem a parte boa do depois.
    Nós temos pela frente então dez anos para implantar novos modelos de vida. É o que chamamos de nova ordem mundial, e ela precisa ser observada. Serão novos pactos econômicos, energéticos e sociais. São três grandes pilares que terão impacto na vida prática do ser humano. As decisões políticas não refletem diretamente na vida das pessoas, leva tempo, e esse tempo será ao longo da próxima década.
  • A expectativa de vida aumenta a cada ano, causando a convivência de pessoas de gerações distintas. Como é possível aprimorar essa relação entre idades tão diferentes?
  • A população do planeta está aumentando muito e devemos chegar, por volta de 2050, aos 9,5 bilhões de habitantes. De 1500 até 2022, nós aumentamos quase 20 vezes a população do planeta. Precisamos, além de mais cuidado e pensamento estratégico, ter mais habilidade para lidar com as pessoas. O que vale da vida é a caminhada e a companhia. O destino é importante? Muito! Mas o destino sem uma bela jornada fica muito estéril. E na jornada o que vale é a caminhada, então lidar com pessoas é fundamental para que a existência seja desfrutável, agradável e boa. Os idosos de hoje viveram todo o impacto dos anos 1960. A maior revolução cultural que a humanidade já experimentou foi o movimento hippie, então essa população tem uma maneira diferente de pensar e ver a sociedade.
  • A responsabilidade de saber lidar com os demais é sempre minha ou isso é uma questão coletiva?
  • No mundo ideal, todas as pessoas saberiam lidar com as suas emoções e compreensões. Esse é o cenário perfeito. O que nós precisamos entender é que se queremos realmente mudar o mundo, primeiro precisamos modificar nós mesmos. Aquela frase bastante conhecida, mas nunca envelhecida, de que se eu consigo mudar a mim eu consigo mudar o meu redor e, por consequência, mudar o planeta, é válida em todas as épocas.
    Querer que os outros me compreendam é um certo egoísmo. Primeiro eu preciso me compreender, saber tolerar os outros e fazer com que as pessoas se sintam bem comigo. Assim se constrói uma personalidade agradável, mas também é preciso entender como fazer as pessoas darem respostas e desenvolver resistência emocional para lidar com pessoas difíceis, porque elas existem.
    Liderar é a arte de lidar com pessoas. Toda a nossa convivência é com elas, 100% dos nossos clientes e fornecedores são pessoas, então quem não entende de pessoas não entende nem de negócios nem de vivência.
  • Estamos em um ano eleitoral e com os ânimos mais exaltados do que nunca. Como as pessoas e as empresas podem lidar com a situação para que haja debate e não confronto?
  • Não vai existir terceira via por uma questão elementar: a terceira via já foi eleita. Antes tínhamos PSDB contra PT, e quem se elegeu foi uma terceira via que hoje está no poder. Não surgirá uma nova terceira via tão rapidamente, não aparecem cisnes negros em apenas quatro anos. Esse processo leva, em média, de duas a três décadas. O que nós pedimos para as empresas é que tenham serenidade e viabilizem o direito de opinião que todos têm. É preciso debater ideias, nunca debater pessoas.
  • É a sua primeira vez em Santa Cruz do Sul? Quais as suas impressões?
  • É a minha primeira vez em Santa Cruz. Estou muito feliz e encantado. Tive a oportunidade de conhecer a história do Belchior, que passou os últimos quatro anos aqui. Ele é um ídolo que eu admiro e respeito muito. Conheci também a Catedral São João Batista, que tem um estilo gótico encantador. Estou deslumbrado com a cidade.

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