Há mais de duas décadas, em 1998, a banda carioca Kid Abelha, tendo à frente a vocalista Paula Toller, lançou o álbum Autolove, que trazia uma canção prontamente incorporada ao imaginário de quem aprecia a boa música brasileira. Em “Maio”, terceira faixa do conjunto, Paulinha cantava, em ritmo de divagação: “Maio / Já está no final / O que somos nós afinal / Estamos longe demais / Longe demais.” Pois estamos nos dois últimos dias de maio deste fatídico, incompreensível e inesquecível ano de 2020. Maio chegou ao fim, e a todos, sem exceção, trabalhadores, empresários, pessoas comuns, que estejam ou não em sua idade mais produtiva, fica a sensação, estranha e desconfortável, de desalento. Mas um desalento, um desencanto, que, no entanto, deve vir acompanhado de um indispensável, inadiável sentimento de… reação!
Maio chegou ao final, e, com ele, já na segunda-feira, vem o primeiro dia de junho, reta final do primeiro semestre. A ameaça do coronavírus segue muito presente, com sua capacidade de alastrar-se por todos os ambientes. Mas mais do que a ameaça da Covid-19, e inclusive como extensão dela, surge um outro horizonte complicado e desafiador: o da pandemia econômica. Gente que perdeu o emprego, gente que viu sua renda cair de forma drástica. E, pior do que tudo isso, gente que de repente ficou sem dinheiro para adquirir o alimento, e então o alimento começa a faltar na despensa e na mesa de milhares de famílias. Eis o mais grave problema social, que só tende a se agravar à medida em que o inverno se estabelece.
Em paralelo, uma outra pandemia, persistente, incomodativa: a da corrupção na política. Chegamos ao final de maio contabilizando um resultado muito triste para a região: dois vereadores cassados em Santa Cruz do Sul, um prefeito preso em Rio Pardo. A sociedade regional não precisava disso, e certamente não eram, nem de perto, as notícias que os cidadãos gostariam de ter lido. Mas, em todas as circunstâncias, lá esteve presente a Gazeta, acompanhando e registrando, honrando sua tradição, de 75 anos, de estar ao lado da comunidade. E pudemos fazê-lo no mesmo momento em que, internamente, comemorávamos, com a preocupação de enaltecer o legado dos colegas que nos antecederam, os 40 anos da Rádio Gazeta FM 107,9, a nossa pioneira rádio.
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Sim, maio já está no final. Portanto, “é hora de se mover”, como canta Paulinha Toller. “Pra viver mil vezes mais / Esqueça os meses / Esqueça os seus finais / Esqueça os finais.” Certamente não está nada fácil esquecer a pandemia (aliás, nem se consegue mirar um horizonte menos nebuloso). Mas é, sim, hora de se mover. E de agir. Agir de forma individual, e de forma coletiva, como sugeriu o projeto Gerir, promovido na terça-feira pela Gazeta. Com nossa capacidade de ação, de mobilização, de cooperação, na cidade, na região, no país e no mundo, é que descobriremos, logo ali adiante, se possível já no segundo semestre, o que somos nós afinal?
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