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Opinião: os feiticeiros

Eleições. Mais uma em nossas vidas. E o que elas têm em comum? Renovam-se as promessas e os planos de solução dos habituais problemas. Em qualquer esfera de poder, campanhas eleitorais e novos governos são sempre muito criativos. Criativos até demais!

São planos de ações, programas e projetos, antecipadamente apregoados como extraordinários. Infelizmente, à luz das promessas de campanha, raramente realizam-se. Aliás, é de nossa (péssima) tradição legar aos sucessores e aos cidadãos as meias soluções e as obras inacabadas.

Dito de outro modo: são problemas por inteiro. O que, invariavelmente, resulta em descrédito político e desperdício de recursos humanos e financeiros, déficit público e inflação.

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O mais surpreendente é a repetida e inesgotável capacidade dos candidatos e governantes retornarem à cena pública para prescrever os “novos” remédios e as criativas soluções. Como se não houvera passado. Porém, há algo mais incrível: nós acreditamos!

Trata-se de uma inevitável analogia com o mundo místico, com o universo mágico e com o sistema de crenças. A regra geral do sistema de crenças consiste em que o fracasso acaba por reforçar a credibilidade, à medida que o erro se deve a um desempenho incompleto e equivocado na aplicação dos meios, ou, vulgarmente, dos ingredientes da receita.

É o que ocorre nos rituais e crenças, quando magos, feiticeiros e assemelhados, diante do resultado não esperado, atribuem a falha não à crença em si, mas aos meios utilizados, que tanto podem ser uma reza mal feita, um ciclo lunar indevido, sacrifícios não cumpridos, ervas velhas e malcheirosas. Repito, surpreendentemente continuamos acreditando!

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Porém, essas fracassadas “ações de magia e encantamento” não desfazem nossas esperanças, sem as quais nós nos tornaríamos intolerantes e implacáveis com as formas de poder de estado, sobretudo aquelas que usurpam e manipulam (e legislam) na manutenção de seus feudos, onerando e comprometendo os cofres públicos e os bolsos do povo.

Em nome dessa renovada esperança, almejamos que os feiticeiros façam a sua reciclagem, começando pelo próprio ego, inflado por natureza e retórica, e renunciem à sedutora tentação de reinventar a roda.
Que limitem-se ao exercício da humildade e do possível. A medida do possível. Eis o diferencial entre a receita mágica e a promessa viável. Mas importa saber ouvir e compreender!

O chinês Confúcio dizia que “um homem que comete um erro e não o corrige está cometendo outro erro”. Mais ou menos o que dissera o romano Cícero: “Qualquer pessoa pode errar, mas só os tolos persistem no erro”.

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