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TEORIA LITERÁRIA

Obras de Flávio Kothe retornam às livrarias e às salas de aula das universidades

Foto: Alencar da Rosa/Banco de Imagens

O professor e escritor santa-cruzense Flávio René Kothe, radicado em Brasília, um dos principais intelectuais em atividade no País

Dois ensaios do professor e escritor santa-cruzense Flávio René Kothe, referenciais nos estudos teóricos da literatura, acabam de ser reeditados. Os livros O herói e A alegoria retornam às livrarias e às salas de aula das universidades, agora sob o selo da editora Cajuína, com sede em Cotia (SP). Ambos mereceram uma revisão (e, no caso do segundo, uma significativa ampliação) do autor. Originalmente, vieram a público na década de 1980, integrando a popular série Princípios, da editora Ática, e tornaram-se de consulta frequente para alunos em diferentes vertentes do conhecimento.

A área de Letras é a de formação superior do próprio Kothe, radicado em Brasília, onde foi professor titular de Estética na Universidade de Brasília (UnB), instituição à qual foi ligado ao longo de décadas. Hoje é pesquisador-sênior e responsável pela edição da Revista de Estética e Semiótica. Em literatura, lançou em torno de 50 obras nos mais diversos gêneros, com destaque para o ensaio, a filosofia e a teoria literária, mas também em ficção (narrativa curta e longa) e poesia. Em paralelo à produção literária e à atuação acadêmica, como mestre influente para gerações, ainda assinou importantes traduções, tanto de prosa quanto de poesia, e muito especialmente de filosofia, caso de O capital, de Karl Marx.

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Aposentado, Kothe mantém atuação destacada junto à Academia de Letras do Brasil, entidade que, nos moldes da centenária Academia Brasileira de Letras (ABL), congrega autores de todas as regiões nacionais. Aos 77 anos (nasceu em 20 de novembro de 1946), Flávio é um dos mais importantes intelectuais da atualidade no País, com obra de consulta recorrente para estudantes das áreas de Letras, Literatura, Comunicação Social, Filosofia e História. A sua monumental série de ensaios de revisão dos cânones literários nacionais (colonial, imperial e republicano) está entre as mais arrojadas investigações já realizadas no Brasil, e figura entre as contribuições definitivas para estimular a reflexão crítica no País.

Quem é o herói, e por quê

O ensaio O herói, de Flávio R. Kothe, apareceu na série Princípios, da Ática, em 1985, e logo passou a ser de citação constante em salas de aula dos cursos de Letras. Agora, reeditado, tem seu acesso mais facilitado junto às gerações contemporâneas. No volume, o autor revisa as principais teorias associadas à caracterização do herói, a começar por Aristóteles. Cuja classificação questiona, por entendê-la insuficiente no sentido de abarcar a complexidade inerente ao comportamento do herói em diferentes gêneros textuais.

Kothe recorda que a adjetivação (e as atitudes) do herói muda de forma drástica conforme apareça em gêneros “maiores” (epopeia e tragédia) ou “menores” (comédia e sátira menipeia), segundo Aristóteles as classificou. O professor vê nisso, desde o princípio, a evidência da ideologização, e especialmente a atribuição de valor maior ou positivo a personagens representativos da alta sociedade em detrimento dos que se enquadram nas classes mais baixas. Esse enquadramento se complexifica conforme, a cada época, novas classes sociais ou novos interesses se apresentam.

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Dos clássicos épicos ou dramáticos, o olhar de Kothe avança para os textos bíblicos, e chega à modernidade. Com o advento do romance, em que diferentes estratos sociais são focados, personagens (narradores ou não) passam a adotar feições cada vez mais complexas. E, como Kothe salienta, cada vez mais associadas a um discurso no qual transparece o embate entre diferentes ideologias e poderes, que buscam tornar dominante seu ponto de vista (ou impor seu interesse). Nesse sentido, a avaliação criteriosa das ações e da retórica de um “herói” ou “anti-herói” é passo-chave para a tomada de consciência. E para a cidadania. Dentro e fora de uma obra literária.

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