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LUÍS FERNANDO FERREIRA

O que há de singular?

“Mas existem massacres, perseguições e genocídios, e existe o Holocausto – solitário em sua terrível singularidade.”

Escrevi isso na sexta-feira passada, em texto sobre o Holocausto a partir da leitura de A Zona de Interesse, livro do britânico Martin Amis que deu origem ao filme. O que resultou numa interrogação pertinente: por quê? Qual seria o aspecto “singular” que distingue a matança dos campos nazistas de outros (muitos) crimes contra a humanidade?

Seria porque o sofrimento de judeus e outras vítimas dos campos de extermínio (pois houve milhões de mortos que não eram judeus) tem mais valor ou importância? Não. Qualquer comparação entre tormentos é descabida. Também não há que se entrar no mérito de cifras e análises estatísticas a respeito de corpos.

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O Holocausto é peculiar na forma como foi concebido e executado, no seu planejamento e viabilização tecnológica. Um morticínio em gigantesca escala industrial, feito de maneira metódica, com a adoção de técnicas e rotinas típicas da padronização industrial. Uma imensa organização burocrática e logística se fez necessária durante anos. Nisso, até onde consigo perceber, não há nada que se assemelhe.

Para usar os termos do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) no livro Modernidade e Holocausto, foi um genocídio feito “à maneira moderna”, isto é, “racional, planejada, cientificamente fundamentada, especializada, eficientemente coordenada e executada”. A serviço de um projeto de sociedade perfeita que exigia a eliminação de diversas categorias de “inferiores”.

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Décadas antes, Hannah Arendt definira os campos de concentração como “laboratórios de uma humanidade sem humanos”. Em Origens do totalitarismo (1951), ela afirmou que o prisioneiro nessas condições é o súdito ideal dos regimes que buscam controle total. “A sociedade dos que estão prestes a morrer, criada nos campos, é a única forma de sociedade em que é possível dominar o homem completamente.”

Existe risco de voltar a acontecer nesses moldes? Sempre. Basta a indiferença.

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Os civis continuam morrendo em Gaza, independentemente do nome que se dê a isso.

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