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CONTRAPONTO

O sabor do veneno

Apesar da existência de campanhas de conscientização e legislações específicas que inibem, coíbem e punem atitudes que ofendem a integridade e a dignidade alheia, a exemplo de atos de misoginia, homofobia, racismo e xenofobia, entre outros, ainda assim sucedem-se tais atos. Com frequência.

Ofensiva e odiosa ou não, a discriminação por etnias, povos e estratos sociais é um fenômeno mundial e secular. Dada a natureza e a fragilidade humana, possivelmente um comportamento interminável.
O núcleo dessas contradições comportamentais (atitudes em relação ao outro) está diretamente relacionado à visão e à percepção que temos de nós mesmos. Acreditamos que somos melhores que os outros!

Essas reflexões nos conduzem às feridas narcísicas que nos infligiram três cientistas, principalmente. Refiro-me à conhecida correlação entre Copérnico, Darwin e Freud. O matemático e astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) demonstrou que o planeta Terra não era o centro do universo (teoria geocêntrica). Afirmou que a Terra girava em torno do Sol.

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Dedução de Freud: o homem não era o destinatário de uma centralidade celestial e divina, como pregava a igreja medieval. O cientista e naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) desvendou outra ilusão humana. Abalou o mito da criação divina ao defender a tese de que somos parte de um longo processo evolutivo de várias espécies. Seríamos uma evolução biológica dos macacos.

Finalmente, o médico neurologista alemão (e criador da psicanálise) Sigmund Freud (1856-1939) é responsável pela terceira desilusão humana. Graças às observações e pesquisas clínicas dele, concluiu que o homem não é “dono” das próprias ações. Afirmou que reflexos e ações inconscientes governam a determinação de atos e decisões. Ou seja, não somos “governados” por nosso consciente.

Assim, os históricos e repetidos atos de discriminação, de todas as vertentes e motivações, são frutos de nossa trágica e equivocada visão e percepção sobre nós mesmos. Ainda nos julgamos melhores que os outros, como que “o centro do mundo”!

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Quando teremos plena, civilizada e humanitária consciência dos próprios erros? Depois de dor e sofrimento? Afinal, amanhã, quem sabe, “o outro” poderemos ser nós mesmos. E, então, conheceremos o amargo sabor do próprio veneno!

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