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O que muda após o 7 de Setembro?

As mobilizações do dia 7 de setembro abriram uma série de interrogações sobre o futuro próximo da política brasileira. O contingente de pessoas que foi às ruas para defender Jair Bolsonaro representa um fortalecimento ou sinaliza que o apoio do presidente foi reduzido à sua base mais fiel? A possibilidade de um novo impeachment aumentou diante da postura inflamada de Bolsonaro ou diminuiu com a nota divulgada por ele dois dias depois? Ao falar em ruptura, o presidente se vale apenas de retórica ou há risco real de um golpe? E como entrará para a história esse feriado de Independência, em que os tradicionais desfiles de tanques foram substituídos por atos polarizados?

A Gazeta do Sul ouviu duas visões distintas a respeito do significado da última terça-feira e sobre o que está por vir. Para o cientista político Paulo Moura, as manifestações foram uma “demonstração de força inequívoca” do presidente e devem impedir qualquer pretensão de levar adiante um processo de afastamento no Congresso Nacional. Segundo ele, os atos representam uma virada na estratégia de Bolsonaro a partir de agora e, embora projete que a tensão com o Supremo Tribunal Federal (STF) deva se manter até a eleição, ele não acredita na possibilidade de uma ruptura democrática.

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Já o também cientista político Rudá Guedes Ricci entende que as manifestações devem levar Bolsonaro a perder apoios importantes, o que torna mais factível um impeachment e menos provável uma tentativa de golpe. “Bolsonaro revelou que não tem a força que vinha sugerindo”, disse. Confira as entrevistas completas:

“O impeachment virou uma ameaça real”

Rudá Guedes Ricci, cientista político
  • O que as manifestações indicaram no que toca ao capital político de Bolsonaro? Ele saiu fortalecido ou enfraquecido?
  • Enfraquecido. Por dois motivos: concentrou as mobilizações em São Paulo e Brasília – deixando o restante do País sem mobilizações significativas – e divulgou números irreais de participantes em cada um dos atos, o que redundou em 5% da expectativa. Também sugeriram invasão do STF e ameaças violentas que não ocorreram. Bolsonaro não soube capitalizar, seus discursos nos dois eventos foram previsíveis e ele acabou recuando no apoio à “greve” dos caminhoneiros e na convocação do Conselho da República. Agora, as ameaças de Bolsonaro lembram muito da história de Pedro e o Lobo.
  • Bolsonaro voltou a falar em “ruptura” e afirmou que não irá cumprir mais decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes. O senhor enxerga intenções reais no presidente de promover uma ruptura democrática?
  • Bolsonaro perdeu o timing. Perdeu o PSDB e, parece, o MDB e PSD. A manifestação do MBL, neste domingo, 12, foi a vez de os patrocinadores da terceira via entrarem na ciranda oposicionista. O impeachment de Bolsonaro ganhou força como reação às suas tentativas “trumpianas”. Só resta a ele continuar alimentando sua base fanática, cada vez menor.
  • Após as manifestações, pelo menos 12 partidos estão inclinados a apoiar o impeachment. Qual a possibilidade de um afastamento do presidente, na sua opinião?
  • O impeachment virou uma ameaça real, embora dependa do desembarque do Centrão do governo. Lira demonstra que há, ainda, algo a retirar do governo para oferecer às bases eleitorais dele. Assim, parece ocorrer um empate ou situação de suspense, como num filme policial em que o detetive parece estar próximo de desvelar a autoria do crime.
  • O que o 7 de Setembro representou e o que muda a partir de agora?
  • Representou a passagem do Rubicão, aquele momento em que não há mais volta. Acontece que Bolsonaro revelou que não tem a força que vinha sugerindo e rompeu a confiança que tinha com uma de suas bases mais fanáticas: os caminhoneiros. As forças militares não se engajaram nas suas aventuras e restam poucas alternativas ao seu Exército de Brancaleone.
  • Como o senhor avalia a nota divulgada por Bolsonaro na quinta-feira?
  • O recuo de Bolsonaro foi algo inusitado na história da Presidência da República. Ele se humilhou publicamente e rompeu com uma parcela importante da base social dele. Caminhoneiros e seguidores bolsonaristas postaram as frustrações e até ofensas a Bolsonaro nas redes sociais. Há quem sugira recuo tático. Afirma isso quem desconhece o jogo político. Como em política não existe espaço vazio, a terceira via tentará ocupar o espaço deixado em aberto por Bolsonaro e tentará recrutar seu espólio.

“Voltamos ao paradigma das ruas contra o establishment

Paulo Moura, cientista político
  • O que as manifestações indicaram no que toca ao capital político de Bolsonaro? Ele saiu fortalecido ou enfraquecido?
  • Saiu extremamente fortalecido. Na minha avaliação, ele praticamente reconstituiu nas ruas a base eleitoral que o elegeu em 2018. Não se pode dizer que esse público se compõe de bolsonaristas, revelando que o sentimento de mudança que começou com o impeachment continua vivo e é um ativo eleitoral precioso do presidente. Os políticos entendem esse recado. A retórica pode ser de condenar radicalismo e apaziguamento, mas dificilmente vão querer concorrer contra esse sentimento popular. O presidente deu uma demonstração de força inequívoca.
  • Bolsonaro voltou a falar em “ruptura” e afirmou que não irá cumprir mais decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes. O senhor enxerga intenções reais no presidente de promover uma ruptura democrática?
  • Bolsonaro está jogando com uma estratégia oriental. Ele tenta derrubar o adversário com a força do próprio adversário. Acho que ele não tomará nenhuma atitude radical. A retórica dele vai no sentido de tentar provocar um erro do lado de lá. E o lado de lá está fazendo a mesma coisa, tentando fazer o presidente cometer um erro. De fato, se Bolsonaro for convocado para depor no inquérito do Alexandre de Moraes no qual é investigado, acho que ele não irá. Se isso acontecer, a atitude terá que ser do STF, o presidente jogará passivamente e a crise estará instalada. A estratégia que o presidente vinha desenvolvendo até então, de formar maioria no Congresso com o Centrão para aprovar reformas, se esgotou. Voltamos ao paradigma das ruas contra o establishment e acho que vamos nesse jogo até a eleição.
  • Após as manifestações, pelo menos 12 partidos estão inclinados a apoiar o impeachment. Qual a possibilidade de um afastamento do presidente, na sua opinião?
  • Não vejo chance de prosperar um pedido de impeachment. Ninguém vai correr o risco de abrir um processo de impeachment contra o presidente no momento em que ele mobilizou essa multidão nas ruas. Esses 12 partidos não têm força para se contrapor ao governo. O governo pode não ter mais maioria para aprovar reformas, mas continua com o Centrão dentro do governo e ninguém vai desembarcar e aderir ao impeachment, a menos que o cenário mude com algum fato novo.
  • O que o 7 de Setembro representou e o que muda a partir de agora?
  • O que nós assistimos foi uma mudança qualitativa em relação ao que sempre foi o 7 de Setembro, que em geral era um desfile militar com o povo na arquibancada assistindo. E agora o que vimos foi que as famílias brasileiras, que são predominantemente conservadoras, tomaram as ruas e se apropriaram da data magna da República. No meu ponto de vista, foi uma autêntica segunda declaração da Independência, um recado ao establishment de que há algumas instituições, notadamente o Supremo Tribunal Federal e parte do Congresso, em dessintonia com a vontade do povo.
  • Como o senhor avalia a nota divulgada por Bolsonaro na quinta-feira?
  • Ao divulgar a nota, Bolsonaro teve boa receptividade no mercado e no meio político e, em um primeiro momento, muita crítica da base dele. Nesse momento, nas redes do presidente há uma divisão em dois públicos, uma parte segue criticando e outra assimilando a posição a partir da informação de que teria havido um acordo, conforme divulgado pelo site BSM, no qual Bolsonaro pararia de atacar o STF e a Corte revogaria prisões e passaria os inquéritos à PGR, aprovaria demandas do governo no STF, como questão de armas e ICMS de combustíveis, entre outras. Nada disso elimina o fato criado em 7 de Setembro. Quando (Sérgio) Moro desembarcou, houve reação parecida e depois todos os descontentes se alinharam de novo ao presidente. É preciso observar o que vai acontecer agora e se as bases do suposto acordo se confirmam em decisões do STF.

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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