Com a chegada do novo ano, as atenções do universo político em Santa Cruz começam a se voltar de forma definitiva para as eleições do ano que vem. Embora os movimentos já tenham começado, fatos recentes, como a reviravolta que marcou a escolha da presidência da Câmara em dezembro, deixam em aberto questões que vão influenciar o cenário da disputa pela sucessão de Telmo Kirst (PP).
LEIA MAIS: Após reviravolta, Bruna Molz é eleita presidente da Câmara
Uma das principais dúvidas envolve justamente o apoio de Telmo, que embora venha fazendo movimentos no sentido de assumir o controle do processo sucessório, não sinalizou quem é o candidato de sua preferência e se afastou de aliados que cobiçam a sua cadeira. Telmo, porém, está estremecido com alas internas do PP que não abrem mão de definir a candidatura e não se sabe como esse nó será desatado. Na principal frente de oposição, o cenário também é incerto: com a saída da família Moraes do páreo, o PTB ainda terá que encontrar um nome para tentar voltar ao Palacinho depois de oito anos.
Publicidade
No plano mais imediato, as principais dúvidas dizem respeito aos desdobramentos da eleição da Câmara, em que Bruna Molz (PTB) foi escolhida presidente graças a um conchavo entre vereadores governistas e de oposição que abalou a relação de forças no plenário, com possíveis efeitos sobre as votações de projetos a partir de agora. Nos bastidores, também há expectativa sobre como ficará o tabuleiro do poder na Câmara após o troca-troca de partidos entre os vereadores, que deve acontecer no ano que vem.
Novas regras
Além de não contar com líderes históricos da política local que foram protagonistas em todos os últimos pleitos, a eleição do ano que vem será marcada por novas regras da legislação eleitoral. A principal delas é o fim das coligações partidárias na disputa proporcional. Isso significa que os partidos não poderão mais tomar carona com outros para conquistar cadeiras na Câmara e dependerão de seus próprios votos. Atualmente, as alianças para a Câmara são determinantes nas negociações pré-eleitorais. A tendência é que isso beneficie os partidos maiores e seja fatal para os nanicos.
Outra é em relação às sobras, que referem-se às vagas de vereador que não são preenchidas pelo cálculo do quociente eleitoral. Pela regra atual, apenas os partidos que conquistaram vagas com o quociente disputam as sobras. Com a mudança, todos os partidos vão poder disputar. Isso vai beneficiar candidatos com votações individuais expressivas, mas que concorrem por partidos pequenos.
Publicidade
As principais dúvidas
Como ficará a divisão de forças na Câmara?
A eleição de Bruna Molz (PTB) para a presidência da Câmara em 2019 foi lavrada em uma inusitada aliança entre a oposição e parte dos vereadores governistas, arquitetada nos bastidores com a bênção do prefeito Telmo Kirst (PP). Nesse processo, setores da base aliada que optaram por honrar o acordo firmado em 2017, que levaria à eleição de Alex Knak (MDB), foram isolados.
A dúvida que paira é até que ponto esse conchavo vai afetar a divisão de forças no Legislativo e influenciar nas votações de projetos do governo daqui para frente. Há quem acredite que os vereadores que ficaram de fora do acordão – além de Knak, Hildo Ney Caspary (PP), Edmar Hermany (PP) e Bruno Faller (PDT) – não podem mais ser contados como votos garantidos a favor do governo, embora não tenha havido um rompimento formal e alguns ainda mantenham cargos na Prefeitura. Ao mesmo tempo, são incertos os limites da aproximação entre Telmo e a oposição.
Publicidade
Como ficará a situação do PP?
O PP vive um racha deflagrado por movimentos recentes do prefeito Telmo Kirst (PP), que esfriaram a sua relação com setores importantes da sigla. Apenas no ano passado, Telmo articulou pessoalmente a transferência de quadros do PP para outros partidos sem conversar com a direção, bateu boca publicamente com o ex-líder de governo Hildo Ney Caspary (PP), desautorizou na imprensa especulações de que Henrique Hermany (PP) poderia ser seu candidato para a sucessão e contrariou todas as orientações da legenda na eleição de 2018.
Na votação da presidência da Câmara, em que teve interferência decisiva, Telmo chegou a ameaçar demitir Henrique e afastar a vice-prefeita Helena Hermany da Secretaria Municipal de Habitação caso o vereador Edmar Hermany não apoiasse a chapa articulada por ele. A dúvida que paira é se a situação ainda vai evoluir e como isso vai influenciar o processo sucessório.
Publicidade
Quantos vereadores vão trocar de partido?
Ao que tudo indica, a composição partidária da Câmara não terminará a atual legislatura do mesmo jeito que começou, em 2017. Isso porque a legislação eleitoral prevê uma brecha de 30 dias no último ano de mandato para que vereadores possam trocar de partido sem perder a cadeira por conta da fidelidade partidária – é a chamada “janela”. Em 2016, quando a regra foi aplicada pela primeira vez, três vereadores migraram de legenda em Santa Cruz.
Tudo indica que, em 2020, o movimento vai se repetir e pode ser até maior. Alguns parlamentares, inclusive, já declararam publicamente a intenção de trocar de sigla. É o caso de Francisco Carlos Smidt (PTB), Alceu Crestani (PSDB) e Elo Schneiders (SD) – o último está licenciado da Câmara porque ocupa o cargo de secretário municipal de Agricultura. Dos três, o único que tem destino praticamente certo é Crestani, que deve ir para o PP.
Publicidade
Na bancada do PT, Ari Thessing e Paulo Lersch estão sob fogo cruzado no partido pela aproximação com o governo Telmo e a posição que adotaram em votações polêmicas no ano passado, como a da lei dos vales e a da lei de cotas, além da própria eleição da Câmara. A situação será levada à direção estadual do PT por um grupo de filiados e os dois correm risco de expulsão. Se não acontecer, há grandes chances de Thessing e Lersch usarem a janela no ano que vem.
Já no PTB, são pelo menos outros dois casos. Luís Ruas vem manifestando insatisfações com a falta de reconhecimento no partido, enquanto Bruna Molz é cortejada pelo governo e pode ter que trocar de sigla para levar adiante os planos de concorrer a deputada no futuro.
Se confirmadas, as mudanças vão alterar a representatividade dos partidos e é possível até que surjam novas bancadas – caso algum vereador migre para um partido que atualmente está fora da Câmara.
Quem Telmo vai lançar para concorrer a prefeito?
O afastamento de Telmo em relação à família Hermany e a sua interferência na eleição da Câmara foram um recado claro de que o prefeito não está disposto a apoiar nenhum dos dois nomes que vinham despontando na base aliada para concorrer a prefeito em 2020: Henrique Hermany (PP) e Alex Knak (MDB). O próprio Telmo, porém, afirmou essa semana que irá trabalhar para eleger o seu sucessor, o que indica que uma nova frente deve surgir até o ano que vem.
Por enquanto, Telmo não dá indícios concretos sobre quem seria seu candidato, mas sua preferência seria por alguém da nova geração da política. Nesse contexto, o secretário de Saúde, Régis de Oliveira Júnior, que é hoje uma das figuras mais influentes do governo, e a vereadora Bruna Molz (PTB), que se reaproximou do governo na eleição da Câmara, ganham força. O nome do advogado e presidente da Associação de Entidades Empresariais (Assemp), Léo Schwingel, também é citado com frequência nas especulações, que já foram mais fortes nesse sentido. Apesar disso, tanto Henrique quanto Knak seguem com grandes chances de concorrer ao Palacinho.
Quem serão os candidatos de oposição?
Principal partido de oposição ao governo Telmo, o PTB tem sua candidatura a prefeito em 2020 aberta. Com a aposentadoria política de Sérgio Moraes e a eleição de Kelly (deputada estadual) e Marcelo Moraes (deputado federal), tudo indica que, pela primeira vez desde 2004, o candidato não será da família Moraes. Nesse cenário, o nome que desponta é o do vereador Mathias Bertram, que tem a preferência declarada de Sérgio.
Além de Alex Knak, outras candidaturas podem surgir para além da polarização PP–PTB. O vereador Francisco Carlos Smidt, por exemplo, já manifestou desejo de disputar a Prefeitura, mas está de saída do PTB. Sua vontade é concorrer pelo PSDB, mas a ideia ainda é tratada com muita cautela por integrantes do partido.
Terceiro lugar em 2016, o professor de Direito e servidor da Assembleia Fabiano Dupont (PSB) pretende concorrer novamente. Já o PDT, que atualmente integra a base de apoio a Telmo, cogita lançar o vereador Bruno Faller.