Recorrer ou não a terapias alternativas? Restringir ou não a dieta? A escola pode cobrar taxa extra? Essas são algumas dúvidas que pais, familiares e amigos de pessoas com autismo podem ter. A internet, com tantas opiniões, nem sempre é um ambiente seguro para pesquisas. No Dia Mundial da Conscientização do Autismo, a Agência Brasil conversou com algumas pessoas que são referência no assunto e reuniu algumas fontes de informação.
Educação
“Responder à pergunta de qual é a escola ideal é um pouco complicado. A escola ideal é aquela com a qual a família se identifica com as ideias e que está próxima à residência”, diz a coordenadora do Diversa, Aline Santos. “É preciso mudar a cultura que associa autismo a dificuldade de aprendizagem ou deficiência de aprendizagem. Toda criança aprende. Ter autismo não significa que não aprenda. Tem de quebrar essa ideia de limitação e focar nas potencialidades que se pode desenvolver”, complementa.
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Aline esclarece que as escolas são proibidas de cobrar taxa extra de estudantes com autismo ou de qualquer estudante com deficiência. Além disso, escolas não podem recusar matrículas e devem se adaptar às necessidades dos alunos. As instituições são também obrigadas a oferecer um profissional de apoio caso seja constatada a necessidade, mesmo que temporária dele.
O Diversa é uma iniciativa do Instituto Rodrigo Mendes, em parceria com o Ministério da Educação e diferentes organizações comprometidas com o tema da equidade. O objetivo é apoiar redes de ensino no atendimento de estudantes com deficiência em escolas comuns. No site, estão disponíveis conteúdos teóricos e práticos sobre educação inclusiva e um serviço de atendimento a dúvidas dos usuários.
Quem se interessar, pode integrar, no portal, uma rede de troca, formada por usuários do portal e participantes de encontros presenciais.
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Associações civis
Para a vice-presidente da região Sudeste da Associação Brasileira de Autismo (Abra), Marisa Furia Silva, não há tempo a perder, especialmente em se tratando de crianças com autismo. “Às vezes surgem coisas e as famílias acabam indo atrás achando que vai funcionar. Não se pode perder tempo com isso. É preciso buscar pontos de vista de profissionais da área, de universidades, antes de qualquer tratamento. As associações também têm um papel importante na informação.”.
A Abra reúne, em nível nacional e internacional, as entidades voltadas para atenção das pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo. Nasceu para que as diversas associações de pais e amigos de pessoas com autismo que surgiam regionalmente no país tivessem uma representação nacional. No site, está disponível, por localidade, uma lista com as entidades filiadas.
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Mobilização
“O Dia da Conscientização é um dia para que as instituições, as pessoas e familiares possam discutir de forma mais ampla seus direitos. Infelizmente, a população não tem conhecimento das características que definem a pessoa com autismo. Não há um exame clínico, mas uma série de fatores e evidências que levam ao diagnóstico”, informa a presidente da Associação de Amigos do Autista (AMA) de São Paulo, Maria de Fátima da Silva Souza.
Por meio de convênios com as secretarias estaduais de Educação e da Saúde, a entidade oferece atendimento especializado, diário e totalmente gratuito a mais de 300 crianças, jovens e adultos que apresentam o transtorno. Além disso, oferece palestras e serviços gratuitos a profissionais e familiares sobre o tema. No site, estão disponíveis cartilhas, além da legislação que protege as pessoas com autismo.
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Neste domingo, 2, às 14 horas, no Parque Mário Covas, Avenida Paulista, a AMA fará uma mobilização visando conscientizar sobre os desafios de instituições e familiares que lidam com o autismo. A ideia é articular políticas públicas que ajudem a garantir a cidadania de todos que apresentam o transtorno no país.
Saúde
Segundo o coordenador do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Francisco Assumpção, o cuidado começa já no diagnóstico, é preciso que o médico seja especializado na questão para dar um diagnóstico preciso.
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“Muitos são os autismos e isso muda o tratamento. Só um terço das pessoas com autismo precisa ser medicado. Os remédios vão diminuir os sintomas. Quando o grau do autismo é alto, tem de diminuir alguns sintomas como agitação, agressividade, impulsividade, coisas que vão atrapalhar o real tratamento que é a estimulação”.
Os profissionais mais indicados, de acordo com Assumpção, são os neuropediatras e os psiquiatras da infância. Eles deverão indicar a estimulação mais adequada para cada caso. “Se fizer qualquer tratamento, a criança ou pessoa com autismo não vai aproveitar. É muito frequente a gente ouvir que é a família que escolhe. A família tem de saber que algumas coisas não têm a menor base [científica] e não ter a menor base significa estar fazendo tratamento que não sabe se vai funcionar”.
Workshop
Desde 2015, o pediatra e neuropediatra da Neuro Saber, Clay Brites, realiza um workshop gratuito transmitido online. O objetivo é reduzir a falta de informação acerca do autismo, que, segundo ele, é um transtorno complexo, variável e que quanto mais cedo é identificado, geralmente até os 3 anos de idade, melhores os resultado das intervenções. Neste ano, o workshop será de 3 a 10 de abril. As inscrições são feitas pela internet.
No workshop, o neuropediatra tratará de questões desde as características básicas do autismo, dos mitos que rondam o transtorno até orientações de como conduzir uma criança com autismo.
“Existem terapias que têm maior evidência científica. Às vezes, os pais ou responsáveis deixam de levar a criança em uma terapia comportamental para levar o filho para fazer hidroterapia, sendo que a primeira é comprovadamente melhor para o desenvolvimento da criança. O objetivo não é desqualificar o que existe, mas nortear a intervenção”, conclui Clay Brites.