O silêncio é um dos nossos mais difíceis exercícios. Somos induzidos permanentemente a nos manifestar, a opinar, a criticar, deixando de lado o “falar é prata, calar é ouro”. No impulso, estamos quase sempre afiados a rebater, a contestar, quando contar até três nos preserva de tantos desconfortos desnecessários. No livro do Eclesiástico, lemos que “o sábio permanece calado até o momento oportuno, mas o leviano e imprudente não espera ocasião”. O silêncio é uma virtude que enaltece o ser humano. “Aquele que se expande em palavras, prejudica-se a si mesmo”, ensina o citado livro sagrado.
O grande benefício do silêncio é o encontro conosco mesmos. O silêncio sugere serenidade, sossego, abre espaço para a contemplação, a meditação, a reflexão, a introspecção. Nesse sentido, não compactua com isolamento, não significa solidão. Com todos os promotores de ruído desconectados, há espaço para a nossa conexão com a vida, com nossos projetos, com as pessoas que amamos. É uma forma de enriquecer nossa interioridade. E esse silêncio ecoa, tem som, comunica, como cantam Simon & Garfunkel em The sound of silence (O som do silêncio): Hello darkness, my old friend/ I’ve come to talk with you again (Olá, escuridão, minha velha amiga/ eu vim falar com você novamente).
A natureza é um templo de silêncios. A seiva que percorre as plantas, o sol que brilha, o luar esplendoroso, o perfume que a flor exala, o encanto do voo dos pássaros, o lento rolar das águas do riacho, em tudo há paz, há silêncio. “As pessoas imaginam que não existe música em um céu estrelado ou no vento que move as árvores, mas não sabem que os sons moram dentro do silêncio, ansiosos para revelar esta pureza que vem desde a criação do mundo, um som que não sabemos mais escutar depois de sufocar nossos ouvidos com buzinas, gritos, palavras, balbúrdias”, escreve Gustavo Czekster no excelente romance A nota amarela.
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Um bom diálogo não abre mão do silêncio. Nossa conversa se torna produtiva quando inserimos pausas, abrimos espaço e tempo para a troca de ideias que nos levam a compreender, a aprender. Debates em que os participantes só pensam em destruir um ao outro, calando o interlocutor, não dignificam, promovem a desavença, o ódio, a humilhação. Uma composição musical é feita de sons, mas também de pausas, de necessários silêncios que redundam na harmonia e na beleza final.
O silêncio até ajuda a curar feridas, a amenizar a dor. Muitas vezes, deseja ser respeitado, compreendido. Não responder pode ser uma forma de dizer, de pedir acolhimento. Normalmente, nossas grandes aprendizagens advêm de ações envolvidas em silêncio. Ler em meio a ruídos torna-se uma atividade muito mais penosa e menos produtiva. Ouvir uma palestra com pessoas falando incessantemente perturba demais quem deseja ouvir. Saber silenciar, portanto, é também uma questão de educação.
Não faz muito, o sino da Ave-Maria matinal não incomodava ninguém. Bastou uma pessoa se mostrar contrariada e quase todos começaram a se sentir incomodados. O sino silenciou. Agora, com a primavera às portas, os sabiás, incautos, antecipam o amanhecer e já estão sob a mira de severas censuras e sujeitos à pena de morte. Há muitos sons que são puro silêncio. Nossos ouvidos estressados é que não conseguem identificá-los.
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