Ainda o caso do ex-ministro Sílvio Almeida. Luiz Eduardo Soares (1954) é um cientista político, antropólogo e escritor. Ex-secretário nacional de Segurança Pública, durante dez meses (2003), no primeiro ano do governo Lula. Autor, entre outros livros, de Desmilitarizar: segurança pública e direitos humanos (Editora Boitempo).
Do seu longo e delicado texto no site, edição de 8 de setembro do corrente ano, sob o título A condenação perpétua de Sílvio Almeida, retiro e reproduzo alguns parágrafos. Prossigo.
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“O conflito seríssimo entre a necessidade de legitimar a voz das vítimas, tomando a sério as acusações, e ao mesmo tempo respeitar a presunção de inocência e o direito de defesa, este conflito está longe de ter sido resolvido, seja legalmente, seja cultural, moral e politicamente.
Estamos pendurados sobre o abismo por um fio, e para que ele não se rompa temos de, pelo menos, penso eu, ter humildade e extremo cuidado ante casos desse tipo, casos que essa situação dramatiza de forma tão intensa, por suas implicações. Enfim, sinto uma tristeza imensa por todas as perdas envolvidas, e pela ausência do reconhecimento da gravidade desse impasse.
Em nome do respeito que o ex-ministro merece, em nome do respeito que merecem mulheres vítimas, eu me pergunto se não está na hora de virar a chave da judicialização, da policialização e da penalização das situações que talvez pudessem ser melhor enfrentadas e elaboradas por outras linguagens e mecanismos, em que fossem efetivamente rompidas as estruturas que acabam reiterando as opressões de raça e gênero, articuladas com o domínio de classe.
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Não nos iludamos: as condenações morais que são perpétuas e transcendem penas não fazem avançar as lutas mais nobres, apenas agravam as dramáticas iniquidades brasileiras, que trituram tantas vidas – com a mais perversa hipocrisia –, em nome da justiça, da ordem e da moralidade”.
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Concluo e pergunto: quem não concordaria em afirmar que deve haver mais cuidados com denúncias, em crimes de qualquer natureza, sobretudo as originárias nas esferas de poder, onde predominam interesses ocultos e difusos, mas não menos potentes e aniquiladoras?
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Como o absurdo ocorreu entre membros da mesma corrente, autodeclarada democrática e progressista, que tem em seu ideário o antirracismo, a antimisoginia e a anti-homofobia, fica uma lição definitiva e universal. A condição e a natureza humana se sobrepõem às narrativas e às idealizadas construções político-ideológicas!
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