O Brasil comoveu-se, nesta semana, com as cheias de rios no Rio Grande do Sul, em especial o Taquari e o Caí. A região vizinha foi acometida por uma quantidade absurda de água, que resultou em um incalculável prejuízo financeiro e, no que é ainda mais cruel, a despedida precoce de muitos familiares de mortos como consequência desse fenômeno.
Ver o Taquari ultrapassar os limites do seu leito não é nenhuma novidade para quem mora nos 36 municípios que integram o Vale. Nos últimos 27 anos, profissionalmente, acompanho as enchentes e a forma como elas afligem os moradores ribeirinhos. Os bairros Praia, em Taquari; Conservas, Centro e Carneiros, em Lajeado; Marmitt, Indústrias, Boa União e Centro, em Estrela; Seca Baixa, em Imigrante; Navegantes, em Arroio do Meio, Muçum e Encantado; e Centro, em Roca Sales – apenas para citar alguns dos pontos mais atingidos – costumam ter histórias de perdas.
Não há, tecnicamente, muito o que fazer. Houve crescimento populacional na margem dos rios, e o excesso de chuva acaba resultando nos danos. O que tem se percebido, com o tempo, são ações pontuais, como o programa de recuperação da mata ciliar, encampado pelo Ministério Público, a partir da comarca de Estrela e da promotora Mônica Maranguelli de Ávila. Outra situação é a iniciativa das unidades municipais da Defesa Civil, que vão até os bairros mais atingidos para a retirada preventiva das famílias e encaminhamento para abrigos.
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É verdade que, historicamente, entre os moradores ribeirinhos há uma certa resistência em deixar suas moradias. Um dos motivos é a possibilidade de saques daquilo que fica na residência; outro é a crença de que não chegará a tão alto volume. Dessa vez, porém, foi muito além do que os locais tradicionais. A lamacenta água do Taquari, somada às do Forqueta, Guaporé, Fão, Antas e Carreiro, além dos arroios Jacaré, Forquetinha, Boa Vista e Castelhano, invadiu ambientes que vivenciaram enchente uma só vez: no devastador e longínquo 1941.
Naquele ano, o nível do rio que dá nome ao Vale vizinho chegou a 29,92 metros; agora, 29,5 metros. Se as pessoas que moram na margem do rio têm certa dificuldade em deixar suas moradas, imagino aqueles que só viam a repercussão da cheia nas páginas dos jornais. O inusitado da situação atual faz com que não seja o momento de procurar culpados, de avaliar atuações. Isso é tarefa para o depois, para que outros acontecimentos como esse – e eles virão – tenham menor repercussão, principalmente no que se refere às perdas de vidas.
O que é preciso fazer, agora, é demonstrar a união, é reforçar a característica solidária que faz do Rio Grande do Sul um Estado diferenciado. Exemplos recentes disso não faltam. O ciclone extratropical registrado neste ano, com grandes consequências em municípios do Litoral Norte, é um caso. No Vale do Taquari, mesmo em 2020, quando o rio chegou a 27,39 metros e apontou a quinta maior cheia da história, faltou lugar para acomodar tantos donativos. O mesmo pôde ser percebido em 2010, quando uma enxurrada devastou Marques de Souza, desmontando propriedades e até cemitérios instalados na margem do manancial.
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O jovem prefeito de Muçum, Mateus Trojan, e o mais experiente, de Roca Sales, Amilton Fontana, viram os locais que administram serem reconfigurados; viram muitos de seus conterrâneos perderem as casas e as vidas; viram, assim como Marcelo Caumo, de Lajeado, Elmar Schneider, de Estrela, Danilo Bruxel, de Arroio do Meio, Jonas Calvi, de Encantado, e outros, a necessidade de união, de reconstrução, de erguer a cabeça e, aos cristãos que vivem aos pés do Cristo Protetor, pedir por dias mais tranquilos.
A previsão é de chuva para todo o Estado, mas em quantidade menor, sobretudo nas regiões Serrana e dos Vales, que influenciam nos níveis do Taquari. Essa condição evita o que chamam de rebote, que é quando uma cheia vem na sequência de outra, mas dificulta a diminuição do nível até sua condição de normalidade. Enquanto isso, o Vale chora e o Estado consola!
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