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O que os ladrões nos levaram em apenas um mês

Celulares, notebooks, carteiras, relógios, bicicletas e televisões estão entre os itens mais levados pelos ladrões em Santa Cruz do Sul. Durante o mês de julho, a Gazeta do Sul acompanhou parte dos registros de furtos que chegaram à Polícia Civil. Em 97 casos aos quais a reportagem teve acesso, 23 foram de veículos. Nos outros 74, os ladrões levaram cerca de 450 produtos. O número representa uma parcela das ocorrências que chegam diariamente às polícias. Somente no primeiro semestre deste ano, o município registrou 1.020 furtos, uma média de 170 por mês, além de 254 furtos de veículos.

Ainda que seja visto como um crime de menor gravidade, por não envolver ameaça ou violência, como num assalto, o furto toma tempo das polícias, da Justiça e deixa um trauma para as vítimas. Dos 74 registros acompanhados, 31 foram de ataques a residências. Nesses casos, além de levar os objetos que encontram, os criminosos deixam para trás o medo que os proprietários sentem depois de terem sido vítimas desse tipo de ação.

“A gente sabe que o furto, além de ser um delito que incide contra o patrimônio, também deixa uma marca grande para a vítima. Gera toda uma consequência psicológica”, afirma a delegada Ana Luísa Aita Pippi. Na 1ª Delegacia de Polícia, ela recebe diariamente ocorrências de furtos, especialmente em comércios ou em residências. Um dos receios de quem tem a casa invadida por um ladrão é o de que ele retorne. “Ele já sabe o que tem na casa, como entrar. E isso não é incomum, casos em que o autor volta”, ressalta.

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Nessa sexta-feira, uma mulher de 63 anos procurou a polícia para registrar dois arrombamentos em sua casa em apenas cinco dias. A moradora do Bairro Aliança contou que os ladrões removeram telhas e quebraram o forro para entrar na moradia. O primeiro caso aconteceu no sábado, dia 29, e o outro na quinta-feira. Foram levados uma televisão, um aparelho de rádio e um controle remoto. Não havia ninguém em casa no momento e, a princípio, ninguém teria visto o crime.

A falta de testemunhas é um dos principais entraves para a polícia chegar aos autores, especialmente em residências, onde geralmente não há câmeras. “O furto é um crime traiçoeiro. Difícil de elucidar. Muitas vezes não deixa rastros, testemunhas, ocorre na calada da noite ou num horário do dia em que não há testemunhas, em que os vizinhos não percebem”, diz a delegada.

Quando há testemunhas, em muitos casos também existe o medo de represálias. Por isso, a polícia pede que as informações sejam repassadas, mesmo que de forma anônima. “As delegacias não têm só os furtos. Tem assaltos, homicídios, estelionatos. Mas o furto não é um crime que passa despercebido por nós, pelo contrário. A gente sabe da importância que a elucidação desse crime gera não só para a sociedade como para a Justiça. Até porque podemos representar pela prisão preventiva dos autores e conseguir que eles fiquem por um tempo longe do convívio social e da prática do crime.”

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Outros pontos

Reincidência
A reincidência dos criminosos envolvidos em furtos é algo que se tornou rotina para as polícias. Quando o mesmo indivíduo comete uma série de furtos, a investigação, caso consiga provar que se trata do mesmo autor, consegue que ele seja preso de forma preventiva. Mas a tarefa não é fácil. “Demanda um trabalho investigatório grande, com bastante tempo. Mas a gente tem conseguido obter as prisões junto ao Judiciário. Eles têm permanecido presos. Mas é por um tempo. Sabemos que quando eles estão em liberdade, volta tudo novamente.”

As penas
O furto qualificado ocorre quando há emprego de recursos como arrombamento, concurso de pessoas, escalada ou destreza (pescar objetos de vitrines). Em geral, casos de ingresso em residências ou comércios. A pena é de dois a oito anos de reclusão. Já o furto simples é aquele em que não há necessidade de arrombamento ou invadir algum lugar. Nesse caso, o objeto está ao alcance do criminoso: bolsas, celulares, etc. A pena é de um a quatro anos de reclusão.

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Denúncias
As informações são essenciais para que a polícia chegue aos autores de furtos de veículos, em residências, comércios ou nas ruas. Muitas vezes, as pessoas têm receio de se envolver nesses casos, mas a informação pode ser repassada de forma anônima. O contato com a Polícia Civil em Santa Cruz do Sul pode ser feito pelo (51) 3719 9900 ou pelo 197. “Se souberem da prática de algum furto ou que alguém está oferecendo objetos furtados, liguem para nós, que a gente sempre vai atrás das informações”, frisa a delegada.

Quem furta

USUÁRIOS DE CRACK
Perambulam a pé pela cidade em busca de algo que possam vender ou trocar por droga. Seus alvos são itens fáceis de transportar. Um dos preferidos são notebooks. Celulares, Ipad, dinheiro, bicicletas, bolsas, carteiras e itens do comércio, como roupas, alimentos e bebidas, também estão entre os mais levados. Esses ladrões se valem da oportunidade. Mas são os mais audaciosos. “É a pessoa que se arrisca, que entra na casa até quando tem a vítima dormindo”, salienta a delegada. O maior perigo está no imprevisto. Ele pode reagir ao se deparar com alguém dentro da residência.

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ESPECIALISTAS EM RESIDÊNCIAS
São criminosos que encontram nos furtos em residências uma espécie de “profissão”. A polícia prendeu recentemente o dono de uma revenda de gás que se aproveitava para “fazer a limpa” nas casas. Diversos objetos (alguns na foto) foram apreendidos com ele. Esses ladrões furtam tudo que encontram nas moradias. Muitas vezes, eles têm encomendas. Invadem as casas quando os proprietários não estão, furtam o que for possível e transportam em veículos. Depois revendem os objetos pela internet ou para receptadores.

LADRÕES DE JOIAS
Agem com ações premeditadas e muitas vezes mediante encomendas. O que furtam: anéis, colares, relógios ou outros tipos de joias que poderão ser revendidas. Algumas vezes levam notebooks, mas isso não é seu foco. Os alvos, em geral, são moradias em áreas mais nobres. Contam muitas vezes com informações privilegiadas sobre o que há na casa. Atacam os imóveis também em horários nos quais os proprietários não estejam. São discretos e levam itens fáceis de transportar. Repassam rapidamente as joias aos receptadores.

CRIMINOSOS DISCRETOS
Adolescentes ou outras pessoas que estão se aventurando no crime. Também estão inseridos nesse grupo os criminosos que agem em shoppings e restaurantes, sem levantar suspeita. Furtam celulares, dinheiro, bolsas e carteiras. Muitas vezes agem em ônibus ou paradas, assim como em locais onde as vítimas costumam estar distraídas, em lojas, restaurantes e shoppings.

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ESTELIONATÁRIOS
Outro tipo de furto, muito comum em Santa Cruz do Sul, envolve o furto e resgate de veículos. Nessa modalidade, os criminosos levam o carro ou motocicleta da vítima e depois entram em contato por telefone exigindo dinheiro em troca. Na maioria da vezes, os donos acabam cedendo à pressão e pagam o resgate para ter o veículo de volta. Somente no primeiro semestre deste ano, foram registrados 254 casos de furtos de veículos no município.

OS RECEPTADORES
Sob encomenda – Esses criminosos estão por trás de furtos em comércios ou em residências. São eles que fazem o contato com os ladrões, que realizarão o furto, e encomendam eletrônicos, joias, roupas e outros produtos. Depois revendem esses itens, muitas vezes por meio de anúncios na internet ou até mesmo no comércio.

O traficante – É aquele que vende a droga para o usuário de crack. Em troca disso, ele recepta notebooks, celulares e outros itens de fácil circulação. Em geral, esse receptador não permanece muito tempo com os objetos furtados para não correr o risco de ser flagrado pela polícia.

O “inocente” – Além desses, há também o receptador que se julga inocente. Ele compra objetos a um baixo custo, sem verificar a procedência. Em muitos casos, adquire os itens de usuários de drogas, que batem de casa em casa tentando vender algo. “A receptação é um delito tão grave como o furto. O furto só existe porque tem quem recepte.”

Como se proteger

  • Em veículos – Reforce os dispositivos de segurança. Se o carro permanecer em via pública, uma orientação é, se possível, deixá-lo em um local onde possa ser visualizado com maior frequência.
  • Nas ruas – Não ande falando ao telefone, principalmente à noite. Uma pessoa distraída se torna um alvo fácil. Não carregue muito dinheiro. É comum a polícia receber registros em que a vítima do furto tinha deixado a senha junto com o cartão de débito. Nunca faça isso. Se for vítima de furto, bloqueie cartões de crédito imediatamente. Em restaurantes e praças de alimentação,  deixe a bolsa e celular sempre no seu campo de visão. Esteja atento em locais como paradas de ônibus. Muitas pessoas se distraem com o celular na mão e é nesse momento que os ladrões agem.
  • Em residências – Instale câmeras de segurança, com imagens de boa qualidade. “Hoje em dia a segurança não é mais só grade, cerca ou alarme. É preciso ter uma boa imagem. Isso inibe e ajuda na investigação”, alerta a delegada. Quando sair de casa, mesmo que seja por pouco tempo, não deixe portas ou janelas abertas. Nunca esconda a chave em locais óbvios (debaixo do tapete da entrada, por exemplo), nem deixe na fechadura, do lado de dentro.
  • No comércio – Fique atento a quem circula pelo estabelecimento. Instale câmeras de segurança, com boas imagens, que  ajudem a inibir a ação dos ladrões ou auxiliar no reconhecimento de criminosos.
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