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Opinião: isso não é comigo

Alguém já parou diante de um poste da rua para observar o emaranhado incontável de fios e cabos ali dependurados? Se quiser compreender um pouco sobre a teoria do caos, o material didático está ali, com acesso gratuito. Mas, no processo de aprendizagem, os professores – aqueles que sobem nos postes – são péssimos, porque nunca sabem nada.

Caminho muito pelas ruas da nossa cidade e fico impressionado com a quantidade de fios caídos, arrebentados, meses ali sem que haja providência por parte de algum responsável. Nem preciso sair de casa, basta observar o que vejo da janela da minha biblioteca. Por vários meses, um cabo grosso ficou rebaixado na entrada da nossa garagem, chegando praticamente a bater no teto do carro. Toda vez que alguém aparecia para subir no poste – o que acontece com alta frequência –, eu abordava o vivente e a resposta era invariavelmente a mesma: Isso não é comigo!

Nem todos os transeuntes são especialistas em eletricidade e nem sempre conseguem identificar se um fio está energizado ou não. Um vizinho nosso entende do assunto e decidiu cortar os fios caídos e deixá-los à disposição em sua garagem. Já são alguns quilos armazenados e, ao que parece, não fazem falta. Então, deve haver muito fio inútil no meio desse cenário caótico. Uma lei municipal, atualizada em 10 de setembro de 2021, trata do tema, dispondo sobre o alinhamento e a retirada de fios existentes em postes de energia elétrica, dando prazo de 48 horas para resolver problemas detectados.

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Não sei quem fiscaliza o cumprimento, mas a impressão que se tem é de que se trata de uma terra de ninguém, um território sem lei, sem xerife, sem limite e sem respeito. Os riscos de graves acidentes parece que estão fora das cogitações dos responsáveis ou proprietários dos postes. Sei que estes são muitos, mas se o agricultor não consegue cuidar dos milhares de pés de milho, que não os plante, ou deixe outros fazer isso. Se plantar e não cuidar, não vai colher.

Há pouco tempo, alguns homens estavam trabalhando na esquina das ruas da Figueira e Pita Pinheiro. Não sei de que empresa eram, mas quando foram embora deixaram um respeitável rolo de fios novos ali abandonados. Para quem costuma se aventurar subindo em postes para furtar, correndo risco permanente de morte, estava disponível material de acesso fácil, favorecendo até o abominável conceito ético de que “achado não é roubado”.

A própria estética da cidade fica desmerecida diante desse cenário inadmissível. E se os cidadãos acham que nada têm a ver com isso, estão enganados. Certamente o aluguel do poste está embutido nas contas de luz, telefone, internet, enfim, de cada empresa que ali compartilha o espaço. Até nem sei se algum joão-de-barro desavisado, que ali resolve se estabelecer, não tem que recolher uma taxinha também.
É muito cômodo dizer “isso não é comigo”, no entanto essa resposta sempre decepciona, desencanta quem busca uma solução. Se não é contigo mas está na tua proximidade, ajuda a resolver. Essa atitude não se aplica apenas aos responsáveis pelos fios e postes da rua, ela se estende até a uma simples resposta que posso dar a quem me pergunta onde fica uma loja, uma repartição, ou, coisa superior, onde possa realizar seus sonhos.

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Marcio Souza

Jornalista, formado pela Unisinos, com MBA em Marketing, Estratégia e Inovação, pela Uninter. Completo, em 31 de dezembro de 2023, 27 anos de comunicação em rádio, jornal, revista, internet, TV e assessoria de comunicação.

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