Colunistas

O som que preenche o vazio

Muitas pessoas acham difícil acreditar em milagres. Dizem que é escapismo, distanciamento absurdo da realidade. Mas não é extraordinário o fato corriqueiro de alguém nascer? Um ser humano surge de repente, em um mundo que já existiu bilhões de anos sem ele. Um vazio é preenchido subitamente todos os dias. Coisa banal.

Mas e se isso deixasse de acontecer? O filme Filhos da Esperança, de Alfonso Cuarón, mostra um futuro próximo (o ano é 2027) em que as mulheres perderam a capacidade de gerar filhos. A humanidade vive, então, uma espécie de “depressão pré-apocalíptica” porque não há mais crianças e os dias da espécie estão contados. Porém, surge um motivo de esperança. Uma imigrante ilegal, negra, está grávida na Inglaterra.

Para os personagens, é um fato não só inesperado, mas inexplicável: um milagre, até para os céticos. E se os milagres – ou pelo menos a ideia deles – têm algum propósito, é o de restabelecer a fé no futuro. Isso é essencial.

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Lembro do que aconteceu em Belo Horizonte na terça-feira, 2. Uma criança de 11 anos ligou para o 190 e pediu que uma viatura da Polícia Militar fosse até sua casa. O motivo é que ela, a mãe e os cinco irmãos passavam fome. Os policiais pensaram que fosse outro caso de violência doméstica, mas não. Constataram que a família sobrevivia à base de fubá e água. Então foram a um supermercado, compraram alimentos e doaram àquelas pessoas, iniciando uma campanha de arrecadação. Sim, eles não fizeram nada de assombroso, mas trouxeram um pouco de esperança em meio ao vazio.

Pois não é preciso recorrer a milagres sobrenaturais para tanto; bastam nossas energias humanas. Há uma história (chilena, se não me engano) sobre um homem considerado santo. Um dia, chamaram-no para ajudar uma criança que não dormia havia duas semanas. Após falar com os pais, ele saiu à rua e ajoelhou-se de mãos para o alto, no gesto de quem invoca a presença ou pelo menos um sinal de Deus. Nada aconteceu. Resignado, foi então até a cama onde a menina estava, chegou ao lado e disse: “Se você fechar os olhos e dormir, Deus irá aparecer em seus sonhos”. Ela adormeceu minutos depois.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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