Após um longo período de calmaria, a política santa-cruzense viveu momentos conturbados nos últimos meses. Da reviravolta na eleição da presidência da Câmara de Vereadores em dezembro à guerra entre Telmo Kirst (PP) e a família Hermany deflagrada no mês passado, os movimentos abalaram as estruturas do poder local e deram novas perspectivas ao pleito do ano que vem.
O ápice da crise foi a expulsão da vice-prefeita Helena Hermany (PP) de seu gabinete, que selou o rompimento de Telmo com o PP. O episódio, porém, se deu em meio a um cenário de tensão entre o prefeito e outros setores da base aliada (como o MDB) e de desalinhos internos em diversos partidos, como o PT.
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Tudo isso deve ser decisivo no cenário da disputa pela sucessão de Telmo no ano que vem. Além de migrações de líderes entre legendas, a tendência é que a relação de forças entre partidos se altere, com siglas hoje pouco expressivas ganhando peso no xadrez político enquanto outras devem se enfraquecer.
A lista de possíveis candidatos a prefeito também ganhou novos nomes – Helena, por exemplo, que até então estava fora do páreo, passou a ser contabilizada como uma possibilidade forte. No radar das legendas estão ainda as novas regras eleitorais, incluindo o fim das coligações partidárias para a eleição da Câmara de Vereadores. Confira o que está em jogo neste momento da política municipal.
As tendências
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Helena vira possibilidade na corrida eleitoral
O rompimento de Telmo com o PP confirmou uma tendência que vinha se materializando desde o ano passado e que irá repercutir no cenário eleitoral do ano que vem. Além do indicativo de que o candidato apoiado por Telmo não será do PP, a briga com Helena colocou a vice-prefeita, até então não considerada para a disputa, como um nome forte para concorrer.
A avaliação no meio político é de que Helena faturou com a briga. “Ela se consolidou como uma força política independente. Só não concorre se não quiser”, analisa um progressista. Apesar disso, o nome de Henrique Hermany não é carta fora do baralho.
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O afastamento de Telmo também abriu caminho para algo antes considerado impossível: uma aproximação entre PP e PTB. Embora não haja nenhum movimento oficial nesse sentido, a possibilidade entrou no radar diante da conjuntura.
“Existem diferenças, mas o que distanciou o PP do PTB foi só a briga pessoal de Telmo Kirst e Sérgio Moraes”, observou outro integrante do PP. O PTB, que não tem planos de abrir mão de encabeçar uma chapa, tem no vereador Mathias Bertram o nome considerado mais forte. A família Moraes, que dominou o partido nos últimos anos, não deve participar do pleito pela primeira vez em mais de uma década.
Em contrapartida, a expectativa é que o candidato de Telmo venha de fora das siglas tradicionais. O nome mais citado é o do secretário de Saúde Régis de Oliveira Júnior, principal aliado do prefeito hoje. No entanto, o secretário nega qualquer possibilidade de concorrer.
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Em outras frentes, Alex Knak (MDB) e Fabiano Dupont (PSB) estão decididos a levar suas candidaturas adiante, mesmo que não consigam coligações fortes. Partidos como PDT, PT e PSDB também ensaiam candidaturas próprias. Outra novidade pode ser a participação do Partido Novo, que teve um bom desempenho nas eleições de 2018.
Câmara à espera de uma revoada
Já é consenso que a Câmara assistirá a um troca-troca de partidos sem precedentes no ano que vem. Isso deve ocorrer entre março e abril, no período de 30 dias conhecido como “janela partidária”, quando a legislação eleitoral permite que parlamentares troquem de legenda sem perder o mandato. Segundo cálculos feitos nos bastidores do Legislativo, a “revoada” pode atingir mais da metade dos 17 atuais vereadores, como consequência da crise na base governista e de desalinhos internos nas legendas.
Três vereadores já confirmaram publicamente a decisão de migrar, incluindo Francisco Carlos Smidt (PTB) e Alceu Crestani (PSDB), que estão desgastados com seus partidos desde 2016. Outro é Elo Schneiders (SD), que é vereador titular mas atualmente ocupa o cargo de secretário de Agricultura e está insatisfeito com os rumos tomados pela própria legenda.As bancadas do PT e do PTB também devem sofrer baixas.
Os dois vereadores petistas, Paulo Lersch e Ari Thessing, estão sob fogo cruzado no partido. No ano passado, eles foram acusados por um grupo de petistas de descumprirem diretrizes partidárias em votações na Câmara e correm até risco de expulsão. No PTB, embora a direção venha buscando uma reaproximação com os vereadores, não é descartada a possibilidade de nomes como Luís Ruas e Bruna Molz deixarem a sigla. As trocas podem ainda atingir partidos como SD e Progressistas.
Em alta e em baixa
Os movimentos políticos esperados para os próximos meses devem alterar a divisão de forças entre os partidos em Santa Cruz. De um lado, siglas hoje pouco expressivas tendem a crescer e podem chegar à eleição com chances de conquistar representação na Câmara. É o caso do DEM e do PRB, que vêm se expandindo graças a articulações capitaneadas por Telmo nos últimos meses.
Outro caso é o PL (antigo PR), que pode ser o destino de alguns vereadores que planejam trocar de legenda no ano que vem. Já outras legendas tendem a chegar ao pleito mais enfraquecidas em razão da debandada de quadros. Uma delas é o SD, que hoje tem duas cadeiras na Câmara.
Novas regras eleitorais
Os partidos também estão atentos às novas regras eleitorais, que entram em vigor no pleito do ano que vem. A principal delas é o fim das coligações partidárias na eleição para a Câmara. Isso significa que os partidos não poderão mais tomar carona com outros para conquistar cadeiras na Câmara e dependerão apenas de seus próprios votos.
Até então, as alianças para a a Câmara sempre foram determinantes nas negociações pré-eleitorais. O PDT, por exemplo, que é o maior partido do município em número de filiados, só conseguiu eleger vereador em 2016 graças à coligação com o MDB. A tendência é que a mudança beneficie os partidos maiores e seja fatal para os nanicos.
Outras mudanças
Cláusula de barreira
Ao todo, 14 partidos que não atingiram o índice mínimo de votos válidos e nem elegeram deputados federais em número suficiente em 2018 ficarão sem acesso ao fundo partidário e sem tempo de propaganda gratuita no rádio e TV a partir do ano que vem. A cláusula atingiu, por exemplo, o PSTU, que lançou candidatos a prefeito nas três últimas eleições. Também estão lista partidos pequenos que apoiaram outras candidaturas majoritárias em 2016, como Rede Sustentabilidade, PHS, PCdoB, PMB e PMN. Isso deve influenciar nas negociações de alianças.
Sobras
As chamadas sobras referem-se às vagas de vereador que não são preenchidas pelo cálculo do quociente eleitoral. Pela regra atual, apenas os partidos que conquistaram vagas com o quociente disputam as sobras. Com a mudança, todos os partidos vão poder disputar. Isso vai beneficiar candidatos com votações individuais expressivas, mas que concorrem por partidos pequenos.
Futuro de Telmo é incerto
Outra dúvida que paira sobre o ambiente político é quanto ao futuro do prefeito Telmo. Embora não tenha dado nenhuma sinalização oficial nesse sentido, aliados e observadores da cena política consideram insustentável a sua permanência no PP, partido no qual esteve durante praticamente toda a carreira, e consideram que sua desfiliação é apenas questão de tempo.
Essa possibilidade ganhou força após Telmo ser censurado publicamente pelo presidente estadual progressista, Celso Bernardi, por conta da briga com Helena Hermany. Na ocasião, Telmo chegou a trocar farpas pela imprensa com Bernardi. Integrantes do PP não descartam que Telmo permaneça na sigla, mas atue para formar um candidato a sucessão em outra legenda. A legislação eleitoral impede que Telmo concorra a um terceiro mandato consecutivo.
O PASSO A PASSO DA CONVULSÃO POLÍTICA
Maio de 2018
Telmo começa a articular pessoalmente a transferência de integrantes de peso do PP para outros partidos. Manobra é encarada como uma forma de esvaziar o partido e um indicativo de que o prefeito pretende formar o sucessor fora do ninho progressista.
18 de dezembro
Movimento arquitetado por Telmo sepulta acordo que havia sido firmado na base governista na Câmara e elege Bruna Molz (PTB) presidente. O acordo previa que o candidato fosse Alex Knak (MDB), que acabou praticamente isolado. Situação desgasta a base e abala relação de Telmo com MDB e PP.
28 de fevereiro
Henrique Hermany pede demissão do cargo de secretário municipal de Segurança. Embora ele negue mágoas com Telmo Kirst, sua saída escancara a crise na relação do prefeito com os progressistas.
8 de março
Em reação a dissidências na votação de um veto de Telmo ao projeto de lei que instituía o IPTU Verde no município, prefeito demite servidores indicados por vereadores do PP, MDB e PDT.
13 de março
Diante do desgaste crescente na relação com o Palacinho, o MDB decide desembarcar do governo. Afastamento sepulta chances de Telmo vir a apoiar uma eventual candidatura do vereador Alex Knak a prefeito no ano que vem.
20 de março
Um dia depois de ser afastada do cargo de secretária municipal de Habitação, a vice-prefeita Helena Hermany (PP) vai ao Ministério Público denunciar que fora expulsa de seu próprio gabinete por determinação do prefeito. Episódio convulsiona o universo político e gera um inquérito contra Telmo.
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