O sonho da sombra, o novo livro de poesia do porto-alegrense Demétrio de Azeredo Soster, que acaba de ser lançado pela editora Catarse (e que, em virtude da pandemia, terá divulgação por meio de lives em plataformas digitais), em sua coloquialidade carregada de sabedoria, estabelece diálogo com textos de diferentes épocas e expressões. Píndaro, o poeta grego (522 a.C – 443a.C.), está logo referido. E é a ele que se atribui uma frase recorrente: “Homem, torna-te no que és”.
Mas na epígrafe Demétrio cita Álvaro de Campos, e com ele recupera o Hamlet, de Shakespeare, ao indagar: “Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces?”. Por essas primeiras e imediatas pistas, o leitor já percebe que está ali um eu-lírico, uma voz autoral, fazendo as indagações clássicas do ser humano em sua trajetória de se tornar e se perceber a si mesmo. E nada melhor do que a poesia para iluminar, descortinar um olhar para dentro, para as profundidades e as amplitudes da condição humana.
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E, nesse sentido, há um intertexto quase incontornável para o novo livro de Demétrio: é Nietzsche (1844-1900), o filósofo alemão, que teve nos aforismos uma de suas principais vias de expressão. Não por acaso, em muitos momentos, os 66 poemas de O sonho da sombra assemelham-se a aforismos em forma de poema.
A segunda parte de Humano, demasiado humano, de Nietzsche, obra de 1886, da fase madura do autor, traz justamente seu primeiro conjunto em forma de aforismo, o texto O viajante e sua sombra, ou O andarilho e sua sombra, como também é traduzido. De 1880, esse breve texto apoiase no diálogo entre um andarilho e sua sombra, esta vista como uma consciência, aquela que está junto, para sempre ligada ao corpo em seu deslocamento pela vida, e assim assimila todas as virtudes e as frustrações deste.
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No livro de Demétrio, há um olhar atento, terno e sereno para tudo o que cerca o eu lírico, esta “sombra” que acompanha o ser humano e a tudo traduz em poesia, sua via de comunicação. A partir da contabilidade do passado e das constatações do presente, nas pequenas coisas do dia a dia ou na malograda esfera pública, da qual não escapam as agruras da política e da natureza que agoniza, esse voo rumo ao futuro pode ser muito mais seguro, mais promissor.
Sem o diálogo com a sombra, essência de si, o intelecto, o espírito, o pulsar do coração, é praticamente impossível a tomada de consciência capaz de mudar o ser humano para melhor, de torná-lo melhor, parece ser o recado de Demétrio. Ao tornar-se melhor, pela via da poesia, quem sabe o ser humano finalmente torna-se quem ele é. O que, sem poesia, nunca seria (nunca poderia ser) possível.
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Quem é
Demétrio de Azeredo Soster é escritor, pesquisador, professor e jornalista. Natural de Porto Alegre, está radicado em Santa Cruz do Sul, onde também integra a Academia de Letras de Santa Cruz do Sul. Em literatura, possui 12 livros publicados, com ênfase em poesia, crônicas e narrativas de viagens, a partir de seus roteiros longos em bicicleta, inclusive para outros países da América do Sul. No ambiente acadêmico, organizou livros técnicos na área de jornalismo e de literatura. Suas obras podem ser adquiridas nas livrarias ou ainda em contato com a editora Catarse.
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