Ela tocava de leve no meu rosto, com os dedos um pouco curvos, as mãos com manchas resultantes dos 92 anos, como forma de fazer carinho e sentir o calor jovial do primeiro neto. Era assim que Manuela Marmitt, a Vó Nena, costumava repetir, todas as sextas-feiras, o ritual pós-almoço. Foram anos desse hábito, que se transformou em uma troca de conhecimentos, em uma repetição de histórias, que eram sempre celebradas como novas. Não importava que elas já haviam sido contadas dezenas de vezes. Ela ficava feliz ao contar para o neto aquilo que serviria como aprendizado; e o neto, eu, absorvia, a cada releitura dos fatos, algo novo. Assim foi a relação avó/neto até a despedida, em uma manhã e sexta-feira de agosto, sem dor, sem alarde.
Há diferentes momentos para lembrar da Vó Nena: o maio de seu aniversário, o agosto de sua despedida, o junho que marca o mês de conscientização e prevenção contra a violência à pessoa idosa. E é fundamental que exista um período como alerta e reflexão sobre a forma como tratamos aqueles que se doaram para fazer com que, hoje, tenhamos melhores condições para viver. Isso porque nem todos sabem, nem todos concordam com Adoniran Barbosa, quando cantava “envelhecer é uma arte”.
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Há quem os considera um estorvo à sociedade, quem acha que eles devem continuar sentados fazendo tricô, jogando dominó e esperando o dia derradeiro chegar. Mas essa ideia é mais velha do que qualquer idade a que uma pessoa possa chegar. A terceira idade, como é chamada, vive um novo momento, como conta Leci Brandão: “não faz só tricô e bolinho, vai à praia e toma um choppinho, também gosta de ouvir um chorinho, um pagode legal; faz um grupo e sai por ai, o negócio é se divertir; o amor é pra se dividir alegria geral”.
E não se trata de idolatria a um grupo da sociedade. É reconhecimento pelo que já foi e ainda é feito, é uma forma de agradecer, de homenagear e dizer que estamos juntos. É um jeito de explicar que, tudo bem se andam de forma mais lenta, se é preciso repetir alguma fala, porque não escutaram direito, ou se temos que ler a bula do remédio, porque a letra é miúda e fica difícil enxergá-la. Fica muito fácil respeitar e entender, quando absorvemos o que diz Adriana Calcanhotto, em Velhos e Jovens: “Antes de mim vieram os velhos; os jovens vieram depois de mim. Estamos todos aqui”.
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Aproveitemos o junho para aprender com Arnaldo Antunes, quando diz que “a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer. A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer. Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer”.
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