A confusão entre Will Smith e Chris Rock marcou tanto a cerimônia do Oscar, que muitos provavelmente nem lembram qual foi o filme vencedor deste ano. Pois foi Coda, ou No Ritmo do Coração, sobre uma menina que é a única ouvinte numa família de surdos. Além de melhor produção, triunfou nas categorias de Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante – para Troy Kotsur, primeiro ator surdo a receber um Oscar. (Uma atriz já havia sido premiada na década de 1980, Marlee Matlin)
O que talvez poucos saibam é que No Ritmo do Coração é a refilmagem de um filme francês chamado A Família Bélier, de 2014. Ainda não vi o remake norte-americano, mas sei que é basicamente a mesma história. No original, Paula Bélier é uma jovem de 16 anos apaixonada por música, que deseja se tornar cantora e vê portas abertas para realizar o sonho. Contudo, sente-se sufocada pelos pais e pelo irmão, todos surdos-mudos, que se habituaram a depender dela para organizar o trabalho na fazenda da família.
Por ser a única ouvinte, Paula mantém os negócios funcionando. (Os fornecedores não se esforçam muito para compreender a linguagem de sinais, por exemplo.) Mas a moça tem outros planos, e surge um conflito em casa quando ela decide participar de um concurso musical. Sem ligar para a desaprovação dos pais, ela se prepara, ensaia e até participa de um show na escola, onde impressiona o público com a beleza de sua voz. Durante essa apresentação, os familiares também estão na plateia. E, como não conseguem entender a cantoria, limitam-se a acompanhar as reações e expressões dos espectadores. Sim, eles parecem ter gostado.
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De volta para casa, o pai chama Paula para perto e pede que cante, bem junto ao ouvido, a música que apresentara no show. Ela solta a voz e, em certo momento do refrão, por segundos, o rosto do homem se ilumina: é como se a beleza de tudo aquilo fosse tamanha que nenhuma limitação física poderia impedi-lo de escutar. Ou sentir alguma vibração mágica. Talvez seja isso o que A Família Bélier e No Ritmo do Coração têm a dizer: que sempre é possível comunicar algo de belo e de bom, se tivermos isso para oferecer. Hoje todos falam, quase ninguém escuta. Mas o que há para ouvir?
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