Nas horas de folga das aulas, eu visitava a casa dos meus amigos, filhos dos saudosos agricultores Osvaldo e Salome Fischer. Eram 12 filhos para criar. Lá eu brincava ou ajudava na lavoura.
Uma das tarefas incumbidas aos menores era carregar o fumo até a carroça, colhido pelos mais velhos. A gurizada não tinha moleza nas horas de folga das aulas. Ajudava nas lides da lavoura. Hoje as leis proíbem.
Os pais ensinavam aos filhos a importância do trabalho e de como era difícil buscar o sustento das numerosas famílias dos colonos. Não me lembro de nenhum marginal que se criou entre meus colegas. Desde cedo aprendiam a importância do estudo, do trabalho e da honestidade.
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À tarde, como recompensa, ganhava um pão de milho feito em casa, que a dona Salome assava no forno a lenha. A cobertura de melado, kesschmier e uma espessa camada de nata era divina, acompanhada por uma linguiça feita pelo seu Osvaldo, fruto de algum porco criado em casa, na base de milho e mandioca.
A farinha de milho era fabricada nos moinhos coloniais. As máquinas, que trituravam os grãos, eram movidas por uma roda d’água, que girava continuamente. O colono fornecia o milho, transformado em farinha, que garantia o consumo da casa.
Os agricultores reservavam os dias frios e chuvosos para a carneação de porco, engordado em separado no chiqueiro da propriedade. Era costume o vizinho mais próximo ser convocado para ajudar. Como pagamento, levava alguns quilos para casa.
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A gurizada ficava eufórica. Sinal de que ao meio-dia haveria churrasco de porco. A carne era muito gostosa, pois os suínos eram criados à base de mandioca e milho, cultivados em abundância na propriedade. Está enganado esse que pensava que os agricultores só plantavam fumo.
No mesmo dia, a carne era moída, temperada com esmero e, depois, eram feitas as linguiças, acondicionadas nas tripas do porco, que eram cuidadosamente limpas.
O fogo era aceso de manhã cedo e a água era fervida em um grande tacho de ferro. Depois, era usada para colocar sobre o porco e raspar os pelos do animal com mais facilidade.
As carnes eram cortadas à faca e serradas com serra manual. Toda a gordura era jogada para dentro do tacho, onde fritava sob intenso fogo, separando a banha e o toicinho. A banha era usada na cozinha e guardada em latões. Azeite não existia.
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O toicinho era prensado em um aparelho especial. Quem já comeu o torresmo ou kriba, assim denominado no nosso dialeto alemão? Apesar de não ser recomendado pelos médicos, ninguém resiste em consumir essa guloseima, acompanhada de uma fatia de pão de milho recheada por uma grossa camada de nata ou kesschmier.
A carne que sobrava depois de frita era guardada em latões, misturada com banha para conservá-la por tempo indeterminado. Não existia luz elétrica e nem geladeira. (Continua)
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