A cadeia produtiva do tabaco está em alerta em relação a uma nova ofensiva dos movimentos antitabagistas em escala mundial. Dessa vez, o que está em risco é a relação do setor com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A OIT vem sendo pressionada a romper laços com a indústria fumageira. Na prática, isso significaria que o setor deixaria de ter qualquer voz ou acesso à entidade encarregada de estabelecer normas trabalhistas internacionais. O pedido foi feito na semana passada, quando mais de 150 organizações governamentais e não governamentais de saúde e de combate ao consumo de cigarros encaminharam uma carta ao conselho de administração do organismo.
No documento, as organizações alegam que parcerias que vêm sendo mantidas pela OIT com empresas de tabaco podem “manchar a reputação e a eficácia do trabalho” da entidade. A agência já recebeu mais de US$ 15 milhões de indústrias do setor para bancar ações voltadas à redução do trabalho infantil. Segundo a carta, essas relações comprometem os esforços mundiais para reduzir o consumo de produtos fumígenos e o impacto sobre a saúde pública.
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O assunto vai ser discutido na reunião do conselho de administração na primeira semana de novembro, em Genebra, na Suíça. Até então, a OIT vem justificando as relações com a indústria fumageira como forma de melhorar as condições de trabalho de pessoas que atuam na cadeia. Apenas na Região Sul do Brasil, são 40 mil empregados nas indústrias, além de 600 mil pessoas nas propriedades produtoras.
ENTENDA
O que é a OIT?
Vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), a OIT é responsável por estabelecer recomendações e convenções trabalhistas internacionais. É composta por 186 países membros.Publicidade
O que representaria a suspensão das relações do setor fumageiro a com a OIT?
O setor perderia voz e acesso às discussões relativas a normas trabalhistas e não poderia mais contribuir com ações da entidade. Além disso, teme-se que as organizações antitabagistas façam uso político dessa suspensão para estimular ainda mais restrições à produção fumageira.
“Existe muita má fé nessas organizações”
Preocupados com a situação, líderes do setor fumageiro querem garantir que as entidades do Brasil que têm assento na OIT – a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Ministério do Trabalho e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) – se posicionem contra a medida. Na semana passada, dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Fumo e Alimentação (Stifa) estiveram com o representante da CUT, em São Paulo.
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Segundo o presidente do Stifa, Sérgio Pacheco, o documento levado à OIT apresenta informações falsas sobre a fumicultura. “Existe muita má fé nessas organizações. Falam que existe trabalho infantil nas usinas, o que é absurdo, e citam produtos que seriam adicionados no tabaco que não são usados há mais de dez anos. Não aceitamos ficar de fora de um órgão como a OIT”, disse. A CUT, conforme Pacheco, se comprometeu em votar pela manutenção das relações com a fumicultura.
Também na semana passada, o deputado federal Heitor Schuch (PSB) levou o assunto ao ministro do Trabalho, o gaúcho Ronaldo Nogueira. Conforme Schuch, a exclusão é “uma tremenda injustiça” e “rebaixaria o segmento a uma subcategoria no mundo do trabalho”.
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