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PREOCUPAÇÃO

Oito mil toneladas de tabaco podem ‘sobrar’ na safra

Na reta final da comercialização da safra 2019/20 de tabaco no Sul do Brasil, muitos produtores enfrentam um imprevisto: não estão conseguindo negociar todo o seu produto. Isso estaria ocorrendo por duas razões: em parte, porque famílias plantaram mais do que o constante no contrato firmado junto às empresas às quais estão integradas; e um segundo motivo é que em alguns casos a produtividade das lavouras ficou acima da estimativa feita pelo orientador agrícola da empresa.

Avaliação da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) sinaliza para excedente de cerca de 8 milhões de quilos, ou 8 mil toneladas, que corre risco de ficar nas propriedades. Além de agora não conseguir transformar esse produto colhido em receita, importante para a própria sustentação, o produtor ainda tem de arcar com a tarefa de armazenar e conservar as folhas, sempre perecíveis.

A estimativa global da produção para os três estados do Sul na safra é de colheita de 646.991 toneladas. Até meados de julho, mais de 600 mil toneladas haviam sido comercializadas, 93% do estimado para a temporada. A perspectiva é de que nos próximos dias a compra esteja concluída, quando então a Afubra poderá avaliar a safra em termos de produção, produtividade e remuneração recebida pelos agricultores.

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Em entrevista ao programa Rede Social, da Rádio Gazeta FM 107,9, o presidente da Afubra, Benício Albano Werner, referiu aos jornalistas Maria Regina Eichenberg e Leandro Porto que três audiências públicas foram realizadas, de forma virtual, entre representantes das entidades dos produtores para discutir a questão dos excedentes. Werner frisou que, em geral, a cada safra parcela dos produtores planta mais do que o total de pés contratado junto à empresa.

No entanto, com o cenário da pandemia, e diante das supostas dificuldades de colocação de parte do produto no mercado internacional, a depender da qualidade, algumas empresas na atual safra estão adquirindo apenas o volume da estimativa. E, conforme Werner, até discrepâncias em relação a esse volume estariam acontecendo. “Temos o relato de produtores que informam que nem houve a assinatura de estimativa feita entre o produtor e o orientador agrícola da empresa, o que é um acordo que temos no sistema integrado. Agora, a empresa não estaria nem adquirindo o produto que efetivamente foi colhido pelo agricultor.”

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As entidades buscam pressionar e tentar sensibilizar as empresas para que adquiram a produção, justamente porque se trata de um ano atípico, que tende a ser muito difícil para as famílias, e estas nem sempre dispõem de estrutura e espaço físico para armazenar o tabaco que sobra. Caso não consigam vender, correm risco de ter de guardar as folhas até a próxima safra, para então tentar negociar esse excedente anterior. “E as folhas são muito perecíveis, sujeitas a ataques de traças ou perda de qualidade por causa de umidade ou mofo”, observou.

“Nosso entendimento é de que as empresas deveriam, sim, fazer esforço para adquirir esse tabaco que foi produzido. Até porque em anos anteriores sempre fizeram isso, e para os produtores é complicado deixar de contar com os recursos para sua subsistência.”

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“A empresa sempre sabe”, diz presidente da Fetag

Uma constatação no interior é a atuação, em muitas localidades, dos chamados atravessadores, ou picaretas. Eles negociam o tabaco diretamente com os produtores, buscando adquirir a produção, inclusive os excedentes, mas, em geral, pagando abaixo da tabela ou do valor de cada classe.

De acordo com o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, também em entrevista aos jornalistas Maria Regina Eichenberg e Leandro Porto, no programa Rede Social, da Rádio Gazeta FM 107,9, em muitos casos esse tabaco adquirido por atravessadores tem como destino justamente as empresas. “É uma forma de elas até comprarem o tabaco dos produtores de outra empresa. O atravessador então vai ao mercado em busca daquele tabaco ou daquele tipo de folha que elas mais procuram, ou querem.”

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Joel advertiu que os orientadores agrícolas das indústrias sempre têm conhecimento de quanto tabaco cada produtor efetivamente plantou, e que em outras temporadas se beneficiaram desse expediente para garantir mais produto, a fim de abastecer sua clientela.

“Estamos pedindo essa sensibilidade porque as empresas não estão trabalhando como deveriam trabalhar. Se alguns produtores plantaram um pouco a mais, foi porque as empresas sempre compraram esse produto, e elas próprias até fomentam esse plantio a mais. A empresa sempre sabe quando o produtor planta mais”, frisou. Por outro lado, disse que o mercado externo costuma oscilar bastante, e que talvez logo adiante as empresas dependerão do produto, que agora demonstram não querer adquirir, para atender aos seus próprios compromissos.

Salientou ainda que no Sul do Estado, na região de Canguçu, supostos compradores de firmas catarinenses estariam aplicando golpes. “Produtores negociaram a produção e não receberam o pagamento. Foram vítimas de um golpe. Até nisso os agricultores precisam estar atentos para não perder a sua produção”, comenta.

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