Crentes e descrentes, cultos e incultos, ricos e pobres, não importa a sua condição, é da natureza humana a inquietude e a inconformidade com a “(des)ordem das coisas”. Em busca de compreensão e respostas, ou para aquietar o espírito, uns recorrem à filosofia, outros às religiões.
Outras alternativas, tais como o espiritismo, astrologia, numerologia, búzios, tarô e outros meios, esotéricos ou não, também tentam “explicar” o mundo e os destinos pessoais, a razão de nascer, viver, ser e morrer,
Tão fértil quanto a criatividade tecnológica humana é a sua imaginação para criar meios e respostas que deveriam solucionar sua angústia existencial e alimentar sua esperança.
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Atordoados e inconformados, adotamos gurus e fórmulas mágicas. E nos reportamos à simbólica figura de um deus como aquele que poderia nos dar as explicações e justificar o rumo de tudo. Além de nos proteger.
Então, quando sucedem tragédias pessoais e coletivas, sejam nos trágicos fenômenos naturais, nas guerras, nos acidentes, sempre advém uma inevitável pergunta: onde estava Deus?
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Em 1755, Lisboa (Portugal) foi sacudida por um potente terremoto. Ao terremoto seguiu-se um tsunami arrasador, com ondas enormes. Pior: após o terremoto e o tsunami, Lisboa ardeu semanas em chamas.
Milhares de mortes, destruição total, desespero e tristeza. Imediatamente, um grande e extraordinário debate instalou-se, o maior de todos os questionamentos até então.
“– Onde estava Deus?”, perguntavam filósofos, pensadores, religiosos, reis, governantes e o próprio povo. Eram tempos em que tudo era responsabilidade de Deus. O que acontecia e o que não acontecia!
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Muitos historiadores atribuem à catástrofe portuguesa um enorme impulso nas ideias iluministas que já prosperavam à época. O filósofo francês Voltaire (1694-1778), autor do “Poema Sobre o Desastre de Lisboa”, ironizou a onipotência e a benevolência de um deus todo-poderoso.
Voltaire citava o filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.), que dissera: “Ou Deus quis impedir o mal e não pode, ou pode e não quis. Ou mesmo nem quis e nem pode. Se quis e não pode, não é Deus; se pode e não quis, não é bom. Se quer e pode, qual a origem de todos os males?”
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No livro O último dia do mundo (2011), o autor Nicholas Shrady diz que a lição que esse terrível acontecimento pode oferecer para as tragédias é a de que “o homem está no centro de nossa resposta ao desastre, e não a providência, a metafísica ou a ira de um Deus vivo”.
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