Uma investigação traçada em sigilo pela Polícia Civil ao longo das últimas semanas culminou na prisão de Marco Antônio Rassier, de 76 anos, ex-secretário de Saúde e Meio Ambiente de Encruzilhada do Sul. Detalhes da captura foram revelados com exclusividade à Gazeta do Sul pelo delegado Róbinson Palomínio, titular da Delegacia de Polícia (DP) de Encruzilhada do Sul, que também responde pela Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Santa Cruz do Sul.

A Polícia Civil não revelou o nome do investigado, mas a Gazeta apurou que se trata de Rassier. No início deste mês, a DP de Encruzilhada recebeu uma denúncia a respeito da possibilidade de o suspeito andar com uma arma de fogo em seu veículo particular. Os investigadores apuraram informações que confirmaram essa hipótese. Diante disso, Palomínio representou por um mandado de busca na casa do ex-secretário, o que foi autorizado pelo Poder Judiciário. Ao longo dos últimos dias, no entanto, Marco Rassier não era mais visto.

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Isso até o meio-dia da última terça-feira. “Eu estava indo almoçar e passei pelo carro dele. Nessa hora resolvi cumprir o mandado, porque fazia uma semana que tínhamos a ordem, mas não o encontrávamos. Segui em uma viatura discreta até um supermercado, onde ele entrou. Na saída dele, com apoio de outros policiais, realizamos a abordagem”, explicou o titular da DP de Encruzilhada do Sul.

Conforme o delegado, apesar de o homem dizer que não havia nada no carro, os policiais encontraram uma pistola calibre 380 municiada embaixo do banco do motorista. Em torno de 50 munições para a arma foram localizadas no porta-luvas. Ainda em frente ao mercado, os agentes perceberam um adesivo da Polícia Civil colado no para-brisa do veículo de Rassier, o que é proibido por lei.

“Ele alegou que colocou o adesivo da polícia porque um amigo tinha dado para ele colar, pois assim nunca mais seria assaltado”, explicou Palomínio. Na sequência das buscas, já na residência do ex-secretário, os agentes encontraram mais munições que, somadas às localizadas no carro, totalizaram 68. Marco Antônio foi preso em flagrante pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e munições, bem como por uso ilegal de selo público estadual. Após registro da prisão na DP, foi conduzido ao Presídio Estadual de Encruzilhada do Sul.

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Indiciado em outro procedimento

Especialista em Ciências Criminais e professor de Direito Penal em cursos preparatórios para concursos, o delegado Róbinson Palomínio detalhou os dois delitos pelo qual o investigado irá responder. “O porte de arma é um direito que pouquíssimas pessoas têm, apenas policiais basicamente. O que algumas pessoas podem ter é a posse, para ter arma em casa, com ela registrada em seu nome. Ou quando se é um CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), que pode transportar a arma desmuniciada de casa até o estande de tiro”, disse.

“No caso de Rassier, não tinha nada disso. A pistola estava no nome do filho e não dele, e ele estava com ela na rua, dentro do carro, circulando pela via pública”, complementou o titular da DP de Encruzilhada. Segundo Palomínio, porte ilegal de arma de fogo tem pena máxima de quatro anos, e uso ilegal de selo público estadual tem pena de dois a seis anos.

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O inquérito deve ser concluído em até 30 dias. “São crimes que ensejam prisão em flagrante, não foi possível nem conceder fiança nesse caso”, explicou. Marco Antônio Rassier já foi indiciado em outro procedimento da Polícia Civil, por um caso ocorrido em 25 de janeiro deste ano, ainda enquanto era secretário municipal. A Gazeta do Sul acompanhou a abertura do inquérito, naquela ocasião.

“Uma pessoa fez uma cobrança em tese ilegal de um morador e ele quis fazer justiça. Chamou esse indivíduo que registrou a cobrança, ameaçou-o, puxou um canivete, deu um tapa e o obrigou a transferir o valor de volta”, explicou Palomínio. Por esse procedimento, Rassier foi indiciado para responder em liberdade pelos crimes de exercício arbitrário das próprias razões, ameaça e lesão corporal. O processo segue em andamento na esfera judiciária.

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Arma de Marco Antônio seria para defesa pessoal, diz advogado

Advogado de Marco Antônio Rassier, Saulo Teixeira Meirelles conversou com a Gazeta do Sul e confirmou a prisão em flagrante de seu cliente. Segundo Meirelles, no mesmo dia, após a audiência de custódia, o homem de 76 anos foi autorizado pela Justiça a aguardar em liberdade o andamento do processo.

“Não tinha motivo para ele permanecer preso. Está em liberdade provisória. Ele é pecuarista e não conseguiu agora, com o novo decreto do governo federal, regularizar a arma dele, pois venceu o registro e suspenderam por um prazo a renovação”, comentou Saulo, que é presidente da Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Encruzilhada. Conforme o defensor, o fato de Rassier possuir uma propriedade rural faz com que tenha uma arma para se defender de eventuais crimes.

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“É para defesa pessoal dele. Aqui é interior, não tem como chegar em uma fazenda totalmente desarmado, porque dá muito assalto. Estamos acompanhando o caso, aguardando a conclusão do inquérito, para fazermos a defesa dele na sequência do processo e explicar os motivos”, salientou o presidente da subseção da OAB de Encruzilhada do Sul.

A apreensão do material bélico foi uma forma, de acordo com o delegado, de preservar o investigado. “Estamos evitando até de, eventualmente no futuro, ele responder por um crime de homicídio. Dependendo da situação, com a arma no carro, poderia ficar com raiva em algum momento e disparar contra alguém. Ou pode mesmo ser furtada por uma pessoa”, salientou Palomínio. “No mercado, ele deixou o carro ligado, estacionado, com a chave ali. Podia qualquer um entrar no carro e furtar o veículo e a arma, e utilizá-la para cometer algum crime.”

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O filho de Marco Rassier, que tem o registro da pistola apreendida pela polícia, também irá responder por porte ilegal de arma de fogo, segundo o delegado, por ter cedido ao pai. “O filho tem duas armas registradas em seu nome. Tudo indica que registrou uma para ele e entregou a outra para o pai”, ressaltou Róbinson Palomínio.

O caso chegou à Polícia Civil por denúncia anônima. O delegado agradeceu à população pelas informações e pediu que, quando preciso, acione-se a polícia. É possível entrar em contato com a DP de Encruzilhada do Sul pelo telefone (51) 3733 1042 ou e-mail [email protected]. O sigilo é mantido.

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