A vida de repórter permite testemunhar façanhas perpetradas pelo ser humano, conhecer lugares insólitos e conviver com personalidades marcantes. Como espectador, também é possível monitorar a verdade e suas nuances sob os mais diversos ângulos.
Relatar experiências por meio de reportagens é a prova daquela antiga máxima de que “na vida não existem verdades, somente versões”. Duvidam? Então experimente contar uma história diante de três amigos. Depois, isoladamente, peça para cada um deles reproduzir a trama. Será impossível conter as risadas.
O jornalismo permite, ainda, descortinar motivos que geram tendências que, mais tarde, soam absurdas. Roupas, acessórios, hábitos, linguajar, gírias, estilos de música, corte de cabelo. Com o passar do tempo tudo é alvo de troça porque a contextualização, fundamental para se compreender os fenômenos, está ausente.
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Na década de 1990 fiz uma série de reportagens sobre a corrida de agricultores atrás de pedras (semi) preciosas na região de Soledade, Ametista do Sul e Planalto, no Norte do Estado. Legiões de produtores rurais abandonaram a roça para esburacar a terra, sem tecnologia, orientação ou experiência. Assim, os resultados eram sempre frustrantes.
A tentativa de achar “a” pedra – rara e valiosa – levou famílias inteiras a adotar práticas rudimentares com ferramentas inadequadas e material perigoso que incluía até explosivos. Valia tudo na tentativa de arrancar a riqueza reluzente do subsolo.
Acompanhado do repórter fotográfico e amigo Ronaldo Bernardi, percorremos diversas comunidades do interior onde a venda de ilusão da riqueza instantânea estava em alta. Impressionava a determinação em cada entrevista, onde transbordava o otimismo de que a opulência estava a poucos metros de distância.
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A caça às gemas – turquesas, hematitas, quartzos, turmalinas, piritas, quartzos rosa, ágatas e ametistas, dentre outras – provocou danos irreversíveis em áreas de produção agrícola. O pandemônio sem organização, método e técnica também gerou amputações, ferimentos graves e até cegueira em homens, mulheres e jovens cuja vocação era o manejo de enxadas, arados e tratores. E não picaretas para rasgar o solo.
Estive em municípios onde historicamente as pedras semipreciosas faziam brotar recursos vitais à economia local. Vi túneis abertos sem planejamento algum que provocaram desabamentos, mortes e lesões irreversíveis. Conheci mulheres que perderam mãos e braços em deslizamentos de encostas e barrancos.
Apesar dos percalços, cada rosto era uma obsessão por melhoria de vida para a família. Não havia cobiça. Deixaram a atividade rural em consequência do descaso das autoridades para com os agricultores. Sob sol escaldante ou geada congelante, eles geravam riqueza pela produção de alimentos mesmo sem apoio.
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A caça ao tesouro, idealizada pela busca das gemas raras, foi estimulada, também, pelo desafio de sustentar a família com menos sacrifícios. Poucos “chegaram lá”. Inúmeros desistiram, mas todos tentaram da maneira que parecia a mais correta e viável. Afinal, o desafio é o combustível do ser humano.
(Publicado em http://gilbertojasper.blogspot.com em 30/9/2014)
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