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INTERIOR

O que um dia foi um sonho, morador descreve como tristeza total

Foto: Nathana Redin/Gazeta da Serra

Romar Schneider, 60 anos, morador de Linha Santa Cruz, interior de Arroio do Tigre, viu a agroindústria da família, voltada ao processamento de aipim congelado, se reduzir a algumas máquinas ainda a serem avaliadas para saber se será ou não possível o conserto, após a cheia do Arroio Jaquirana, em 30 de abril. “Naquela hora que a água vem com força tu quer fazer algo, mas parece que fica sem ação, parece que fica freado. É uma coisa que só quem passa sabe”, conta Romar, que no momento estava sozinho em casa.

No local, onde também reside com a esposa Janete, 55 anos, e as filhas Jiane e Janice, a Agroindústria Schneider se tornou alternativa de diversificação e renda para a família, que tinha anteriormente o cultivo do tabaco como carro-chefe, tendo migrado para os grãos, e empreendido com uma padaria em outro endereço. “Quando elas chegaram, aí não sabia quem consolava, isso era um desespero de todo mundo. Não sabia o que fazer. Quando passou aquele estado de choque, aí cada um foi fazendo alguma coisa, e a Janete logo pensou em salvar os documentos. Nós já estávamos pensando que iria tudo embora com a água. Do jeito que a água vinha, ela estava lá embaixo na metade da passagem e de repente já estava aqui. Não sei de onde saiu tanta água, não tem explicação. Assim como ela subiu, voltou também”, revela. O prejuízo, segundo Romar, ultrapassa os 100 mil reais. Isso em valores, porque em trabalho e dedicação ao negócio, o valor é incalculável.

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Além da perda de grande quantidade de produto para venda, que calcula em aproximadamente 64 mil reais, as máquinas que auxiliam no processo de lavagem, descascagem, embalamento e resfriamento também sofreram danos, especialmente nos motores. Apenas com a câmara fria, onde adentrou água e terra, quebrando parte da viga onde se encontra e pendendo para o lado da parede, Romar estima cerca de 50 mil reais, pois depende ainda de uma avaliação mais minuciosa e da possibilidade ou não de voltar a funcionar após reparos.

Residindo próximo da ponte torta da localidade, o avanço rápido da água alcançou primeiro a agroindústria, que fica em um nível um pouco mais baixo que a residência. Das caixas que utilizava para armazenar o produto, cerca de 300 não conseguiu mais localizar. De acordo com ele, este seria, possivelmente, o primeiro ano, desde que o empreendimento foi inaugurado há cerca de uma década, em que haveria um maior retorno sobre o investimento.

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A água também chegou na casa da família, não provocando estragos maiores, pois conseguiram remover alguns móveis e carregar em um caminhão com o auxílio de vizinhos, somando-se cerca de 20 pessoas no auxílio também com a limpeza. Diversas árvores frutíferas também foram arrancadas do lugar. Ainda, foram mais de duas semanas sem energia elétrica devido aos danos causados à rede elétrica.

Conforme revela Romar, a motivação para seguir em frente está na família e na fé, com um destaque especial para a netinha Isabelly. “Tristeza. O desânimo é total. A gente praticamente foi ao chão. Trabalho de dez anos que a gente tinha com a montagem da agroindústria. Hoje a gente tem ânimo de novo por motivo de uma criança. A nossa netinha de quatro anos faz com que eu tenha ânimo para remontar tudo. Fé é o que nos move. Fé e família é tudo”, ressalta.

Em razão dos prejuízos e da necessidade de reestruturar o espaço, Romar acredita não ser possível retomar as atividades na agroindústria ainda este ano, também em razão da oferta da matéria-prima e da temporada em que atua-se com o produto, bem como da necessidade de buscar recursos. Em um ano em que poderia comercializar entre 27 e 30 mil quilos, apenas quatro mil haviam sido entregues e três mil estavam prontos para serem distribuídos no dia seguinte à enchente, mas já não foi mais possível.

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