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CASOS DO ARQUIVO

Os 65 anos da guerra entre os irmãos Naricos e a polícia

Irmãos João, Mazarino, conhecido como Santo, e Olímpio, o Pimpo, durante viagem para Porto Alegre

Quase todos os dias, cartas endereçadas a um homem de nome Oscar Schild chegam pelo correio na Lancheria Ponto Ideal, que fica na esquina das ruas Venâncio Aires e Senador Pinheiro Machado, na região central de Santa Cruz do Sul. Para Jair Luis Konzen, de 48 anos, após 17 anos na gerência do estabelecimento, conhecido por vender frangos assados em fornos rotativos postados na calçada, era um mistério quem seria o indivíduo.

Quando a reportagem da Gazeta do Sul fez uma visita ao estabelecimento, que ainda apresenta bases estruturais da metade do século passado – algo raro no centro da cidade, tomado por construções modernas –, a dúvida ainda pairava. “Não sei quem é. Será que é vivo ainda?”. Foi quando ele e a esposa Leandra Konzen, de 47 anos, ficaram sabendo que Oscar Schild é filho de Helvino Otto Schild e Eunice Marques Schild, antigos donos do ponto na época em que houve um confronto histórico. E desse caso os dois locatários atuais já tinham ouvido muito falar. Foi no antigo Bar Schild, hoje Ponto Ideal, há 65 anos, que ocorreu a chamada “Guerra dos Naricos”, como Leandra Konzen escuta muito dos clientes mais antigos. Na noite gelada de 1º de julho de 1959, um intenso tiroteio dentro do bar entrou para a história de Santa Cruz do Sul e ganhou contornos de lenda.

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A Gazeta do Sul detalha a seguir, na 12ª reportagem da série Casos do Arquivo, os bastidores da batalha sangrenta em pleno Centro, que deixou três mortos, incluindo um delegado e um brigadiano, além de dois feridos.

Bar, que ainda existe, fica localizado no Centro de Santa Cruz | Foto: Alencar da Rosa

Uma família diferente

Há 65 anos, Santa Cruz do Sul tinha cerca de 20 mil habitantes. O prefeito era Arthur Walter Kaempf e na polícia quem comandava era o delegado Nélio Adão Alves da Silveira, de 40 anos e com fama de linha dura. Ele havia chegado à cidade em 1958, anunciando uma campanha de desarmamento – até facas seriam apreendidas –, combate ao jogo do bicho e repressão à vadiagem, à desordem e à embriaguez. Rapidamente, a fama de durão do delegado geraria um atrito com uma família considerada diferente nos padrões do município na época.

Sem a descendência alemã da maioria, os Naricos moravam em uma propriedade onde hoje encontra-se a Vila Militar e o complexo do Serviço Social da Indústria (Sesi), na Rua Carlos Trein Filho. Florinário e Joaquina Moraes tiveram dez filhos, sendo Adelaide a única mulher e nove homens: Atanásio, Jenovêncio, João, Thomas, Mazarino (apelidado de Santo), Nazarino (ou Mocinho), Dovirge (Vivi), Jorge (Lola) e Olímpio (Pimpo).

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Mais tarde, Joaquina também viria a criar Olmirando Figueiredo, mais conhecido como Negrinho, que Santo teria tido fora do casamento. O casal era conhecido pelo trato rígido na educação e na disciplina dos filhos. Certa feita, Florinário foi até o Colégio Elementar Júlio de Castilhos – antecessor da Escola Estado de Goiás – e entregou uma vara de marmelo à professora dos meninos, Lydia Maria Kämpf, ressaltando que ela tinha a permissão para usá-la caso um dos filhos incomodasse.

O apelido da família também vem do patriarca. Criador de cavalos e gado, Nário, como era chamado, fazia muitas vendas e briques, ganhando muito dinheiro. Logo foi apelidado de Nário Rico. Com o tempo, passou a ser chamado de Narico, apelido que transferiu para seus descendentes diretos. Quando ele morreu, ao quebrar a coluna caindo de um cavalo, com quase 60 anos, em 22 de maio de 1940, os dez filhos já eram conhecidos como os Naricos.

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No sétimo episódio da primeira temporada do podcast Papo de Polícia, lançado em fevereiro deste ano pela Gazeta Grupo de Comunicações, o escritor e jornalista Ricardo Düren contou algumas das informações que apurou em uma pesquisa sobre a família Naricos. “Eles eram meio ‘gauchões’. Se vestiam de bota, bombacha e chapéu, distinguindo-se em meio a muitos moradores da cidade com descendência alemã”, disse Düren.

Segundo ele, ainda que houvesse uma estranheza cultural, a família se dava bem com todo mundo. Porém, tinha uma característica que está muito ligada aos fatos que aconteceram em 1º de julho de 1959: eles não levavam desaforo para casa. “Eram muito amigos, ajudavam se você precisasse, mas se pisasse no poncho deles, dava entrevero. E foi aí que começaram a surgir algumas rusgas entre os Naricos e alguns integrantes da polícia.”

Perseguição

Mesmo com a morte de Florinário, dona Joaquina, que só viria a falecer em 31 de julho de 1966, aos 83 anos, continuava com pulso firme no controle da família, sempre de bengala e com um lenço na cabeça. Os filhos do casal seguiram carreiras distintas. João e Thomas, respectivamente eletricista da Prefeitura e foguista da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), foram os poucos, na época, a ter um emprego visto como formal.

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Já os craques Atanásio e Jenovêncio optaram pelos gramados. Vêncio, como era conhecido, dedicou-se ao futebol em clubes de Passo Fundo, enquanto Atanásio fez história vestindo a camisa do Futebol Clube Santa Cruz, entre as décadas de 1940 e 1950, tendo ainda uma rápida passagem pelo Avenida. Pimpo também teve sua experiência no esporte, como goleiro do Avenida, mas por pouco tempo.

Ele vivia de biscates e tinha uma peculiaridade que o tornou conhecido na cidade: além do gosto pelos bares, mantinha o hábito de pedir dinheiro aos conhecidos que encontrava. Em 1958, a rotina aparentemente tranquila de Pimpo começou a ganhar contornos mais nervosos. Naquele ano, o delegado Nélio prometeu, entre outras coisas, prender a quem considerasse vadio. Não demorou muito para surgirem fortes atritos entre Olímpio e Nélio.

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E as desavenças entre os dois chegaram à Justiça. Em 23 de junho de 1959, Pimpo protocolou na Justiça, por meio do advogado Arno Schmidt, um requerimento de processo criminal contra o delegado Nélio, afirmando ser injustamente perseguido e provocado pela autoridade policial. Segundo ele, o delegado o ameaçava: “Não saio de Santa Cruz antes de te prender ou te matar.”

Em um dos episódios que motivaram a ação judicial, em 17 de junho de 1959, Pimpo afirmou que estava parado junto ao Hotel Santa Cruz (esquina das ruas Ramiro Barcelos e Tenente Coronel Brito), lendo um jornal, quando foi abordado pelo delegado Nélio, pelo inspetor Alberto Rodrigues da Silva e pelo guarda noturno Antenor José da Silva, que lhe apontaram revólveres. Queriam prendê-lo por porte ilegal de arma, após encontrar uma faca para poda de árvores num saquinho de laranjas que Pimpo trazia consigo.

O tiroteio

A crescente tensão entre os agentes policiais e os Naricos, motivada pela suposta perseguição contra Olímpio Moraes, levou ao fatídico episódio de 1º de julho de 1959. Eram cerca de 20h30 quando Pimpo, de 34 anos, entrou no bar de Helvino Otto Schild. Cinco minutos depois, chegou o guarda noturno Antenor José da Silva, seu desafeto, logo dirigindo-se à pessoa que conversava com Pimpo: “Retire-se que eu vou matar o Pimpo!”.

E apontou o revólver, atirando à queima-roupa contra a testa de Moraes. Um tiro só, mas sem qualquer chance de reação para a vítima, armada apenas com “uma pequena faca, dentro dum saquinho”, como descreveria a Gazeta do Sul de 7 de julho de 1959. Pimpo caiu em meio a uma poça de sangue, tendo morte instantânea. O atirador fugiu imediatamente. Quem avisou a polícia foi o proprietário do bar.

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O inspetor Alberto Rodrigues da Silva recebeu a missão de informar os Naricos sobre a morte de Pimpo. Ele foi até a residência da família de carona com um comerciante, em uma caminhonete. Instantes depois de dar a notícia, foi atingido por uma facada desferida por Jorge Moraes, o Lola, irmão de Pimpo. Mais tarde, alguns dos irmãos argumentariam que o inspetor teria dito “nós matamos o Pimpo”, provocando a ira da família.

O delegado Nélio Silveira estava no cinema, assistindo ironicamente ao filme Os Violentos se Destroem, quando foi avisado do crime. Logo se dirigiu ao local, acompanhado do médico legista Edgar Mário Sperb, do fotógrafo Darci Dal Monte e de alguns investigadores para fazer o levantamento. Eram cerca de 22 horas quando os policiais, dentro do bar, escutaram batidas na porta.

Do outro lado estavam Thomas Moraes, Atanásio Moraes e Olmirando Figueiredo, o Negrinho – irmão de criação dos dois primeiros. Sem saber do que se tratava, o policial militar Osvaldo Ivo Rodrigues, 26 anos, abriu a porta e foi surpreendido por golpes de adaga desferidos por Olmirando. Atingido no peito, no abdômen e na coxa, Rodrigues caiu sem vida sobre o cadáver de Pimpo, que ainda estava no local. Enquanto isso, Atanásio entrava em tiroteio com o delegado Nélio e o praça Adão Teixeira. A troca de balas foi violenta no interior do bar. Ao final, além de Pimpo e do soldado Osvaldo mortos, o delegado e Atanásio estavam caídos em poças de sangue. Nélio foi atingido no ombro e no abdômen, com projétil localizado entre um músculo e o rim. Atanásio tinha duas balas no pulmão.

Negrinho saiu do bar, ainda disparando contra a porta e as paredes, enquanto o soldado Teixeira saía pelos fundos, junto com o delegado Nélio. Este ainda conseguiu arrastar-se até a casa de um subtenente vizinho, deixando atrás de si um rastro de sangue. Atanásio permaneceu entre a vida e a morte por vários dias, enquanto o delegado não teve a mesma sorte. Ele entrou em coma e morreu às 13h35 do dia 3 de julho.

Água avermelhada

A Gazeta do Sul conversou com Oscar Schild, o Cacaio, filho de Helvino e Eunice Schild, então donos do estabelecimento onde houve o confronto. Desde 1991, ele mora em São Leopoldo e trabalha como gerente de vendas. Antes de virar bar, o lugar funcionava como “bricabraque”, uma espécie de ponto comercial onde se vendia móveis usados. Cacaio relatou que tinha 2 anos quando o estabelecimento dos pais virou palco da tragédia.

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“Nossa casa ficava anexa ao bar. Quando começou o tiroteio entre os Naricos e a polícia, as balas atravessavam as paredes de madeira e passavam sobre nós”, disse ele, que ouviu a história de sua mãe anos depois. Um dos fatos mais marcantes envolveu sua tia Ionne Marques Marx, que trabalhava em um posto de saúde. Ela havia deixado o Cine Apolo na noite do crime com seu marido, Alfredo José Eugênio Marx, o tio Buba, então chefe do IBGE.

Ao caminhar a pé para casa, enxergaram algo na rua que chamou sua atenção. “Eles viram uma água avermelhada descendo próximo onde hoje é o Correio, pois os bombeiros estavam lavando as calçadas no entorno da nossa casa, tamanha a quantidade de sangue”, comentou o filho dos donos do bar. Segundo ele, Pimpo era cliente fixo do estabelecimento.

“Ele ia todo dia tomar o seu martelinho. Minha mãe estava atrás do balcão quando o guarda noturno atirou contra ele. Coitada, ela ainda foi atrás do Antenor para tirar satisfação quando ele fugiu na direção da Rua Marechal Floriano. Na frente da antiga Padaria Kipper, ele virou e disse pra ela: ‘A senhora tem que voltar, senão vou dar um tiro na senhora também’”, contou Cacaio, que tem 67 anos. Na época, além de Oscar, com 2 anos, o casal tinha outros três filhos: Rogério, com 1; Luiz, com 4; e Paulo, com 9 anos. Segundo Cacaio, durante seis meses após a tragédia, o movimento do bar caiu a zero.

A mãe dele chegou a pedir ao novo delegado para que liberasse vender o jogo do bicho, para que tivessem algum sustento. “O prejuízo para a minha família foi enorme, tanto que em 1974 o ponto foi vendido para Ervino Hoelz”, disse Oscar. Logo após o confronto no bar, Eunice teria pedido ao delegado Nélio para recolher rapidamente o corpo de Pimpo do local. “Ele não quis. Deixou lá. Se o delegado tivesse aceitado o pedido de minha mãe, talvez o desfecho poderia ter sido diferente.”

“Havia uma implicância com a minha família”

O saldo da noite fria e sangrenta em Santa Cruz do Sul foi de três mortes, de Pimpo, do delegado Nélio e do brigadiano Osvaldo, além de dois feridos que foram levados ao hospital: Atanásio e o inspetor Alberto. O tiroteio foi destaque não só no município, mas também na imprensa de Porto Alegre. Logo, todo o Estado ficou sabendo do caso. Olmirando Figueiredo, apontado como autor dos golpes de adaga que mataram o PM, foi preso no hospital.

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Embora sem ter participação nos incidentes, Dovirge Moraes, o Vivi, ficou mais de 12 horas recolhido por “medida de segurança”. No dia seguinte ao da morte de Nélio, apresentaram-se espontaneamente à polícia Jorge Moraes, o Lola, autor da facada contra o inspetor Alberto, e seu irmão Thomas, que acompanhou Atanásio e Olmirando até o Bar Schild. Após prestar depoimento, ambos foram recolhidos e tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça em 8 de julho.

Antes, em 6 de julho, o assassino de Pimpo e pessoa muito ligada ao delegado Nélio, o guarda noturno Antenor, apresentou-se na Delegacia de Polícia de Candelária, após um período escondido em Passa Sete. Embasados na perseguição contra Pimpo e na estreita ligação entre Nélio e Antenor, os Naricos levantaram publicamente a hipótese de a primeira morte no Bar Schild ter sido “encomendada” pelo delegado.

É o que pensa até hoje a filha de Dovirge Moraes, o Vivi. A reportagem conversou com a aposentada Roseni Moraes, de 61 anos, moradora da Rua José do Patrocínio, no Bairro Senai. Ela ainda guarda a foto histórica de sua avó Joaquina, publicada na Gazeta do Sul, em que a mãe dos Naricos afirma, com o dedo em riste: “Isto não vai ficar assim.”

“Havia uma implicância com a minha família, uma inveja, porque eram diferentes do jeito dos alemães. Para mim, o delegado pagou para o guarda noturno matar o Pimpo”, disse Roseni. Uma informação que já na época reforçava a hipótese de crime premeditado foi de que, antes do assassinato, Antenor teria ido à polícia retirar todo o dinheiro a que tinha direito, levando consigo dois revólveres carregados.

Roseni guarda foto de sua avó Joaquina, publicada na Gazeta | Foto: Alencar da Rosa

Ex-suplente de vereador e atual companheiro de Roseni, Arlindo José Soder, 76 anos, conta que conheceu o guarda noturno Antenor. “Ele era perigoso.” Familiares do guarda, na época, contaram que uma questão pessoal havia acontecido entre ele e Pimpo. Cerca de 20 dias antes do episódio, Antenor teria levado um tapa de Pimpo ao tentar conter uma desordem supostamente provocada por ele.

Na ocasião, Antenor teria dito a Olímpio que “a bofetada lhe custaria um tiro na testa”. À Gazeta, Roseni fez uma revelação que não havia sido divulgada na época do crime, mas pode ter acirrado ainda mais os ânimos entre os Naricos e a polícia. “O delegado dava em cima de umas primas minhas que eram muito bonitas. Meu tio Atanásio não gostava disso. Começou o entrevero ali”, salientou a mulher.

Ela vê uma semelhança física sua com a avó Joaquina, e conta as histórias da família para a filha, a manicure Jaqueline Moraes, de 40 anos. “Ainda mantemos até hoje, em uma de nossas moradias, um pé de roseira que tem mais de cem anos e era da minha avó. Quando passo ali na frente de onde era a casa da família, me dá uma saudade.”

Os julgamentos

O júri popular dos Naricos acusados, Olmirando, Atanásio, Thomas e Jorge, ocorreu em 17 de julho de 1960 no ginásio do Corinthians Sport Club. O último, também conhecido por Lola, era acusado de tentativa de homicídio contra o inspetor Alberto Rodrigues. Os outros responderam pelo conflito com a polícia, quando morreram o PM Osvaldo Rodrigues e o delegado Nélio Silveira. Prevendo que o ginásio ficaria lotado, o juiz Paulo David Torres Barcellos permitiu que a sessão fosse transmitida ao vivo pela rádio. A acusação contra os Naricos esteve a cargo do promotor Gibran Bahlis e do advogado Serafim Machado, de Porto Alegre, contratado pela viúva do delegado assassinado.

A defesa foi feita pelos advogados Arthur Germano Fett, de Santa Cruz, e Mário Ilha, de Cachoeira do Sul, que invocaram a tese de legítima defesa. Dos quatro, Atanásio recebeu a pena mais alta. Foram 18 anos de reclusão, mais dois anos de internação em colônia agrícola. Apontado como autor das facadas que mataram o PM, Olmirando, conhecido como Negrinho, pegou oito anos. Lola foi sentenciado a cinco anos pela facada contra o inspetor Alberto, e Thomas foi absolvido. O júri de Antenor ocorreu em 14 de março de 1961, no Fórum, também presidido pelo juiz Barcellos.

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Na acusação, atuou novamente o promotor Gibran, tendo como assistente o advogado cachoeirense Mário Ilha, contratado pela família Moraes. A defesa do guarda estava a cargo do advogado Flávio Boianowski e do acadêmico Giardino Paese, este estreando em júri. Boianowski sustentou a tese de legítima defesa putativa, alegando que Antenor matou Pimpo imaginando que ele estaria armado e prestes a atacá-lo.

Ele pediu a desqualificação do crime, pois teria sido cometido por “relevante razão social” (defesa da honra de sua família). Antenor da Silva foi condenado à pena-base de 16 anos de reclusão, reduzida para 15 anos por atenuantes reconhecidas pelos jurados. Continuou preso no quartel do 8º Regimento de Infantaria para cumprimento da sentença.

Bar com os dias contados

Em 9 de julho de 1965, Atanásio morreu aos 43 anos, em decorrência de problemas intestinais, possivelmente relacionados aos tiros que levou na noite de 1º de julho de 1959. Jorge Moraes, o Lola, faleceu em 1990, aos 68 anos. Já Negrinho surpreendeu os familiares. Escapou da prisão e reapareceu anos depois, com curso e diploma de mentalista e benzedor. Passou a dar consultas em Carazinho, atendendo com o nome de professor Ronaldo Bogliony. Morreu em 2004.

Até 2026, ponto comercial na região central de Santa Cruz deve ser desocupado | Foto: Alencar da Rosa

No início de 1968, a área onde os Naricos moravam foi retomada pela Prefeitura – dona das terras – para a construção do complexo do Sesi. Com isso, os filhos de Joaquina se espalharam, instalando-se em vários pontos do Estado. Thomas, que chegou a ficar cerca de dois anos recolhido até provar sua inocência nos episódios de 1959, morreu em 20 de junho de 1993. Os demais filhos de Joaquina e Florinário Moraes, o velho Narico, também já faleceram.

Atuais locatários do ponto onde o confronto aconteceu, Jair e Leandra Konzen resumem tudo que já ouviram dos clientes sobre o episódio. “Era uma rixa antiga e aquele dia estourou tudo aqui”, comentou o homem de 48 anos. Segundo ele, as conversas de bar sobre o caso e até a estrutura que guarda nas paredes antigas a história que marcou Santa Cruz estão com os dias contados. “Já nos foi pedido para deixar o local, pois querem o prédio”, revelou Jair. O ponto comercial deve ser desocupado até 2026, e a tendência é que o bar seja destruído para a construção de uma nova estrutura.

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