Luis Ferreira

Opinião: o silêncio de Rublev

Pouco se sabe sobre a vida de Andrei Rublev, o maior pintor de ícones religiosos da Rússia. Monge além de artista, viveu entre os anos de 1360 e 1430, num período conturbado pelas invasões tártaras. Com sua dedicação e excelência na arte sacra, tornou-se um santo para os devotos da Igreja Ortodoxa russa – e efetivamente foi canonizado em 1988.

O pouco que se conhece sobre sua vida foi retratado no célebre filme Andrei Rublev, dirigido pelo também russo Andrei Tarkovsky em 1966. As (muitas) lacunas foram preenchidas pela imaginação do cineasta.

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O Rublev de Tarkovsky procura um chão firme em meio à guerra e à violência, e encontra na arte a saída. A fé em Deus, o trabalho artístico e a confiança no caráter do povo russo, acossado por invasores cruéis: esses são os seus pontos de referência. E todos serão abalados de alguma forma, em dado momento da trajetória.

Rublev testemunhará, envergonhado, como um líder russo vai trair seu povo e se aliar aos tártaros, movido apenas pela chance de assumir o poder. Mas o pior golpe ainda está por vir. Durante o ataque à cidade de Vladimir, os invasores saqueiam e depredam a catedral, local onde Andrei Rublev e centenas de pessoas buscam refúgio. No filme de Tarkovsky, a imagem é forte: dentro da imensa igreja agora devastada, o monge artista queda-se ajoelhado diante dos afrescos sublimes que ele mesmo criou, cercado de cadáveres.

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Antes, consegue salvar uma menina agredida por um dos inimigos, mas a um custo alto: será obrigado também a matar. O conflito interior que decorre é tão intenso que o reduz ao silêncio. As palavras não dão mais conta do que sente, e ele decide se calar.

Permanece calado por mais de uma década. Rublev exila-se em um vilarejo, isola-se, nem a arte parece capaz de tocá-lo. Perdera a fé? Tudo muda quando presencia o esforço de moradores empenhados na construção de um novo sino para a catedral de Vladimir. Tarefa bem difícil. Certo dia vê um jovem, quase uma criança, chorar por medo do fracasso. Rublev se aproxima. Começa a falar.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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