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Um santa-cruzense na eleição nos Estados Unidos

Há quase 40 anos radicado nos Estados Unidos, um santa-cruzense é testemunha do ambiente social que cerca a eleição presidencial na maior potência econômica e política na atualidade. Mauro Heck viajou para os EUA em 1981, quando tinha 21 anos, com a expectativa de aperfeiçoar a proficiência em inglês e, quem sabe, ganhar mais experiência e prosseguir nos estudos por algum tempo. Não só acabou ficando por lá como constituiu família, estabeleceu-se em termos profissionais e inclusive acompanhou de perto, ao longo dos anos, a política na região na qual reside, a cidade de Iowa City, Estado de Iowa, entre Nebraska, Missouri, Illinois e Minnesota.

Por se tratar de área fortemente identificada com o agronegócio, com o cultivo de grãos, como soja e milho, nas largas extensões a perder de vista do entorno, e ainda com a criação de suínos, Iowa tem tendência política mais conservadora. Como tal, o presidente republicano Donald Trump saiu vitorioso das urnas em alguns desses estados em relação ao candidato democrata Joe Biden, eleito novo presidente da nação. Mas mesmo em Iowa, a par do ímpeto conservador, comenta Heck, a disputa foi bastante equilibrada, com Trump ganhando no Estado por 53% dos votos contra 45% de Biden.

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E Heck inclusive pôde acompanhar de perto alguns dos primeiros passos na campanha de Biden, ainda no período pré-pandemia – e a forma de enfrentamento ao coronavírus, com a forte disseminação das contaminações em todo o país, aliás, se tornou tema dominante na própria campanha. Aos 61 anos, o santa-cruzense atua como fotógrafo profissional, voltado a registros de pessoas, famílias e cerimônias de casamento; em paralelo, é motorista de ônibus escolar.

Nessa condição, em evento promovido por sindicatos da categoria, na época das convenções distritais, o então pré-candidato democrata Joe Biden foi convidado para um encontro de confraternização na cidade. Foi ali que Heck pôde conversar com o agora novo presidente norte-americano e com sua esposa Jill, registrando-o em fotos, que enviou ao colunista social Luiz Henrique Kühn, o Ike, que as publicou no Jornal do Ike na edição da Gazeta do Sul de 11 de novembro.

Heck, que se diz eleitor de Biden, convencido por sua linha de pensamento e por seu discurso mais contemporizador, sem os destemperos e os rompantes adotados por Trump, frisa que o democrata é atencioso e gentil no trato com as pessoas. “Foi assim que Biden ficou conhecido ao longo dos 36 anos em que atuou como senador, quando viajava de trem, todos os dias, os 90 quilômetros entre Washington e Delaware, onde reside, só para ficar junto da família”, lembra Heck. “E nesse percurso costumava sempre conversar com todo mundo, das pessoas comuns aos trabalhadores do trem, sempre muito acessível. E assim seguiu nas duas gestões em que ele foi vice-presidente de Barack Obama.”

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Conforme Heck, com a filosofia e a provável linha de atuação de Biden na presidência, a tendência é de que o Brasil venha a sofrer cobranças bastante enfáticas relacionadas ao meio ambiente, em especial com as queimadas registradas na Amazônia, cuja repercussão, segundo ele, é forte também na mídia nos Estados Unidos. “A perspectiva é de que Biden venha a pressionar por uma política mais efetiva de cuidados e de preservação do meio ambiente, o que para o Brasil é crucial, por se tratarem de dois países com forte relacionamento de balança comercial”, observa.

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Do Arroio Grande para os states

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Em 2021 completam-se 40 anos desde que o santa-cruzense Mauro Heck se estabeleceu nos Estados Unidos, decisão que, de certo modo, afirma sua condição de cidadão do mundo, adotada desde quando era bastante jovem. Tudo começou no Bairro Arroio Grande, onde nasceu, “em casa”, como frisa, “pelas mãos da parteira Antônia Frantz”, em 22 de janeiro de 1959.

Mauro é filho de Bruno Antonio Heck, já falecido, oriundo de Pinheiral, e de dona Frida Maria Heck, natural de Quarta Linha Nova, e que, aos 90 anos, segue residindo no Arroio Grande, na companhia da filha Glaci. O irmão Roque mora em Santa Maria e outro irmão, Paulo, é falecido. Quando retorna à região, em geral uma vez ao ano, Mauro se divide entre a região natal, onde tem uma chácara em Cerro Alegre Alto, e visitando amigos e parentes.

Mauro Heck com a esposa, a norte-americana Carmen

Ele comenta que fez os primeiros estudos próximo da casa dos pais, na escola Luiz Dourado, seguiu no Colégio São Luís, por um tempo, e depois no Polivalente (escola Willy Carlos Fröhlich). Concluído o 1o grau, em 1976 transferiu-se para Viamão, onde ingressou na Escola Técnica Agrícola (ETA). Ali, em meio ao 2o grau, tomou contato com a política estudantil, em pleno regime militar. Concluída essa fase, rendeu-se ao espírito de aventura e decidiu percorrer vários países da América do Sul, por cerca de três meses, à base de caronas. De volta, começou a cursar Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria, época em que, aos 21 anos, tomou a decisão de viajar aos Estados Unidos para se aperfeiçoar no inglês. De Miami (“onde cheguei com US$ 16,00 no bolso”) passou por Richmond, na Virginia, radicando-se em Des Moines, da qual tinha referência a partir da empresa Pioneer, que possuía filial em Santa Cruz do Sul, percorrendo mais de 2 mil quilômetros também de carona.

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Por fim, fixou-se em Iowa City, cidade universitária de cerca de 75 mil habitantes, dos quais metade são estudantes e outra parcela significativa é composta por professores ou funcionários da instituição. Ali, enquanto cursava Ciências, conheceu a norte-americana Carmen, de cidade próxima. Já estão casados há 31 anos e têm três filhas: Natasha, 31 anos, assistente social; Clarissa, 25, professora; e Elis, 21, que estuda na faculdade e toca violoncelo. Carmen atua em serviço social e é vice-presidente de uma empresa. No nome das filhas revela a um tempo seu gosto pela literatura (Clarissa inspirada em romance de Erico Verissimo) e pela música do Rio Grande do Sul (Elis em homenagem natural a Elis Regina). Com frequência vinha toda a família a Santa Cruz, e Mauro frisa que suas filhas adoram a cidade natal do pai.

Com a mãe, dona Frida, que reside no Arroio Grande

Embora tenha cursado também pós-graduação, foi à Fotografia que Heck se dedicou, tendo feito dela sua profissão, à qual alia a condição de motorista de ônibus escolar. Como fotógrafo freelancer, realizou trabalhos na América Central, cobre eventos sociais, como casamentos (“também tivemos de nos reinventar na pandemia, com o distanciamento social”), e tem uma série de cartões-postais. Adepto do ciclismo, comemorou seus 50 anos com uma jornada de fôlego, por mais de 5 mil quilômetros rumo à América Central, até o Canal do Panamá.

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Em Iowa City e na região do entorno, no período posterior às eleições federais nos Estados Unidos, Heck enfatiza que os efeitos da pandemia continuam presentes. Sua filha Clarissa é professora em instituição local, em que os altos índices recentes de testes positivos de Covid-19 têm gerado inquietação. “Algumas regiões inclusive determinaram que as escolas voltem a ficar fechadas por duas semanas, para evitar contágios”, cita. “Isso agora, em novembro.” Sua expectativa é de que, com a confirmação da eleição de Joe Biden para a presidência, o discurso de Donald Trump de relativização ou de negacionismo da ameaça da pandemia à saúde possa ser contornado e efetivamente haja ação e política mais rigorosas de prevenção.

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