Fim de mais um ano e início de outro: é tempo de festas, amigos secretos, confraternizações, presentes, viagens, férias e também de dinheiro extra nas contas bancárias ou, em espécie, no bolso de milhões de brasileiros. Além de bônus, participação em lucros, gratificações, tem o 13º salário para o pessoal assalariado. A maioria dos beneficiários não vêm a hora de poder contar com esse dinheiro extra. Geralmente, pensam em pagar dívidas, fazer as compras de final de ano e, raramente, poupar e investir.
Em matérias de jornais ou reportagens de rádios e tvs, economistas ouvidos, presos ainda à racionalidade econômica – não levam em conta ou ignoram a economia comportamental que explica que não agimos só por razão, mas, principalmente, por emoção -, recomendam, em primeiro lugar, pagar as dívidas. Boa parte dos beneficiários só pensa nisso também. Afinal, ninguém gosta de ficar devendo. Muitas vezes, não tem jeito mesmo, a pessoa precisa liquidar pendências, às vezes vencidas há bastante tempo.
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Mas, será que as verbas extras, principalmente o 13º salário, foram instituídas para pagar dívidas? É evidente que não. Reinaldo Domingos, educador financeiro e mentor da DSOP Educação Financeira, acha compreensível e até elogiável essa disposição das pessoas em pagarem logo o que devem, mas não deixa de ser um grande erro.
Dinheiro extra não deveria ser utilizado para quitar dívidas. O correto é planejar e ter dívidas que caibam no orçamento mensal. O 13º – e outras verbas extras – é um valor a ser recebido como um presente; deveria ser poupado, investido (para render) e destinado para a realização de sonhos e objetivos, como, também, para a compra de presentes de Natal.
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Ao receber o 13º salário e outra verba extra qualquer, a pessoa deve, antes de qualquer coisa, fazer um diagnóstico de sua situação financeira. A metodologia da DSOP – Educação Financeira recomenda anotar, durante um mês – se tiver renda fixa – ou 3 meses – se a renda for variada – todos os gastos, para saber para onde está indo seu dinheiro. Mas, como as verbas extras já estão sendo pagas, as pessoas deveriam fazer essas anotações pelo menos durante alguns dias, já levando em conta o valor das despesas maiores previstas em seu orçamento ou controle, o que já permite ter uma ideia da real situação financeira. Ao mesmo tempo, fazer um levantamento das dívidas, levando em conta os encargos que elas carregam (juros mais altos, multas), prazos de vencimento, possibilidade de ter que entregar o bem ou até o corte de serviços essenciais, como a energia elétrica. A partir daí, tentar renegociar esses valores com os credores, usando, então, as verbas extras para pagar parte ou tudo o que deve.
Quem já recebeu, antecipadamente, as verbas extras de fim de ano, na empresa ou instituição onde trabalha, ou, ainda, em bancos que oferecem linhas de crédito especiais, principalmente por conta do 13º salário, não tem o que fazer. É verdade, em muitos casos, essa antecipação pode ter sido vantajosa, principalmente para quem estava endividado e pagando taxas mais altas de juros por outros tipos de empréstimos, como o cheque especial ou o rotativo do cartão de crédito. Mesmo assim, quem fez uso do recurso da antecipação ou está com contas atrasadas deve, pelo menos, fazer uma reflexão para saber porque ficou em situação de endividado ou até inadimplente. Foi por necessidade, algum imprevisto, falta de planejamento, precipitação ou consumismo? Não vale alegar que o salário é pouco porque a pessoa precisa viver de acordo com o padrão que a sua renda permite. A partir da resposta a cada um desses motivos – e outros que possam ocorrer -, comprometer-se a iniciar e fazer um ano novo diferente, com educação financeira.
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Concluindo, existem “n” maneiras de gastar ou investir o dinheiro extra de fim de ano, principalmente o 13º salário. Mas, mais importante do que seguir algumas orientações de como gastar melhor essas verbas é aproveitá-las para iniciar a construção de um futuro financeiro mais tranquilo, separando parte para os sonhos. Claro, para algumas pessoas talvez o maior sonho atual seja quitar uma dívida. Perfeito, desde que não assuma novas dívidas que não cabem em seu orçamento. Não adianta nada renegociar dívidas, talvez até com bons descontos, e, logo em seguida, fazer novas dívidas. É importante perceber que a relação com dinheiro não pode ser meramente matemática – de fato, não é! -, mas comportamental. Viver em função do dinheiro, só querendo ganhar mais para poder comprar mais coisas, é não levar em conta que o dinheiro é uma ferramenta para realizar sonhos e não o objetivo principal da vida.
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