Escrevo este texto antes das eleições e, por isso, trabalho com hipóteses e invenções. Não sei o que terá dado. Infelizmente, nesse domingo, 2, muitos sonhos morreram, muitas promessas esplendorosas não nos alcançarão, perdemos a oportunidade de ver de perto o paraíso, onde não haveria choro e ranger de dentes, não haveria fome, filas em postos de saúde, desemprego, a harmonia seria total. Os animais seriam bem tratados, as mulheres seriam respeitadas, a natureza seria preservada, existiria grande apreço pela educação e pela cultura, os agricultores teriam atenção especial.
Campanhas eleitorais, quando não travadas sobre tablados de ódio, mentiras, ofensas, muitas vezes são divertidas. Lembro o que um amigo me contou. Um candidato a vereador de município da região, empolgado no palanque, bradou que trabalharia pela saúde – parece que essa era a prioridade dele – de norte a sul e, não lembrando os demais pontos cardeais ou não sabendo bem onde ficava o leste e o oeste, lascou “e de lá pra cá”. Então, por segurança, “de norte a sul e de lá para cá”.
Na campanha que finda, Deus esteve muito mais presente nas propagandas eleitorais do que nas igrejas. Eu nunca tinha observado tantas pessoas de fé pleiteando um cargo. Um se apresentou como cristão, íntegro e trabalhador. Não precisa ser cristão, mas quem nos representa deve ser, sim, íntegro e trabalhador. Apareceu até um candidato fantasiado de padre, não tendo nenhuma vergonha na cara para mentir. Os líderes da igreja, à qual dizia pertencer, disseram desconhecê-lo completamente. Que cavaleiro da triste figura esse homem se prestou a representar! Uma candidata o definiu na mosca: padre de festa junina. Será que Deus ainda será lembrado se o resultado não veio?
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A família nunca foi tão invocada, conclamada, citada, em conceitos bem pessoais e convenientes. Lembrei muito do “Poema em linha reta”, de Fernando Pessoa. Transcrevo alguns versos: “Quem me dera ouvir de alguém a voz humana/ Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;/ Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!/ Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam./ Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?/ Ó príncipes, meus irmãos,/ Arre, estou farto de semideuses!/; Onde é que há gente no mundo?”.
Dava pena ver alguns candidatos não conseguir dizer nem seu nome nos fragmentos de segundos de que dispunham. Imagino um candidato de nome Epaminondas Aristóteles Aureliano Eurípede Magalhães! Não conseguiria jamais apresentar os pontos básicos da plataforma eleitoral, que certamente seria muito inovadora. Aliás, a campanha deve ter sido uma luta muito árdua para quem se candidatou pela primeira vez. Um pretendente se denominava Xurras. Será que não estaria prometendo churrasco para todo mundo?
Outra questão sobre a qual vale a pena refletir é essa enorme quantidade de partidos. Quando a coisa aperta, quando os “interésses” se impõem, acabam se juntando mesmo. Quantas pessoas atentam efetivamente sobre o partido do seu candidato? É muito ruim isso, porque acabamos não tendo uma opção clara em torno de uma filosofia, de um programa de governo. Grande parte dos candidatos não sentem nenhum constrangimento em trocar de partido até mais de uma vez durante uma legislatura.
Ficando na aula de catequese do hilariante “padre”, num lugar, “Deus salve o rei”, noutro, “Deus salve a América”, mas que não se esqueça de nós porque muito vamos precisar.
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