Colunistas

O revólver do meu pai

Meu pai tinha um revólver. Ficava em uma gaveta, abaixo do caixa do nosso bar-sorveteria. Em uma noite fria e sem movimento, ele sozinho atrás do balcão, dois homens de máscara e arma em punho entraram anunciando um assalto. Na casa ao fundo, eu, adolescente, assistia à TV quando ouvi os gritos:
– Seus sem-vergonha, vou pegar vocês.

Cheguei a tempo de ver Seu Oclides voltando esbaforido com uma garrafa vazia na mão. Sem pensar nos riscos, ele havia avançado na direção dos gatunos com a primeira coisa que achou: a tal garrafa. Os dois, provavelmente surpreendidos com a reação, saíram correndo rua afora e desapareceram.

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Só então meu pai se deu conta: na adrenalina do momento, esquecera que tinha uma arma bem pertinho. Passado o susto, achamos uma temeridade a atitude dele. Poderia ter levado um tiro. Ainda assim, reconhecemos que se tivesse tentado usar o revólver, a probabilidade de estar morto seria maior.

O episódio só fez reforçar a tese de minha mãe de que revólveres atraem problemas. Dona Theresinha detestava armas. E de nada adiantava dizer que estava descarregada. O medo de um engano prevalecia. Por essas e outras, a Taurus, que possivelmente nem funcionasse mais, foi definitivamente abandonada.

Talvez influenciada pelo terror da mãe, talvez pelo impacto de dois suicídios na família, o fato é que armas me deixam um tanto ansiosa. Elas, que têm como único objetivo ferir, não me trazem segurança alguma. Pelo contrário.

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Não gosto de bandido, mas nem por isso acho que uma sociedade armada consiga dar conta da barbárie deste País. Ao longo dos anos, firmei convicção de que a posse de material bélico, assim como o porte, deve ser restrita. E que exemplos de outras nações exigem análise cautelosa se o objetivo for utilizá-las como modelo. Afinal, a realidade brasileira é um caso à parte.

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Até entendo o argumento daqueles que sofreram com a violência e usam uma arma como recurso para se sentirem seguros. Apenas não me parece a melhor saída.

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Quanto aos caçadores, não, eu não entendo.

Por outro lado, são frequentes os casos de pessoas com pouco ou nenhum juízo que ostentam licença de CAC – colecionador, atirador e caçador. Se não somos capazes de fiscalizar a concessão desse certificado (e pelo jeito não somos), penso que o melhor é reavaliar a lei. Não vai eliminar o problema, porque o problema é mais amplo do que a disputa político-ideológica faz crer. Mas vamos, ao menos, evitar algumas tragédias. E só por isso já vai ter valido a pena.

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Bruno da Silveira Bica

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Bruno da Silveira Bica

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