A vacinação massiva e o isolamento social são as principais receitas para conter o avanço da pandemia de Covid-19 e, neste quesito, países como Israel, Portugal e Austrália estão dando bons exemplos. Com restrições e estratégias diferentes de vacinação, estas nações já sentem os efeitos positivos das medidas.
Ao mesmo tempo em que atingem as maiores taxas de imunização, estão reduzindo as infecções, hospitalizações e mortes pela doença. A Gazeta do Sul conversou com moradores destes países – pessoas que também mantêm vínculos com Santa Cruz do Sul –, que deram uma panorâmica sobre a situação por lá.
Em Israel, por exemplo, a bem-sucedida campanha de vacinação, que teve início em 20 de dezembro já aplicou a primeira dose em 70% da população de 9,3 milhões de pessoas. É o país com maior taxa de população imunizada.
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A santa-cruzense Ana Maria Piazera-Davison, que reside há 13 anos na cidade de Raanana, a 20 quilômetros de Tel Aviv, na região central do país, já recebeu as duas doses da vacina. Ela conta que desde janeiro percebe-se uma queda nos índices de pessoas infectadas. O número de mortes despencou. Para ela, a preocupação que as autoridades direcionaram à pandemia logo no início foi essencial para controlar o contágio.
“Assim que a OMS anunciou que estava em curso uma pandemia mundial, o governo de Israel apressou-se em tomar providências. A primeira delas foi fechar os dois aeroportos do país, exercendo restrito controle sobre viajantes que partiam e que chegavam. Uma testagem em massa também foi feita na população e o governo impôs lockdown severo por algumas semanas, com toque de recolher, fiscalização da polícia nas ruas e aplicação de multas em quem estivesse fora de casa sem necessidade ou sem máscara e luva”, relata.
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Todas as escolas e universidades foram fechadas e apenas o comércio considerado essencial foi mantido aberto. “O governo deu o exemplo ao considerar a vida mais importante que a economia equilibrada. Ele confiou na ciência, não interferiu nos procedimentos e fez o que era necessário, adquirindo doses da Pfizer BioNTech. Benjamin Netanyahu (o primeiro-ministro) conduziu a situação na pandemia muito bem. É o mínimo que se espera de um governo, afinal de contas”, afirma.
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Além de Israel, o Estado de Nova York, nos Estados Unidos, se destaca na vacinação, que está além do esperado, com mais de 30% dos moradores já imunizados com, pelo menos, a primeira dose. Na semana passada, o Estado incluiu pessoas com 30 anos nas novas datas de sua campanha de vacinação. Maiores de 16 anos começaram a ser vacinados nessa terça-feira, 6.
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A jornalista Bruna Travi, que por muito tempo residiu em Santa Cruz, mora no bairro do Brooklyn desde o início do ano. Ela comenta que os nova-iorquinos estão animados com o cronograma de vacinação. “Desde fevereiro a cidade e o Estado estão vacinando diversos grupos, e vêm ampliando a cada dia. Aqui as vacinas são feitas por agendamento em um site do governo estadual ou municipal. Como eu era elegível, me cadastrei e aguardei. Dois dias depois fiz a primeira dose,” comenta.
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A previsão, segundo o governo, é de que até 4 de julho – Dia da Independência dos Estados Unidos – toda a população esteja imunizada e que ocorra a chamada “independência do vírus”.
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Bruna, que trabalha remotamente para uma empresa no Brasil, relata que os Estados Unidos estão em um processo de retomada. Por lá, seguem ainda fechados os teatros e espaços voltados especificamente ao turismo, além das fronteiras.
Nos restaurantes e outros estabelecimentos do comércio, há restrições na quantidade de público, mas todos estão abertos com exigência de distanciamento e o uso de máscara. “A cidade está diferente do que os turistas estão acostumados a ver. Os lugares estão mais vazios, os metrôs com espaços vagos e, de turistas, somente os americanos.”
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Portugal quer vacinar mais de 100 mil pessoas por dia
Em Portugal, a vacinação, que começou no fim de dezembro, já contabiliza mais de 1,6 milhão de doses aplicadas – 11,47% da população com primeira dose e 4,63% com segunda. Por lá, a meta em abril é imunizar mais de 100 mil pessoas por dia. O país deverá receber neste segundo trimestre uma remessa de 9 milhões de vacinas (1,8 milhão ainda em abril e o restante nos dois meses seguintes).
A santa-cruzense Laura Gomes, que faz doutorado em Ciências da Comunicação na Universidade da Beira Interior, e que está radicada desde 2016 na cidade de Covilhã, no interior de Portugal, destaca que apesar da vacinação estar bem adiantada, os moradores seguem confinados.
“Estamos saindo do segundo lockdown, que começou em janeiro deste ano. Agora foi um pouco diferente do primeiro, iniciado em março de 2020 e que durou por meses, com diversos estabelecimentos comerciais e de ensino fechados. Aquele pavor do início da pandemia não existe mais e as pessoas vão mais para as ruas; no entanto, ficam mais separadas. Depois de um ano, acho que já incorporamos essa rotina no nosso dia a dia. Até o mercado tem horário específico de funcionamento,” comenta.
Para Laura, apesar de Portugal ser um país pequeno em comparação com o Brasil e com boa parte da população idosa, sem as restrições teria sido impossível conter o crescimento dos casos. “Foi desesperador, mas estamos finalmente tendo resultados positivos. Os casos estão diminuindo.”
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Após estancar o número de mortes, Austrália vacina de forma mais lenta
Natural de Passo do Sobrado, João Pedro Kist vive em Melbourne, na Austrália, há três anos. Ele migrou para o país continental para estudar Inglês, Marketing e Mídias Sociais. O jovem conta que, mesmo com o ritmo de vacinação um pouco mais devagar que o registrado em outros países, a população vive neste momento um “novo normal”, com o fim das restrições mais severas. Porém, o uso de máscara segue obrigatório no transporte público e em supermercados, e a vigilância é rigorosa.
“Em lugares com grande fluxo de pessoas é preciso fazer registro por QR code para entrar. Há uma enxurrada de cartazes, banners, flyers e comerciais na TV e na internet, elaborados pelos governos federal e estadual, com orientações sobre a Covid,” comenta.
Segundo Kist, apesar de o governo ter adquirido doses suficientes para vacinar toda a população, a produção e a aplicação das doses estão lentas. “A diferença para o Brasil é que como aqui não há mais mortes por Covid desde dezembro, a vida está praticamente normal e a pressão pela vacina é muito menor. Não sinto que há senso de urgência quanto à vacina”, enfatiza.
A campanha de imunização, que teve início em 21 de fevereiro deste ano e tem previsão de ser concluída até outubro, começou com doses importadas. Uma fase posterior usará injeções da AstraZeneca fabricadas localmente. Kist ressalta que, apesar das divergências político-partidárias, a sintonia entre o primeiro-ministro, governadores e prefeitos sempre foi muito positiva. E que os cientistas, desde o começo da pandemia até os dias atuais, têm participação muito ativa na tomada de decisões.
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