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O tempo

Como ele estaria, se estivesse vivo, neste maluco 2021? Estaria com saúde para encarar viagens com novos destinos, acompanhado de minha mãe? Estaria descansando na aposentadoria ou, com 81 anos, estaria procurando coisas para consertar em casa? Seria um avô moderno, bem adaptado às tecnologias? Estaria feliz com minhas escolhas ao longo dos últimos 20 anos? São questões que volta e meia surgem e gosto de imaginar as respostas de boa parte delas. Há 20 anos, meu pai, Mario, deixou esse mundo. Sou a caçula dele, a número cinco.

É maluco pensar que duas décadas me separam da última vez que o chamei e que ouvi sua voz. Vinte anos são mais de dois terços da minha vida, o que significa que daqui a não muito tempo, os oito anos que vivi com ele serão apenas uma fração em minha história. Maluquice também é olhar para trás e sentir que o tempo passou rápido. Eis um grande aprendizado que, precocemente, meu pai deixou, após sua partida. O tempo tudo acalma, cicatriza e cura. Quando ele morreu, parecia que não seria possível viver com tranquilidade após tamanha tristeza. Mas a cada segundo, minuto, hora, dia, mês ou ano após aquele 16 de setembro de 2001, ficamos mais fortes.

Se for para citar força, minha mãe certamente vem à minha mente. Nossa matriarca seguiu com garra, valente, chefiando uma família com filhos do Ensino Fundamental ao Superior. Multiplicando as 24 horas do dia, deu conta de tudo, do trabalho ao mestrado. E nós, filhos, fomos seu combustível. Um sendo suporte do outro e dando a quem precisasse, motivos para seguir em frente.

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Para mim, isso é família. Um grande legado que meu pai deixou foi nos ensinar que os momentos em família são especiais. Não à toa, a minha aparece com frequência em meus textos. Nas dificuldades da vida, são estas as pessoas que mais me fortalecem. As alegrias fazem mais sentido se com eles são compartilhadas. É no seio familiar que nos reconhecemos primeiro, seja enquanto indivíduo ou parte de um coletivo.

Passados 20 anos da nossa perda, olho com orgulho para meus irmãos e minha mãe. Construímos muito de lá para cá, cada um ao seu modo, ao seu momento. Tento responder pelo meu pai que sim, ele estaria satisfeito com os nossos caminhos. Gosto de pensar, inclusive, que ele acompanhou, seja de onde estiver, tudo muito de perto. A saudade sempre existirá, mas volto a dizer, o tempo é tudo e se encarrega de acomodar também este sentimento regado de amor. As lembranças, com o passar dos anos, aparecem até com uma pitada a mais de humor, como ele também gostaria que fosse, ao meu ver. Meus questionamentos sobre o meu pai devem seguir ao longo da vida. Talvez seja minha forma de manter viva a imagem dele, que afinal, também fala sobre mim.

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