Categories: Romar Beling

O vazio que ficou na paisagem

A cidade de Santa Cruz do Sul chega ao fim de 2019 submetida a forte onda de calor. Esse contexto deveria levar a refletir sobre a necessidade urgente de repensar a relação com o meio ambiente. A cada ano mais estamos sujeitos a oscilações bruscas e imprevisíveis do clima. O verão traz temperaturas que afetam a qualidade de vida, com reflexos nefastos sobre a natureza.

Se a perspectiva já é inquietante e aterradora por si, que dizer quando, em pleno verão, completamente fora da época conveniente, e no auge de uma das maiores ondas de calor, alguns decidem… acabar com a sombra! Não beira a insensatez ou disparate? Contra qualquer entendimento, eis que a empresa RGE passou a eliminar da paisagem árvores dos passeios públicos. Árvores que ali estiveram por décadas, e que da noite para o dia, por decisão talvez tomada a centenas de quilômetros de distância, se tornaram uma ameaça. Como compreender ou admitir tal atitude?

E o fez de maneira tão ostensiva que a comunidade chega à reta final do ano com um manifesto sentimento de desolação. E indignação. Não bastasse o calor, ainda se elimina a vegetação que proporciona bem-estar, oxigênio e, além de tudo, beleza. Adeus sombra para as novas gerações. O que mais desconcerta é a simbologia do movimento feito pela RGE: se ela pode, por que outras empresas e entidades, e mesmo moradores, em seus terrenos, não poderiam fazer o mesmo? Quem colocará limites?

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Em reportagem nesta semana, a Gazeta do Sul apontou a insatisfação da comunidade com a derrubada de árvores em espaços públicos. E, na verdade, a quem circula com frequência no Cinturão Verde não escapará que, semana após semana, ostensivos vazios surgem onde até poucos dias antes havia um frondoso bosque. No ritmo atual, em questão de anos em lugar da qualidade de vida existente, graças às áreas verdes, restará a desolação da paisagem, e, claro, o sol impiedoso a arder na pele.

A forma como cortes e podas drásticas foram realizados nas últimas semanas, e fora de época, só poderia mesmo gerar revolta. Uma árvore com décadas de vida não se substitui. Onde havia uma árvore adulta, as atuais gerações, por mais que o queiram, nunca mais a verão. Quando a mudinha fixada no lugar finalmente tiver atingido idade adulta (e isso que plantar mudas ao sol escaldante beira a ignorância total), a população atual nem estará mais aí. Ou seja, vale pensar duas vezes (várias vezes) antes de ativar a motosserra e iniciar o massacre. Santa Cruz é diferenciada por seu verde; construções todas as cidades também possuem. Seguir eliminando da paisagem de forma tão ostensiva as árvores acaba por contribuir para transformá-la, logo adiante, numa cidade privada de seu encanto natural. E isso significa sem sombra para o público que o comércio tanto se esforça para atrair. Fica um vazio na paisagem, e um vazio imenso no coração.

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