Os últimos anos têm sido difíceis. Antigamente, o som das gotas de chuva no telhado me tranquilizava. Hoje, causa medo. O temporal vai durar quanto tempo? Será forte demais? Nossa relação com os fenômenos naturais vem se transformando, por efeito da repetição de catástrofes que não conseguimos evitar. É com sensação de impotência que assistimos, mais uma vez, às cenas de casas arrastadas pela água, moradores desalojados e cidades com sua infraestrutura devastada.
As imagens parecem saídas de uma ficção apocalíptica. Pontes desmoronando, deslizamentos que causam mortes, municípios isolados pela água de rios transbordantes. Hospitais com serviços suspensos, cidades onde falta energia elétrica, água potável, sinal de internet. Rodovias bloqueadas, helicópteros por toda parte em operações de resgate. Vidas que não puderam ser resgatadas.
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É o maior desastre na história do Rio Grande do Sul, como dizem, e a reparação dos danos não será fácil. Mas como impedir que volte a acontecer? A natureza só precisa de poucas horas para nos reduzir à insignificância.
Mesmo que o cenário seja amedrontador, o pensamento não deve ficar paralisado, o medo não pode dominar. Um início de reação positiva seria não piorar o que já está péssimo com alarmismo inútil e informações falsas, ou no mínimo precipitadas. Pois ainda não acabou.
Cancelam-se eventos como a Feira do Livro, em decisão mais do que compreensível. Afinal, como diria o Luis Fernando Verissimo, “literatura numa hora dessas?”. Mesmo assim, não posso deixar de lembrar de um conto do francês Émile Zola (1840-1902), intitulado A inundação.
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Na história, um fazendeiro e sua família vivem um momento especialmente feliz. As colheitas daquele ano seriam formidáveis, o que lhes permitiria ampliar o patrimônio, adquirir terras. E nada parecia capaz de abalar tanta prosperidade. Até que uma chuva torrencial começa a desabar e se estende por dias. Sem parar.
“…Na grande serenidade do campo, ressoou um grito terrível, de angústia e de morte: O Garonne! O Garonne!” Esse é o rio que sai do leito e invade o vilarejo, destruindo plantações e arrastando animais. Até chegar à casa, aparentemente intocável, da família. Que, em cena tristemente contemporânea, precisa se refugiar no telhado para tentar sobreviver.
Vai durar quanto tempo?
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