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Cultura

O som de uma relíquia voltará a ecoar

Um trabalho minucioso e que exige técnica está em andamento na Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) da Rua Venâncio Aires, em Santa Cruz do Sul. O órgão do século 19, fabricado na Alemanha, voltou para casa após passar por restauro em Santa Maria. Feito de carvalho e pinus alemão, recebeu tratamento no madeirame e peças novas, que substituíram as já deterioradas pelo tempo e as que faltavam. Em um verdadeiro quebra-cabeças com mais de 6 mil peças, a remontagem vai consumir uma semana. Para que não aconteçam trocas de posição, cada item foi devidamente marcado.

Quem está por trás do serviço é o organeiro Manfred Ronald Worlitschek. Alemão de Karlsruhe, de 58 anos, ele aprendeu o ofício aos 19 em uma fábrica de Windesheim, cidade que atualmente conta com um museu destinado à história do instrumento. O alemão, que vive no Brasil há 28 anos, também pode ser chamado de organista, por saber tocar e afinar. Como é raro encontrar quem faça os reparos necessários, o profissional, morador de Santa Maria, foi requisitado até em Belém para recolocar em funcionamento o órgão da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré – onde a celebração do Círio de Nazaré é realizada há 224 anos.

“A maioria das pessoas não conhece o órgão de tubo. Se os brasileiros tivessem mais contato, teríamos mais instrumentos. Mesmo assim, pelo número de órgãos, a quantidade de organeiros é insuficiente. A música transporta mensagens”, comenta o alemão, citando uma frase de Santo Agostinho: “Quem canta reza duas vezes.” 

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Manfred aponta que o órgão – com três metros de largura, seis metros de altura e quatro metros de profundidade – é adequado para o tamanho da igreja. Ele é composto por 366 flautas, que serão afinadas individualmente, conforme as características. Um motor foi instalado para inflar o fole. Mas em caso de falta de energia, a ação pode ser feita de forma manual por meio de uma alavanca.

Instrumento chegou em 1887 da Alemanha

A primeira igreja da IECLB em Santa Cruz é de 1862 e ficava na esquina das ruas Borges de Medeiros e Tenente Coronel Brito. O órgão veio da Alemanha em 1887. Mais tarde, em 1924, a atual igreja foi construída e o instrumento foi transferido para lá. Anos mais tarde, em um período em que a comunidade passava por dificuldades financeiras, foi cogitada a venda do órgão para um interessado de Novo Hamburgo. Em troca, seria instalado um órgão elétrico. Por esforço da Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas (Oase), o dinheiro necessário foi arrecadado e o instrumento permaneceu em Santa Cruz do Sul.

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O restauro custa R$ 85 mil. Desta forma, a comunidade segue em campanha para angariar recursos. “O órgão faz parte da vida de muitas pessoas. Acompanha os cânticos nas celebrações, casamentos, batismos e confirmações. Estamos felizes com o retorno, ainda mais no período do Advento. Em duas semanas poderemos cantar Noite Feliz ao som do instrumento”, exalta o pastor Márcio Trentini.
Um espelho ao lado do órgão, que fica no andar superior da igreja, possibilita a comunicação entre o organista  – que permanece de costas em relação ao altar – e o celebrante. Antigamente, uma criança era responsável por bombear o ar para o interior do fole. Há histórias de que o organista não conseguia tocar porque o garoto deixava a função para jogar bolinhas de gude. 

“O órgão está arraigado na nossa cultura, atravessa gerações. Mas o interesse diminuiu, são poucos que realmente desejam manter a tradição. Porém, não podemos deixar terminar”, completa o pastor. Em 2015, a organista Anne Schneider fez um concerto durante a Oktoberfest. Com a reestreia do órgão, novos eventos devem acontecer no ano que vem.

FICHA TÉCNICA

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Fabricado em 1887 por Richard J.Bach, em Barmen, na Alemanha.

Operação mecânica com um manual e uma pedaleira.

Tem 54 teclas no manual e 27 teclas na pedaleira

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