Ao chegar à velhice um dos erros mais comuns é comparar épocas. Quase sempre isso acontece a partir do uso de expressão surrada:
– Ah… no meu tempo era tudo muito melhor!

Adotar esse comportamento remonta à criação do mundo. Confesso que, depois de seis décadas de vida, é praticamente impossível deixar de analisar de maneira crítica as mudanças ocorridas nos últimos anos neste mundão de Deus. Juro a vocês que tento não lembrar de como era e como a vida acontece hoje, mas é inevitável.

Uma das coisas que me impressiona nos dias de hoje é a falta de determinação e de perseverança que se vê por aí. Talvez isso seja consequência das facilidades à disposição para realizar quase todas as tarefas do cotidiano. Hoje há respostas para tudo e que estão ao alcance de uma teclada no celular ou até mesmo no relógio de pulso.

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No meu caso, as diferenças ficam ainda mais gritantes porque pertenço a uma geração em que o conforto era mínimo, a tecnologia engatinhava e a força física imperava no dia a dia. Quase tudo era penoso, exigindo muito esforço e humildade para aprender e respeitar os pais, seres que não admitiam contestação, perguntas ou dúvidas.

Outra característica dos dias atuais é a incapacidade para conviver com o fracasso, com o erro, com a crítica, obstáculos e com as dificuldades inerentes à condição humana. Basta aparecer uma adversidade, por menor que seja, para que o desânimo tome conta do vivente. E logo se transforma em desespero, incapacidade de refletir, reagir e buscar alternativas. Não raro, a contrariedade do momento se transforma em revolta.

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Dialogar para um exercício árduo, de difícil assimilação. A imposição do pensamento único ou da ausência de determinação para superar óbices retarda o amadurecimento dessa geração que nasceu com todas as comodidades. Quase todos os movimentos são facilitados pela onipresença da tecnologia.
Apesar da inédita quantidade de canais de comunicação, é raro encontrar pessoas com pensamento divergente que buscam socorro no diálogo. O comportamento belicoso diante das contrariedades pode ser visto em abundância nas redes sociais, uma verdadeira arena de vale-tudo. É um retrato do mundo atual.

Costumo dizer que passamos da época do “nada pode” para o “tudo pode” de hoje. Jamais confrontávamos ordens de nossos pais, impedindo o diálogo. Hoje, pais são desrespeitados, professores são agredidos em sala de aula. Procura-se hierarquia, respeito, sensibilidade e postura equilibrada em todos os segmentos. Como meu saudoso pai sempre dizia:

– O bom senso nunca está nos extremos. Está sempre no meio- termo.
Infelizmente há poucas perspectivas de termos um mundo mais cordial. O comportamento agressivo parece render mais “likes” e curtidas e, em consequência, dinheiro, fama e destaque.

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Gilberto Jasper

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