Quantas histórias, pessoas e acontecimentos já passaram pela área central de Santa Cruz do Sul? Quais os inúmeros “causos” que já foram contados na Marechal Floriano, na Deodoro, na 28 de Setembro ou na Júlio de Castilhos? São variadas as narrativas que permeiam o bairro mais importante da cidade, onde o comércio é pujante, onde vivências viraram livros e onde foram erguidas edificações que entraram para a história.
É o Centro o lar da Catedral São João Batista, ponto religioso e turístico que se une à Praça Getúlio Vargas para o bom acolhimento dos visitantes. O Centro é casa do Parque da Oktoberfest, palco de grandes eventos da região. Foi no bairro que a cidade de Santa Cruz deu seus passos iniciais. Clubes, como o Aliança e o União, foram os primeiros a se instalarem no local. Também escolas, como o Mauá e o São Luís. E como não falar no Túnel Verde? A cobertura natural de vegetação da Marechal Floriano proporciona um clima mais agradável, não só no verão, mas também no inverno.
Ao fim do túnel, chega-se à Praça da Bandeira, que abriga o Palacinho da Prefeitura. As paredes do prédio, ocupado em 1889, já viram muitas decisões importantes serem tomadas. Mas não é só de assuntos sérios que a esquina da Floriano com a Borges de Medeiros vive. Nos finais de tarde, as ruas transformam-se em ponto de encontro para happy hours e festas. Cai a noite com risadas e música, mas, depois, amanhece o dia, e começa tudo de novo no centro de Santa Cruz.
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A Viela de Santa Cruz
Até 28 de setembro de 1878, Santa Cruz era a Freguesia de São João de Santa Cruz, pertencente a Rio Pardo. A solenidade de instalação da viela de São João de Santa Cruz ocorreu na primeira sede do governo, na esquina das ruas São Pedro (atual Marechal Floriano) e Taquarembó (atual 28 de Setembro). Ali funcionava a Câmara Municipal. Hoje, o prédio é ocupado por uma farmácia. Naquela época, a população do novo município era de 10 mil pessoas. Destas, apenas mil residiam na vila.
Sabe-se que o município de Santa Cruz do Sul começou a ser habitado onde hoje estão situadas as localidades de Linha Santa Cruz, Boa Vista e Entrada Rio Pardinho, mais tarde. Mas a cidade, ou seja, o centro comercial, começou a nascer naquela mesma esquina, da Marechal com a 28 de Setembro, rua que leva o nome do dia em que foi instalada a Câmara Municipal da Viela de São João da Santa Cruz. Foi em 1905 que o status de vila foi elevado para cidade. Naquele ano, 27 anos após a instalação da Viela, já eram 5 mil moradores e outros 6 mil que residiam no interior.
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A antiga Estação Ferroviária, prédio histórico que hoje pode ser visto e visitado na Praça Siegfried Heuser, situada na Rua Ernesto Alves, também no Centro, era a responsável por recepcionar os visitantes que chegavam à nova cidade. De acordo com jornais da época, no dia 19 de novembro de 1905, o governador Borges de Medeiros inaugurou o ramal ferroviário, que já funcionava desde setembro. Naquele dia, cerca de 6 mil pessoas foram até a estação recepcionar Borges e outras personalidades. Durante a noite, autoridades participaram de um baile no Clube União. O Aliança e o Clube Recreio Familiar também festejaram com eventos.
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Antes disso…
No livro Uma cidade imperial, o autor Flávio Benicio Schuh conta que o local escolhido para ser a área urbana central do então povoado de Santa Cruz era conhecido como Faxinal de João Faria. “Tinha vegetação baixa e rasteira, o que facilitou a demarcação dos lotes e a implantação do povoado. As primeiras ruas e quadras foram demarcadas no dia 4 de novembro de 1854, quando passou à condição de Povoação de São João de Santa Cruz”, descreve o autor.
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A hoje chamada Júlio de Castilhos, uma das principais vias da cidade, era nomeada de Rua do Império. “Observando os nomes originais das ruas, podemos concluir que a Rua do Império, pela força do nome, nos leva a pensar que era a mais importante, isto é, o eixo principal, e hoje é conhecida como Rua Júlio de Castilhos”, diz outro trecho do livro.
Como não falar da Catedral?
A imponente Catedral São João Batista se destaca na área central de Santa Cruz do Sul e é o principal ponto turístico urbano. Suas torres, com mais de 80 metros de altura, podem ser vistas de diversos bairros. Para quem visita o Centro, seja pela primeira vez ou mesmo após dezenas de oportunidades, é de praxe fazer uma fotografia em frente à igreja.
As tratativas para a construção da Catedral São João Batista começaram em 1855, quando Santa Cruz ainda era uma colônia. O projeto do templo fazia parte também da implantação do núcleo urbano. A primeira igreja matriz, que ficava na frente da atual, foi concluída no dia 12 de dezembro de 1861, mas sua inauguração só aconteceu dois anos depois.
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A igreja passou por ampliações que acompanharam o desenvolvimento econômico da então Vila de Santa Cruz: a primeira em 1880 e a segunda entre 1900 e 1901. Já por volta de 1920, mudanças no perfil socioeconômico de Santa Cruz levaram a comunidade a retomar a discussão sobre a construção de uma nova igreja. A atual catedral quase virou uma edificação feita no modelo barroco, um projeto vencedor após um concurso. Porém, mais tarde, e mais uma vez, optou-se por um outro modelo, que abrigasse mais fiéis e de forma confortável.
Por fim, o projeto para a construção da Catedral São João Batista, erguida em estilo neogótico, só foi aprovado em 1928, após muitos debates e percalços. Iniciada em 1929, atrás da então matriz, e custeada pela comunidade, a obra finalmente foi concluída em dezembro de 1939. Iniciou-se então, em março de 1940, a demolição da antiga igreja.
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A Gazeta
Entre os inúmeros pontos de referência do Centro, no comércio, na prestação de serviços ou entre as organizações públicas e privadas, há mais de 77 anos consta a Gazeta. A empresa teve sua história ligada a esse bairro desde os seus primórdios, em 1945. É comum ouvir dizer: “É lá, perto da Gazeta”. Assim, o grupo de comunicações consta entre as marcas associadas à região central de Santa Cruz do Sul.
Ao longo das décadas sediada na Ramiro Barcelos, a alguns metros da Catedral São João Batista e da Praça Getúlio Vargas, a Gazeta acabou por agregar sua história à de todas as demais organizações, de diversos portes, que surgiram, cresceram ou se estabeleceram nesse espaço urbano central, enfatiza o diretor-presidente do grupo de comunicações, André Luís Jungblut.
“Para a Gazeta, e isso já desde o começo, desde os tempos de nosso fundador, Francisco José Frantz, é uma honra fazer parte da memória da região central da cidade, em meio a todos os nossos vizinhos, e ao mesmo tempo ter a missão e o privilégio de contar e registrar essa mesma história, os fatos e o progresso que esse e todos os demais bairros, e a região inteira, alcançaram ao longo das décadas”, salienta.
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Áreas de lazer
O Bairro Centro é também onde há várias opções para quem quer aproveitar o dia em áreas verdes. O Parque da Oktoberfest, por exemplo, não é apenas usado para a realização de grandes eventos. É possível praticar esportes, fazer atividades físicas ou simplesmente aproveitar a natureza que há no parque.
Mas a mais famosa é a Praça Getúlio Vargas, já que se situa bem em frente à Catedral São João Batista. Em 1854, ela recebeu o nome de Praça de São Pedro, em homenagem ao imperador Dom Pedro II. Mais tarde, passou a se chamar Praça da República; e quando Getúlio Vargas se tornou presidente do Brasil, a praça passou a levar o nome que tem hoje. Já na década de 1940, o chafariz que se vê ao centro da praça foi construído.
Indo mais além pela Marechal Floriano, chega-se à Praça da Bandeira, que é onde está o Palacinho da Prefeitura de Santa Cruz. Ela também já foi chamada de Praça Simões Lopes, depois virou Praça do Carvalho. Em 1885, surgiu a necessidade de se construir um prédio para a Câmara Municipal, que seria concluído em 1889. Em estilo eclético, ele remete aos templos gregos. Em 1900, por ato administrativo, recebeu o nome atual de Praça da Bandeira.
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Hotel tradicional na cidade
Na esquina da Marechal Floriano com a Sete de Setembro está um dos mais antigos hotel de Santa Cruz do Sul, o Charrua. A gerente, Cristiane Holanda, conta que o Hotel Charrua iniciou suas atividades em 1967. “Era do grupo Ipiranga. Eles tinham oito hotéis aqui na região, inclusive em Porto Alegre. Depois resolveram não trabalhar mais com hotelaria, desfizeram-se e empresários compraram os hotéis. Hoje em dia não é mais uma rede, são hotéis independentes.”
Desde lá, foram necessárias algumas adaptações à nova realidade, como o investimento no estacionamento próprio. “Vamos ter que nos desfazer de uma das salas para aumentar por conta da demanda. Temos clientes de eventos que às vezes não encontram onde estacionar, e viemos numa crescente bem grande com relação à ocupação. Vemos essa necessidade de aumentar o estacionamento para atender os hóspedes”, acrescenta Cristiane.
Para a gerente, a localização, em espaço tão central e próximo de tudo, é o ponto mais forte do Charrua. “Para quem quer sair à noite, estamos cercados de excelentes opções de cervejarias, bares e restaurantes. Muitas pessoas vêm porque já são clientes, mas a maioria é pela localização.”
Também é local de empreendimentos
A Rosacruz Incorporadora tem como proposta o investimento no Centro. “Na região central, temos retorno de investimento para o cliente final e para o investidor. E também é onde está localizado o maior volume de imóveis para aluguel, com a maior taxa de ocupação”, explica o CEO da empresa, Ricardo Franck.
Franck destaca que as pessoas procuram o Centro porque é onde está grande parte dos serviços, como lazer, saúde e transportes, entre outros. “A qualidade de vida está diretamente ligada a praticidade e conveniências. Quando a pessoa ganha tempo, fica mais disponível para outras questões, como lazer, atividades físicas e intelectuais. O morador acaba tendo uma performance melhor na vida e mais tempo para fazer coisas que dão equilíbrio”, complementa. “Para o investimento imobiliário, no caso de Santa Cruz, o Centro é o melhor.”
Alguns dos empreendimentos da Rosacruz no Centro são: o Rosa Center, o Unic, o Gaia e o Gaudí. “Por exemplo, o Gaudí, situado na Tenente Coronel Brito, coloca o morador em acesso às conveniências da cidade e internamente com vários confortos cotidianos. Colocamos espaços dentro dos apartamentos para poder ter home office e também coworking, para poder desenvolver atividade profissional dentro do prédio”, menciona o CEO.
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Centro é o lugar favorito para o happy hour
Mauricio Trevisan, proprietário da Saint Lager, relembra que quando ele e a esposa Ana Elizabeth Haas Limberger decidiram abrir o estabelecimento, queriam um nome que lembrasse a cidade. “Alguma coisa com santa, santo. Como a gente vende chocolate, pimenta, café, chope, cerveja, vinho, pensamos em um armazém. Passamos para o alemão, então Saint Lager é um armazém santo. A nossa marca é o desenho da Catedral”, frisa.
Localizado na Marechal Floriano, 411, quase na esquina com a Borges, o Saint Lager foi pensado para estar no endereço onde está hoje. “Eu sempre ‘namorei’ essa loja e sempre via o pub aqui.” Aberto das 10 às 22 horas, o estabelecimento conta com estacionamento próprio, um diferencial no movimentado Centro. “Temos café, presentes e opções para o pessoal que sai do trabalho, que vem para aproveitar e fazer um happy hour.”
Trevisan também comenta que a variedade de pubs que existem nas proximidades da Floriano com a Borges acaba gerando uma concorrência saudável. “Eu acho que nessa área até tem que ter mais estabelecimentos nesse estilo de pubs, bares. Quanto mais perto uns dos outros, mais movimento. Nem vejo como concorrentes, me dou bem com todos os vizinhos”, finaliza.
Figura conhecida
Apesar de não ser brasileiro e morar em Santa Cruz do Sul há 13 anos, um personagem se destaca no Centro. Quem passa na Rua Marechal Deodoro, esquina com a 28 de Setembro, vê Nelson Muñoz, de 52 anos, fazendo malabarismos, com o rosto pintado e vestimentas de palhaço.
Natural da cidade de Valdívia, no Chile, Munõz veio para Santa Cruz em 2009 e, desde então, segue animando os motoristas e pedestres que passam pelo Centro. “Eu estava morando em Florianópolis e conheci minha ex-mulher, que era de Santa Cruz. Eu vim com ela, mas me separei e continuei morando aqui.”
Ele comenta que gosta de morar na cidade principalmente pela grande presença de árvores e por não ser tão frio quanto no Chile. “É uma cidade muito bacana”, afirma. Além do trabalho como palhaço, Nelson faz artesanato e tem uma loja no Chile, na qual trabalha nas temporadas em que vai para o país de origem, geralmente entre janeiro e março.
- Colaboração: José Augusto Borowsky
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