Quando se pensa em agricultura, é comum lembrar de Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estados mais tradicionais e consolidados em nível nacional no cultivo de grãos. Com o avanço da tecnologia e a necessidade de abertura de mais áreas, no entanto, novas regiões começaram a ganhar destaque. Uma delas é a mesorregião do Extremo Oeste da Bahia, que pertence ao Cerrado brasileiro e faz divisa com Piauí, Tocantins, Goiás e Minas Gerais.
A Editora Gazeta visitou a região, composta por 24 municípios. Barreiras é o maior, com quase 160 mil habitantes, sendo também o polo regional e sede da maior parte das grandes empresas ligadas ao setor primário. Na sequência vem Luís Eduardo Magalhães, que, apesar de ter apenas 21 anos de criação, já é conhecida como a Capital do Agronegócio Baiano e soma quase 100 mil habitantes. Esse crescimento exponencial é puxado principalmente pelas cadeias produtivas da soja e do algodão.
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Por fim, São Desidério também chama a atenção com o maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário do País, bem como a maior área territorial plantada e a maior produção nacional de algodão. Esses números foram alcançados ao longo das últimas três décadas, tendo início em meados dos anos 1980, com a chegada de agricultores vindos principalmente do Sul do Brasil. Lá, eles encontraram solo infértil, incontáveis dificuldades técnicas e, principalmente, logísticas. Mas muitos prosperaram.
Diante do tamanho do território baiano e da incapacidade do Estado em fornecer toda a infraestrutura necessária para o desenvolvimento das atividades, 16 produtores se uniram para fundar a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), em 1990. Ao longo das décadas, o número de integrantes cresceu junto com as áreas plantadas, e hoje ultrapassa os 1,3 mil. A instituição representa mais de 95% das propriedades, que, juntas, abrangem mais de 2,2 milhões de hectares.
Além de atuar junto aos governos, levando as demandas do campo a prefeitos, governadores e ministros, a Aiba e a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) tomaram a frente e passaram a executar por conta própria obras de infraestrutura, como pavimentação de estradas vicinais, ampliação das redes elétricas e hídricas e até mesmo um trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), cuja conclusão é muito aguardada para aumentar a capacidade de transporte da produção em direção aos portos de Ilhéus e Salvador.
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As chuvas na região Oeste da Bahia, que fica no Cerrado, ocorrem em períodos muito pontuais, de modo que os agricultores precisam realizar o plantio e a colheita nos momentos certos para garantir uma boa produtividade. Os altos investimentos necessários para culturas como a soja e o algodão, porém, não permitem que as lavouras dependam somente da água da chuva. Para sanar esse problema, os produtores passaram a investir em técnicas de irrigação artificial, com destaque para os pivôs centrais (como se pode ver na foto abaixo).
Com a disponibilidade hídrica oriunda principalmente dos rios Grande, Corrente e Carinhanha e seus afluentes, as áreas irrigadas já somam mais de 190 mil hectares – equivalente a cerca de 8% da área total de plantio na região. Tratando-se de um recurso valioso tanto para a população como para a agropecuária, a Aiba se preocupa também com a disponibilidade e a qualidade da água, investindo em programas de monitoramento dos rios e de recuperação das nascentes.
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O manejo correto do solo é igualmente fundamental para o sucesso da safra. Para auxiliar os agricultores, foi criada a Fundação Bahia. Mantida por Aiba, Abapa e outras instituições e empresas, atua na análise de solos com o objetivo de identificar quais as deficiências de nutrientes a serem supridas para cada variedade a ser plantada. Além disso, a rotação de culturas e a cobertura do solo com milheto, sorgo e brachiária já são práticas consolidadas e que garantem renda extra e alimento para o gado.
Paralelo a tudo isso, a região também é responsável por um dos maiores programas fitossanitários do Brasil. Com um acompanhamento rígido realizado junto às fazendas e o apoio da Fundação Bahia para a testagem das melhores combinações de defensivos agrícolas, a região vem obtendo sucesso no controle de pragas como a ferrugem asiática, o bicudo-do-algodoeiro e a cigarrinha, principais causadores de perdas nas culturas de soja, algodão e milho, respectivamente.
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Esse êxito nos últimos anos pode ser percebido nos números da safra 2020/21. A produtividade da soja foi elevada para 67 sacas por hectare e a do algodão para 315 arrobas de capulho por hectare, estabelecendo novos recordes. O milho manteve a melhor marca alcançada no ano anterior, com 180 sacas por hectare.
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Conforme o presidente do Conselho Técnico da Aiba, Orestes Mandelli, esses resultados são fruto das boas práticas empregadas pelos produtores ao longo de todo o ciclo das plantas e também no controle efetivo das pragas, permitindo o uso de variantes mais produtivas do que as já descartadas em função da fragilidade diante de doenças e insetos.
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Além dos grãos e da fibra, o Oeste baiano vem se consolidando como uma nova fronteira para a fruticultura brasileira. A Bahia ocupa hoje a segunda posição no ranking nacional de estados produtores de banana, com destaque para o município de Bom Jesus da Lapa, no Vale do São Francisco, cuja produção anual da fruta ultrapassa 184 mil toneladas, com predomínio das variedades nanica (caturra) e prata. Assim como ocorre nas lavouras, os bananais recebem irrigação por meio de sistemas de microaspersão.
Pouco mecanizado, o cultivo da banana exige uma grande quantidade de trabalhadores. Com isso, são gerados 8,5 mil empregos diretos e cerca de 3 mil induzidos somente em Bom Jesus da Lapa, no âmbito do Projeto de Irrigação Formoso, mantido pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco (Codevasf). O valor bruto da produção (VBP) no ano passado ficou na ordem dos R$ 271 milhões.
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Outro caso de sucesso é o cacau, fruto originário da Amazônia e cultivado tradicionalmente no sul da Bahia, sob a sombra dos coqueiros. Os primeiros produtores do Oeste adotaram a mesma técnica, posicionando os cacaueiros também sob as bananeiras. Com o passar dos anos, alguns tentaram o cultivo a pleno sol, uma prática até então incomum e desaconselhada. Contudo, a adaptação genética natural das plantas foi tão boa que acabou resultando em produtividades que chegam a ser 170% superiores às melhores médias nacionais.
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