Um caso raríssimo de diagnóstico do vírus Sars-Cov-2, que causa a Covid-19, em animais foi identificado por pesquisadores em Caxias do Sul. Tutores do felino tiveram a doença e duas semanas depois notaram sintomas respiratórios em um de seus gatos. O pet foi encaminhado para atendimento veterinário, no qual houve coleta de material para envio ao laboratório, onde um exame PCR confirmou o diagnóstico.
A informação foi confirmada pelo professor do Curso de Medicina Veterinária e coordenador do laboratório de diagnóstico em Medicina Veterinária da Universidade de Caxias do Sul (UCS) André Streck, durante entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9 nessa terça-feira, 23. O responsável pelo diagnóstico integra um projeto de pesquisa para verificar se animais de estimação, em especial felinos, podem ser infectados pelo vírus da Covid-19, além de identificar outros agentes capazes de causar problemas respiratórios.
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“Tivemos a primeira detecção nesse animal que estava mal. Os tutores tiveram a doença e o felino posteriormente apresentou problemas respiratórios, estava apático, perdeu condição corporal e foi encaminhado a veterinários da região”, disse. O pet estava abatido, apresentou uma pneumonia similar aos casos de coronavírus em seres humanos e morreu alguns dias depois. O resultado do diagnóstico obtido em 5 de março foi confirmado também com a Universidade Feevale, parceira do projeto.
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Streck revelou que já houve casos confirmados no Brasil e em outros países, e, apesar de ser algo raro, não é exclusivo. “Não é o primeiro caso no Brasil em que encontramos a presença do vírus infectando um animal”, explica. O professor enfatizou que os animais de companhia podem se infectar com Sars-Cov-2, mas até hoje não há registro de que um deles tenha passado o vírus para um ser humano ou outros bichos. “Temos que ter muito cuidado, porque os animais são as vítimas nesse caso. Eles não são os vilões.”
André Streck comentou que o caso verificado em Caxias pode ter relação com a imunidade; a gata poderia estar em queda imunitária ou ter algum fator genético ligado ao sistema imune, já que os outros dois felinos da casa não apresentaram sintomas. “A diferença é que o animal não manifesta os sintomas tão abertamente quanto os seres humanos. A pessoa vai dizer que está com falta de ar, o felino não. A gente vai ter que identificar esses sintomas nele.”
*Colaborou a jornalista Maria Regina Eichenberg.
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Cuidados com os pets
De acordo com André Streck, como os casos são raros, ainda não há estudos que confirmem quais os procedimentos necessários para proteger os animais domésticos da Covid-19. No entanto, o pesquisador orienta que, se os tutores positivarem para a doença, devem adotar com os pets os mesmos cuidados tomados com os outros seres humanos.
“Devemos evitar o contato com eles quando estamos doentes, utilizar máscara quando chegar perto. Quando for manusear o animal, os alimentos ou utensílios deles, ter precauções de lavar bem as mãos antes e depois do manuseio”, indica.
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Outras precauções incluem evitar o contato próximo com o bichinho. Recomenda-se não colocar o cão ou gato no colo e impedir que ele transite pelos ambientes mais íntimos, como o quarto e a cama, além de impedir contatos como beijos. São medidas que podem reduzir a possibilidade de contágio dos animais.
De olho
Como os felinos são predadores, eles tentam esconder os sintomas para não demonstrar fragilidade excessiva no meio em que estão inseridos. Porém, conforme o professor, somente com mais casos seria possível identificar os sinais. “Não podemos relacionar a presença do vírus no animal com a doença. Essa relação direta nós não conseguimos fazer. Pode haver outros agentes, como vírus e bactérias, produzindo sinais clínicos muito similares. Precisamos ter cuidado ao dizer que o animal teve a doença, isso não sabemos até o momento.”
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Sobre vacinas contra o vírus para os animais, Streck diz que não existem imunizantes voltados a eles e não há necessidade, porque, devido à raridade, o caso não deve se repetir tão cedo. A orientação aos proprietários é que monitorem sintomas dos animais e, a qualquer sinal de alteração, consultem o seu médico-veterinário. No entanto, jamais devem tentar, por exemplo, fazer alguma medicação inadequada nos pets, como usar cloroquina ou ivermectina.
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