Desde menino, Henrique Luiz habitara às margens do rio dos Sinos. Amou suas águas e sofreu com elas. Estas, reflexo de tudo o mais que acontecia no entorno. Roessler, este seu sobrenome, foi além. Estendeu sua paixão aos demais rios do Estado e suas bacias hidrográficas. Não titubeou em denunciar e anunciar. Bateu firme nos desmatamentos, queimadas, erosões, caçadas, poluições de toda ordem. Ao denunciar procurava compreender a motivação dos inveterados degradadores, para assim propor possibilidades preservacionistas. Não escolheu tempo nem hora para se fazer ouvir e ser lido. Todavia, novembro lhe foi especial. Nasceu no dia 16 de novembro de 1896 e faleceu em 14 de novembro de 1963.
Também foi em novembro, este de 1960, que escreveu uma crônica indagativa: “Tudo só frases?” Mais que apenas perguntar, Henrique Luiz Roessler assim relatou: “Olhai em roda na querida Pátria. Vedes alguma proteção à natureza digna de nota? Não vedes em compensação em toda parte violação da natureza, destruição das florestas, massacre dos animais e peixes, mau trato da terra e da água?” E seguiu o cronista: “E não chegareis então à conclusão de que a maior parte é frase? Isso soa forte, mas precisa ser dito de uma vez. O que adianta se nos enfumacemos reciprocamente com incenso, nos ovacionemos em congressos, nos homenageamos e condecoramos por nada, se festejamos uma medida sem importância, às vezes antes de pô-la em pratica. Isto tudo é ilusão, desvio do problema, política de avestruz; é ofuscar o horizonte, tapar o sol com peneira, disfarçar os fatos, o que só contribui para que tudo fique pior. Falatório aqui, gargalhadas ali, esta é a nossa proteção à natureza, e enquanto folgamos em inatividade, a devastação dos nossos recursos naturais continua alegremente.”
A crônica de Roessler (Correio do Povo, 4 de novembro de 1960) poderia receber a data de hoje, deste novembro em que a COP 26 se debruçou sobre as condições climáticas planetárias no intuito de pactuar compromissos. Se o teor reboa atualidades, também a interrogação do título se faz urgente, até porque, como disse o pioneiro do ambientalismo gaúcho na mesma crônica: “Belíssimas orações e pomposas frases nada nos adiantam. Queremos ver ações, agarrar os resultados com as mãos.”
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Que em breves dias possamos dizer que não se repetiram as mesmas frases, que inauguramos tempos diferenciados e já não nos percebemos fora da natureza, mas seus integrantes corresponsáveis. Sim, das necessárias palavras proféticas podemos passar para atitudes redentoras, dos desejos acalentados por precursores nos cabem realizações vigorosamente modificatórias. Que o juramento de Roessler nos seja motivador: “Juro solenemente como filho do Brasil, orgulhoso de suas belezas e riquezas naturais, zelar pelas suas florestas, sítios e campos, protegendo-os contra o fogo e a devastação, fomentar o reflorestamento, conservar a fertilidade do solo, a pureza das águas e a perenidade das fontes e impedir o extermínio dos animais silvestres, aves e peixes.”
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