Dez mil árvores, 137 mil litros de petróleo e quase 500 mil quilos de minério preservados. Essa foi a contribuição da Cooperativa dos Catadores e Recicladores de Santa Cruz do Sul (Coomcat) em 2018 para o meio ambiente. Os números foram apurados com base no total de lixo reciclado pela Coleta Seletiva Solidária ao longo do último ano: 929 toneladas.
Achou muito? Dá para aumentar. Cálculo feito pela área de engenharia ambiental da entidade indica que a quantidade de resíduos recolhidos no município poderia triplicar, não fosse a ação dos atravessadores clandestinos e a falta de comprometimento de boa parte dos moradores, que ainda não separa o lixo da forma como deveria.
É por isso que a presidente e uma das responsáveis pela criação da cooperativa, Rosângela Terezinha Nunes, 43 anos, insiste: orgânico é dentro do contêiner, lixo seco, fora dele. Faz nove anos que os catadores da Coomcat cuidam do seu lixo. Ao passo que muitos santa-cruzenses aprenderam a ser responsáveis pelos resíduos que produzem, outros ainda insistem no erro e fecham os olhos a esse ato de cidadania tão essencial à gestão de qualquer município: a separação dos resíduos na própria casa.
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Prova disso é o que os cooperados continuam encontrando na usina de triagem. Bichos mortos, seringas, lâmpadas, garrafas pet contaminadas e até fezes passam pelas esteiras diariamente. “Hoje os catadores, um dos mais importantes agentes ambientais da cidade, recolhem todos os resíduos secos, inclusive vidro. Estamos dispostos a conscientizar, a buscar o material no local, a informar a qualquer hora. Só precisamos que todo mundo pegue junto”, diz a secretária Marilane Poeckel. Diariamente, a Coleta Seletiva Solidária circula por nove bairros de Santa Cruz do Sul em horários determinados.
A orientação é que mesmo os moradores que ainda não residem em bairros atendidos pela coleta separem os rejeitos produzidos em casa. “Quando o lixo recolhido pela Conesul chega na nossa usina de triagem, faz toda a diferença ele estar separado. Facilita e agiliza o processo”, explica a coordenadora de produção, Jane Mara dos Santos. Já nas áreas onde a coleta funciona, a regra é simples. O lixo seco não deve ser colocado dentro do contêiner e sim ao lado, em um saquinho separado.
No interior do equipamento verde devem ser depositados somente resíduos orgânicos. Demanda que já foi solicitada por muitos moradores, a ampliação da área atendida pela cooperativa ainda está em discussão. Segundo o coordenador de comunicação, Jonathan Willian dos Santos, é necessária a contrapartida do Executivo para que a coleta alcance novos espaços. “A comunidade também tem um papel muito importante no avanço da coleta. Quanto mais solicitarem a ampliação do nosso serviço, mais força nós ganhamos para tornar essa meta realidade”, reforça.
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O secretário municipal do Meio Ambiente, Raul Fritsch, afirma que o objetivo neste ano é, sim, crescer. Salienta, entretanto, que não será direcionada mais verba para esse processo de expansão. “Temos de qualificar o serviço e mostrar mais volume. Precisamos encontrar uma solução em conjunto para resolver a ampliação e a ação dos atravessadores.” A Prefeitura de Santa Cruz do Sul repassa, hoje, R$ 102,4 mil mensais para a Coomcat.
“Trabalhamos com o que o mercado não quer”
Não basta contribuir diretamente para o meio ambiente e transformar em renda toneladas de resíduos que voltaram ao seu ciclo produtivo. Desde 2010, a Coomcat realiza um importante trabalho de inclusão social e faz muita gente que teve pouca ou nenhuma oportunidade virar protagonista da própria história. “Nós trabalhamos com o que o mercado de trabalho não quer.
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Empregamos pessoas com baixa escolaridade, com histórico de drogadição, além daquelas fisicamente não propensas para o trabalho”, ressalta Marilane. É um processo mais lento de evolução, mas do qual a cooperativa não abre mão. “Já vimos muitos cooperados caírem, mas muita história mudar para melhor. É difícil, mas nós não desistimos. Nosso histórico é de luta”, ressalta a presidente Rosângela Terezinha Nunes.
Hoje, 52 cooperados fazem parte da cooperativa de catadores. São 52 famílias, a maioria delas residente em bairros carentes, beneficiadas com a renda do lixo em transformação
DIAS DE COLETA EM SANTA CRUZ
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De segunda a sexta-feira, os catadores estão na rua recolhendo o lixo seco produzido pela população. A coleta é feita com a ajuda de um caminhão, carrinho o camionete.
VEJA COMO SEPARAR O LIXO
O que não pode ir para o lixo seco
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*Esses resíduos precisam ser encaminhados
para pontos de coleta específicos como
farmácias e a Central de Recebimento de Pneus e Resíduos Eletrônicos (Crepel).
O que vai no lixo orgânico (contêiner)
O que vai no lixo seco (reciclagem)
*Se for vidro quebrado, enrole os cacos
em um papel de jornal e escreva em um
pequeno papel: “vidro quebrado”.
*Coloque o seu lixo seco ao lado do
contêiner verde ou pendurado no
portão de casa
MOUSE COM BORRA DE CAFÉ E VIDRO
Na tarde dessa terça-feira, a Gazeta do Sul acompanhou parte da coleta seletiva realizada por catadores da Coomcat na Rua Assis Brasil. A constatação foi a que se esperava: a separação de lixo não tem sido uma prática de muitos santa-cruzenses. Além de haver todos os tipos de rejeitos depositados no contêiner – em regiões onde há coleta seletiva, esses equipamentos só devem receber lixo orgânico –, misturas de todos os tipos foram encontradas.
“Se as pessoas soubessem que o reciclável deve ir fora do contêiner, nem precisaríamos entrar nele para verificar o que dali pode ser aproveitado. Além disso, iríamos nos machucar menos. Várias vezes já nos cortamos com vidro e outros materiais por conta desse descuido”, disse o catador Marcos Santos.
Veja o que foi encontrado dentro de dois sacos de lixo no contêiner da Assis Brasil:
SACO DE LIXO 1: garrafa pet, papel higiênico, cuia de chimarrão, borra de café, restos de carne, pão velho, caixa de leite, latinha de refrigerante, um mouse e erva-mate.
O CORRETO: poderiam ter sido colocados em uma sacola do lado de fora do contêiner a garrafa pet, a cuia, a caixa de leite e a latinha de refrigerante. O mouse deveria ser destinado para a Central de Recebimento de Pneus e Resíduos Eletrônicos (Crepel). Já o restante é classificado como lixo orgânico. Esse, sim, vai para o contêiner.
SACO DE LIXO 2: garrafas pet, aveia, cascas de verdura e cacos de vidro não protegidos.
O CORRETO: as garrafas pet deveriam ter sido colocadas fora do contêiner. Já os cacos de vidro poderiam ser enrolados/protegidos em um papel jornal para não machucar os catadores e também deixados do lado de fora. As cascas de verdura e a aveia poderiam ser colocadas dentro do contêiner ou reutilizadas por meio de uma composteira domiciliar. (Até abril, Santa Cruz do Sul deverá ganhar uma grande composteira mecânica municipal.)
“É economia de água, de energia e de recursos”
Além de contribuir para a renda de uma parcela da população que estava fora do mercado de trabalho, o ato de colocar o lixo no lugar certo contribui para racionalizar recursos. O engenheiro florestal Juarez Pedroso explica que quanto mais papel for reciclado, mais se reduz o processo industrial para produzi-lo.
“Nessa cadeia temos economia de água, de energia e produtos químicos. É tudo aquilo que seria feito, de novo e de novo, para elaborar novas folhas de papel.” O mesmo raciocínio vale para a preservação de minérios, que acontece com a reutilização de metal. Conforme Pedroso, evita-se a mineração na essência, ou seja, a extração intensiva de materiais e a produção de rejeitos resultantes desse sistema –tema tão comentado após o rompimento da barragem de Brumadinho.
“É evitar uma exploração intensiva de recursos, gerar economia e evitar novos processos industriais para lançar mão de um mesmo bem. Por isso a separação e a reciclagem são tão importantes.” Um dever que se você, santa-cruzense, ainda não cumpre, pode desempenhar a partir de hoje. Que tal comprar aquela lixeirinha de pia e depositar o lixo orgânico produzido em sua casa nesse espaço? Não é difícil.
EMPRESAS E CONDOMÍNIOS PODEM COLABORAR
Empresas e condomínios que desejarem colaborar com a Coleta Seletiva Solidária podem entrar em contato com a cooperativa e pedir que os catadores busquem os resíduos no endereço marcado. A Coomcat está localizada na Rua Venâncio Aires, 1445. O telefone é (51) 3902 7669.
A COOMCAT EM 2018
Estudo levantou a quantidade de lixo recolhido e calculou os recursos preservados:
PAPEL: 504 toneladas recolhidas – 10.820 árvores preservadas
PLÁSTICO: 247 – toneladas recolhidas – 137 mil litros de petróleo preservados
METAL: 72 toneladas recolhidas – 358 toneladas de minério preservadas
VIDRO: 106 toneladas recolhidas – 136 toneladas de minério preservada
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