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Óbvio. Lógico

Deve ter sido em 1984 ou 1985. Em Porto Alegre. Era uma sexta-feira. Minha namorada e eu saímos para almoçar. Em frente ao centro comercial Esplanada Center, no bairro Floresta, parei para observar um andaime (com rodas!) montado junto ao prédio.  

O que despertara minha atenção era a altura do andaime e sua proximidade com os fios de alta tensão. Comentei com a namorada: “Veja: se este andaime se movimentar e tocar os fios, ficará energizado e colocará pessoas em risco fatal.”
Ao entardecer do dia seguinte, sábado, já estava em circulação o jornal de fim de semana. Uma das manchetes dizia: “Homem morre eletrocutado no bairro Floresta.” Imediatamente, pensei na minha observação do dia anterior.

Adivinhem? Sim, exatamente o que eu pensara, acontecera. Na madrugada de sexta para sábado. Segundo testemunhas, um jovem correu em direção ao andaime, agarrou uma barra e girou seu corpo no ar. Este movimento brusco fez o andaime andar e fechar contato com a rede de energia elétrica. Morte horrível e instantânea!

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O que pretendo demonstrar e afirmar com este caso? Acredito que diante de muitas situações, experiências e obras, não é necessário ser um especialista para observar, supor e antecipar algumas hipóteses negativas que possam suceder.  
Duas observações em relação aos inaceitáveis desastres fatais de Mariana e Brumadinho. Se lá no alto há uma represa ou barragem, não importa se líquido ou pastoso seu conteúdo, e em cogitando um possível rompimento, saberei de antemão por onde irá se deslocar esta massa fora de controle. Basta ver a topografia do local. Óbvio. Lógico.

Então, o que fazem lá no fundo do vale aquelas vilas, habitações e moradores? Se já estavam lá, não poderia haver ali a construção da barragem. Se as pessoas vieram depois da construção da barragem, elas não poderiam estar lá!
Mesmo com possíveis exceções quanto à oportunidade e à forma de fazer, qualquer das hipóteses teria soluções prévias e alternativas de adequação. Algumas mesmo sem sair da região. Construir a barragem em outro lugar, mudar as casas dos moradores de local, etc…

No caso Brumadinho, há um exemplo mais estúpido e inacreditável: quem planejou e autorizou a construção do refeitório e setor administrativo logo abaixo da barragem, na mesma linha topográfica e imaginária de um possível e desastroso escoamento?

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O que aconteceu era previsível. Óbvio. Não é possível que ninguém tenha questionado acerca da localização dos prédios ao tempo da ideia de sua construção. Os especialistas não podem subestimar e ignorar as forças da natureza e a probabilidade de ocorrer o aleatório, o improvável. Não podem afrontar e desafiar o pensamento lógico e a obviedade à vista dos olhos.

Aliás, improvável não é sinônimo de impossível. Assumiram o risco. A legislação penal classifica a atitude como dolo eventual. É a imputação mínima para tal absurdo.

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